A disputa do segundo turno pela Prefeitura de Fortaleza apresenta os ingredientes básicos que opõem o bolsonarismo e a esquerda. De um lado; Capitão Wagner (Pros), deputado federal alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido); de outro Sarto (PDT), apadrinhado pelos irmãos Ferreira Gomes para garantir a continuidade do grupo político na cidade.
Apesar de um embate local, com discussões a respeito dos problemas do município, de certa forma a campanha na capital cearense ganhou contornos nacionais. Não seria estranho pensar que poderia se tratar de uma corrida pela presidência da República. Ainda mais porque acabou envolvendo dois personagens que estiveram um contra o outro em 2018: Bolsonaro e Ciro Gomes.
Discretamente, Bolsonaro entrou na campanha de Capitão Wagner. Nas “lives eleitorais”, nas quais pedia votos para determinados candidatos a prefeito e vereador de todo o Brasil, o presidente não esqueceu seu preferido em Fortaleza. Em publicação no Facebook na véspera do primeiro turno, ele reiterou o apoio – no dia da eleição, Bolsonaro apagou a postagem com uma relação de postulantes em algumas cidades brasileiras.
“Acho que o Capitão está dando certo na Presidência. Que tal um Capitão em Fortaleza aí? Lá em Fortaleza certamente haverá segundo turno. O Capitão Wagner está na política há muito tempo. Você pode ter certeza: uma vez eleito prefeito em Fortaleza [haverá] uma linha direta com o governo federal. Isso é muito bom para a capital do Ceará. Então é Wagner para a Prefeitura de Fortaleza”, disse Bolsonaro durante uma live em 5 de novembro.
Apesar de reconhecer a importância do apoio do presidente, Capitão Wagner preferiu deixá-lo em segundo plano, por conta da falta de popularidade de Bolsonaro na capital cearense. Ao mesmo tempo, porém, tem buscado falar com o eleitor que tem afinidade a temas ligados ao bolsonarismo, como combate à corrupção, segurança pública e família. Foi assim que se aproximou de grupos conservadores e lideranças evangélicas.
“Eu sou de um tempo em que só entrava em sala de aula a partir do momento que orasse um Pai Nosso, que é a oração universal que Deus nos ensinou. Todas as sextas-feiras nos reunimos para que o Pavilhão Nacional fosse hasteado, para que os alunos cantassem o hino nacional. Esses valores estão sendo perdidos ao longo do tempo”, disse o concorrente à prefeitura em uma live no Facebook na véspera do primeiro turno, ao lado de candidatos a vereador e deputados estaduais ligados à igreja evangélica.
Não por acaso o candidato do Pros buscou assentar um arco de alianças com partidos alinhados à direita e ao conservadorismo. Na chapa dele estão Republicanos, Podemos, Avante, PSC, PMN, PMB, PTC e DC.
Candidato do PDT se coloca como antiBolsonaro
A ida de Sarto para o segundo turno mostra que os irmãos Ferreira Gomes ainda mantêm influência nos rumos políticos do Ceará e de Fortaleza. Nos bastidores, Cid e Ciro Gomes replicaram a mesma estratégia de 2012, quando levaram Roberto Cláudio (PDT) à prefeitura da capital. Na época ele era presidente da Assembleia Legislativa do estado. É o caso de Sarto, hoje no cargo máximo do Legislativo cearense.
Ao longo da campanha, Ciro Gomes não apareceu tanto. Mas o discurso anti-Bolsonaro ecoou. Aliás, colocar-se contra o governo Bolsonaro foi uma estratégia utilizada para polarizar a disputa e se aproveitar do baixa popularidade do presidente na cidade – em 2018, Ciro foi o candidato presidencial mais votado em Fortaleza, com 40,13% dos votos no primeiro turno, à frente Bolsonaro e Fernando Haddad (PT).
Nas redes sociais, quando se pronunciava em relação à disputa em Fortaleza, Ciro Gomes fazia questão de opor Sarto a Capitão Wagner citando Bolsonaro. “Agora é hora de todos e todas lutarmos por Fortaleza e contra o ódio de Bolsonaro”, escreveu no último domingo (15). “Bolsonaro ganhar em Fortaleza? Só se esta não fosse a cidade mais politizada do Brasil! Fora Bolsonaro e leva teus milicianos junto!”, bradou no dia anterior.
Sarto passou para o segundo turno como o mais votado, invertendo as pesquisas no início de campanha, quando aparecia atrás de Capitão Wagner e de Luizianne Lins (PT). Ele teve 35,72% dos votos válidos, enquanto o adversário direto somou 33,32%.
E, logo na largada do segundo turno, ao lado de lideranças do PT – que decidiu apoiá-lo –, Sarto partiu para o ataque da mesma forma que Ciro. “A minha campanha é da paz, da tranquilidade. Mas é muito dura contra isso que está posto do projeto [de Capitão Wagner] que chegou ao segundo turno. Para mim é claro, é mais do que evidente, que este projeto proposto pelo meu adversário é violento, é excludente, que replica o que está acontecendo com o governo Bolsonaro. É um projeto genocida”, afirmou o candidato do PDT.
A eleição de Sarto significaria a continuidade dos Ferreira Gomes no poder no Ceará e também mais uma derrota de Bolsonaro nessa eleição, já que a maior parte dos candidatos que ele apoiou fracassou nas urnas. Nas sete capitais onde Bolsonaro pediu voto, ainda estão no páreo, apenas, Capitão Wagner, em Fortaleza, e Marcelo Crivella (Republicanos) no Rio de Janeiro.
Justiça do Trabalho desafia STF e manda aplicativos contratarem trabalhadores
Parlamento da Coreia do Sul tem tumulto após votação contra lei marcial decretada pelo presidente
Correios adotam “medidas urgentes” para evitar “insolvência” após prejuízo recorde
Milei divulga ranking que mostra peso argentino como “melhor moeda do mundo” e real como a pior
Auxílio Brasil: PT quer pagar benefícios sociais somente para quem se vacinar
Gestão da pandemia e retomada econômica: os desafios de Bruno Covas em São Paulo
DEM e PSDB esboçam 3ª via contra Bolsonaro e a esquerda em 2022
Eduardo Paes vai assumir o Rio com menos dinheiro e mais problemas. Veja os desafios
Deixe sua opinião