A apuração dos votos da eleição municipal em todo o país foi marcada pela falha em um supercomputador do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que gerou atraso na divulgação dos dados – algo inédito desde a adoção da urna eletrônica, em 1996. Para o segundo turno, que será realizado no próximo domingo (29), o TSE garante que o problema não vai se repetir.
Depois da realização de testes, segundo nota divulgada pelo TSE (veja a íntegra abaixo), "a avaliação da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE é de que o sistema está devidamente preparado para a realização exitosa do segundo turno".
O atraso de aproximadamente duas horas e trinta minutos na divulgação dos resultados do primeiro turno, segundo o TSE, foi ocasionado por um recurso de inteligência artificial existente em um otimizador do banco de dados Oracle, que garante a velocidade no processamento das informações.
A Justiça Eleitoral, porém, não espera encontrar nenhum problema na totalização e divulgação dos votos no próximo domingo (29).
“Equipes técnicas do TSE e da Oracle entendem que a falha no plano de execução no primeiro turno não se repetirá no segundo turno, em 29 de novembro, tendo em vista que o otimizador já está calibrado para processar um volume maior de informações de forma célere”, garante o TSE.
Mesmo assim, a Justiça Eleitoral afirma que, até o dia 29 de novembro, “toda a equipe está focada na definição de providências para evitar incidente semelhante na apuração e totalização dos resultados do segundo turno”.
Apuração dos votos mudou em 2020
A falha no supercomputador do TSE é apenas parte da explicação para a demora na divulgação dos resultados no último dia 15 de novembro. Também contribui para o atraso a mudança na maneira de totalização dos votos, implementada pelo TSE pela primeira vez em 2020. Até 2018, cada um dos Tribunais Regionais Eleitorais computava os votos em seu estado e enviava o resultado ao TSE. Nesta eleição, o TSE centralizou a contagem.
"Preciso dizer que desde o primeiro momento eu não tive simpatia por essa opção, mas era a opção estabelecida e foi ela que eu segui. E muito possivelmente, por ser uma novidade, pode estar na origem da instabilidade que nós sofremos", disse o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, em uma coletiva de imprensa na noite do primeiro turno.
A mudança, segundo Barroso, foi sugerida pela Polícia Federal. "A centralização foi uma recomendação da perícia da Polícia Federal em nome de se prover maior segurança à totalização. Então é até possível que a centralização tenha sido a causa dessa lentidão. Mas foi uma decisão técnica, decorrente de uma recomendação da Polícia Federal", argumentou.
Ainda de acordo com o ministro, o retorno ao sistema antigo custaria, ao menos, R$ 100 milhões ao Tribunal. Barroso afirmou, ainda, que a proximidade entre o primeiro e o segundo turno – as duas etapas do pleito ocorrem no intervalo de apenas duas semanas – inviabiliza qualquer tentativa do órgão em voltar a descentralizar a apuração aos TREs.
TSE reforçou protocolos de segurança após tentativa de ataque hacker
A demora na apuração não foi o único problema do TSE no primeiro turno. Também foi identificada uma tentativa de ataque hacker ao sistema do TSE, para derrubar o site do órgão, às 10h41 do dia 15 de novembro, segundo Barroso. O ataque, explicou ele, não foi bem sucedido.
Houve, ainda, o vazamento de dados de servidores do TSE, por volta das 9h25 do domingo da eleição, que foi consequência de um ataque hacker que ocorreu em uma data ainda não identificada – mas anterior a 23 de outubro deste ano.
Barroso garantiu que a tentativa de derrubar o site do TSE não tem relação com a demora na divulgação dos resultados. A Polícia Federal, de todo modo, investiga os ataques e pode chegar a novas conclusões. Poucos dias após o primeiro turno, um hacker português assumiu a autoria da ação.
Técnicos do TSE afirmam que já tomaram medidas para reforçar a segurança do sistema e, assim, deixá-lo mais protegido contra ataques desse tipo.
Alegações de fraude foram rechaçadas pelo TSE
Os eventos do dia 15 levaram perfis bolsonaristas e de outros políticos – que já questionavam a urna eletrônica muito antes das eleições de 2020 – a passarem todo o dia do primeiro turno divulgando mensagens apontando supostas fraudes eleitorais e falta de credibilidade do TSE. Também houve uma defesa do voto impresso por parte desses políticos.
Segundo a Folha de S. Paulo, uma investigação da SaferNet, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal no monitoramento de fraudes eleitorais, aponta que os ataques hackers sofridos pelo TSE foram uma “operação coordenada” para “desacreditar a Justiça Eleitoral”.
Mas, de acordo com Barroso, o atraso de “algumas horas” não prejudica a credibilidade da Justiça Eleitoral no país. O ministro ressaltou que nunca houve comprovação de fraude eleitoral desde a adoção das urnas eletrônicas, em 1996. “Fraude havia no sistema de cédulas”, afirmou o presidente do TSE.
TSE pensa em melhorias para o futuro
Barroso já admitiu, no entanto, que "tudo nessa vida pode ser aperfeiçoado ao longo do tempo". Nesse sentido, ao ser questionado sobre quais aperfeiçoamentos devem ser feitos, o presidente do TSE citou o projeto "Eleições do futuro", que testam novas formas de votação eletrônica, e a própria superação do problema técnico enfrentando na totalização dos votos.
"Hoje (domingo, 15), por exemplo, tivemos problema que produziu atraso, não é grave mas produziu problema e, portanto, acho que pode ser aperfeiçoado, e além disso temos Eleições do Futuro, que pode apresentar alternativa mais eficiente", disse.
Veja a nota divulgada pelo TSE a respeito do segundo turno:
"O Tribunal Superior Eleitoral informa que, nos últimos dias, foram realizados testes adicionais no computador e nos sistemas que realizam a totalização (soma) de votos e divulgação de resultados de todo o país. A avaliação da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE é de que o sistema está devidamente preparado para a realização exitosa do segundo turno.
Entre as ações realizadas nos dias 24/11 e 25/11, os testes tiveram a participação de cartórios eleitorais de 24 estados brasileiros. O objetivo foi validar a performance e a eficácia dos sistemas de transmissão e recebimento de arquivos de urna, bem como de totalização e de divulgação de resultados.
O Tribunal Superior Eleitoral reitera o compromisso com a transparência e com a segurança do processo eleitoral brasileiro."
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