A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai apresentar nos próximos dias uma carta com compromissos voltados aos eleitores evangélicos. Até então, o candidato petista resistia a divulgar cartas a setores específicos do eleitorado, sob o argumento de que os oitos anos em que já foi presidente da República falam por si, mas foi convencido que a sinalização aos evangélicos pode atrair votos importantes neste segundo turno.
O texto vem sendo costurado pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) e pretende trazer temas como políticas contra a legalização das drogas e do aborto, além reiterar o desmentido de que, se eleito, Lula irá fechar igrejas.
"Qualquer candidato tem de olhar para o evangélico. Hoje tem 30%, 35% do segmento [do eleitorado]. Não dá para governar sem pensar nos evangélicos. E Lula se compromete nessa carta que está sendo construída para todo Brasil”, disse a senadora em entrevista à GloboNews.
O objetivo, segundo integrantes da campanha, é tentar sinalizar que o eventual governo Lula pretende contar com os evangélicos para discutir políticas públicas em diversas áreas. A previsão é de que o texto faça uma citação especial aos trabalhos das igrejas na prevenção às drogas e que Lula terá o compromisso de fortalecer as comunidades terapêuticas.
Além da senadora Eliziane Gama, que é filha de pastor e integrante da Assembleia de Deus, a carta de Lula aos evangélicos vem sendo redigida por aliados como o deputado André Janones (Avante-MG), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa do ex-presidente. Janones e Marina também são evangélicos. Essas lideranças e pastores que apoiam o PT foram os responsáveis por convencer Lula a fazer o gesto aos evangélicos nos moldes da carta aos brasileiros, que foi redigida por ele em 2002 e que tinha como foco a economia.
"Para essas coisas, a gente não precisa ficar fazendo carta, senão eu vou fazer carta para 500 setores da sociedade", chegou a sinalizar Lula na semana passada durante uma agenda em Minas Gerais. Agora, no entanto, líderes do PT afirmam que o petista foi convencido de que o gesto seria importante para reforçar os acenos ao segmento religioso. A expectativa é de que o lançamento ocorra no sábado (15), em São Paulo, durante um ato com lideranças evangélicas.
Campanha de Lula investe em atos em reduto evangélico
Reduto da família do presidente Jair Bolsonaro (PL), o Rio de Janeiro também entrou nos cálculos da campanha de Lula para tentar atrair os evangélicos neste segundo turno. O petista esteve na cidade na terça-feira (11) para um evento com líderes religiosos.
A agenda foi organizada pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho (União Brasil), tido como um dos principais reforços da campanha de Lula para o estado de Bolsonaro neste segundo turno. De acordo com membros da campanha, a região da Baixada Fluminense concentra boa parte do eleitorado evangélico do Rio de Janeiro e será a mais cortejada por Lula nas agendas do estado.
Além de Waguinho, a campanha de Lula também conta com o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), que assumiu a articulação deste segundo turno na cidade. A avaliação de integrantes do PT é de que com o apoio de Paes a campanha de Lula vai conseguir penetração em igrejas de regiões da zona Oeste da capital fluminense, onde no primeiro turno o presidente Bolsonaro teve um desempenho melhor do que o do petista.
Horário eleitoral de Lula vai reforçar compromissos com os evangélicos
Paralelamente, a campanha de Lula pretende dedicar parte das inserções da propaganda eleitoral deste segundo turno para reforçar os compromissos com os evangélicos. Na semana passada, por exemplo, o petista usou o seu programa para se posicionar contra o aborto. "Acho que quase todo mundo é contra o aborto. Não só por que nós somos defensores da vida, mas porque deve ser uma coisa muito desagradável e muito dolorosa alguém fazer um aborto", disse Lula na inserção publicitária.
A fala marca uma mudança em relação ao discurso de Lula durante a pré-campanha, quando ele afirmou que o aborto era questão de saúde pública. "Aqui no Brasil não faz porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha [de fazer aborto]", disse Lula em abril deste ano.
Agora, na propaganda eleitoral, Lula também tem falado sobre valores familiares e liberdade religiosa. Numa inserção, afirmou que sempre respeitou as famílias. E também se dirigiu aos religiosos: "Quando presidente, sancionei leis como a de liberdade religiosa, a criação do Dia Nacional do Evangélico e a do Dia Nacional da Marcha para Jesus".
O objetivo da campanha é mostrar, que quando era presidente, Lula reforçou a legislação visando a garantia da liberdade religiosa em todo o país. O petista sancionou a lei da Liberdade Religiosa em 2003, a Marcha para Jesus em 2009, e o Dia Nacional do Evangélico em 2010.
De acordo com membros do PT, os acenos de Lula para os evangélicos serão determinantes para vencer a disputa eleitoral neste segundo turno. Na avaliação desses aliados, a resistência de Lula em fazer esse movimento ainda no primeiro turno fez com que o candidato petista perdesse espaço para Bolsonaro dentre os evangélicos. No entanto, eles acreditam que agora podem reduzir a vantagem do atual presidente através da aproximação por meio dos acenos sobre os valores cristãos.
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