O economista Abraham Weintraub (Brasil 35), ex-ministro da Educação (MEC) do governo Jair Bolsonaro, renunciou nesta sexta-feira (29) ao cargo de diretor-executivo do Banco Mundial e diz estar pronto para retornar ao Brasil. O objetivo: sair candidato ao governo de São Paulo. Com recentes manifestações e posicionamentos críticos ao governo e ao presidente da República, ele se sente pronto e convencido de que pode superar até mesmo o pré-candidato governista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura.
Em entrevista exclusiva de mais de uma hora à Gazeta do Povo, Weintraub fala sobre seu desejo de transformar São Paulo no "Texas brasileiro". Para isso, apresenta ideias de agendas econômicas e da segurança pública. O ex-ministro não poupa críticas a Tarcísio e a outros pré-candidatos ao governo paulista, como o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
O ex-titular do MEC não alivia críticas e acusações ao governo federal e ao Centrão. Para ele, as suspeitas de irregularidades no Ministério da Educação são indícios de corrupção. "O que está saindo do MEC tem rabo de porco, focinho de porco, pele de porco, orelha de porco e, se não é porco, é feijoada", ironiza. Weintraub afirma, ainda, que não recebeu o convite do Senado para falar na Comissão de Educação. Um requerimento foi aprovado por senadores nesta semana.
O pré-candidato ao governo de São Paulo assegura que seu posicionamento crítico ao governo reflete única e exclusivamente seus valores, os quais ele define como inegociáveis. Para ele, é um pilar que o alça ao posto de "líder da direita" e dos conservadores que, no entendimento dele, Bolsonaro deixou de ser. "Eu acho que já sou", afirma.
Confira a entrevista completa abaixo:
O que deseja o senhor e seu irmão Arthur Weintraub com as recentes manifestações e posicionamentos críticos ao governo Bolsonaro?
Weintraub: É difícil das pessoas acreditarem, mas eu e o Arthur somos realmente pessoas que acreditam em Deus, a gente tem uma religiosidade forte. Não que vá lá, fique ajoelhado, faça “ceninha”, comunista que vai receber a comunhão à véspera de eleição, a gente não faz isso. Mas a gente realmente acredita em Deus. E uma das coisas importantes é falar a verdade, e a gente está falando a verdade. A gente está simplesmente falando a verdade por um desencargo de consciência e buscando que, basicamente, todo ser humano deveria buscar sempre: a redenção.
O que está acontecendo é uma imensa mentira que foi contada. O presidente Bolsonaro foi eleito com uma pauta, uma agenda. Eu acho que ele no seu interior mesmo, na sua pessoa, até gostaria de fazer diferente, mas, por razões pessoais dele, familiares, os filhos, não todos, mas alguns dos filhos, ele acabou sendo capturado pelo Centrão. Ele hoje é refém, está sendo chantageado, e não estou eximindo ele de culpa, não. É como se fosse aquele refém que acaba passando para o lado do sequestrador, entendeu? Se chama síndrome de Estocolmo.
Nesse sentido, ele está colocando em risco o futuro de milhões e milhões de pessoas. E o nosso papel inicialmente é alertar, simplesmente falar. Olha o que está acontecendo, vamos vender o porto de Santos para a China. A China pode comprar do Brasil, mas a China não pode comprar o Brasil.
O que está ocorrendo no Porto de Santos?
Weintraub: O que está acontecendo é grave, não é pouca coisa. Foi vendido pelo [ex-ministro] Tarcísio e no edital do leilão você poderia fazer um monte de ressalvas para evitar o desfecho da forma como foi. Hoje, a China tem a joia da coroa, que é o Porto de Santos [a Cofco International, gigante chinesa de alimentos, arrematou o terminal para granéis vegetais]. E não é a única coisa, muita coisa [aconteceu] nos últimos três anos, ao contrário do que foi prometido e ao contrário do que foi dito. E isso acontece a partir, principalmente, da entrada do general [Luiz Eduardo] Ramos [como ministro-chefe da Secretaria de Governo].
Se você for atrás, você vai ver que o general Ramos é muito próximo da China. Nos últimos anos, se aproximou muito da China, a ponto de ele fazer um discurso, veja no YouTube, na embaixada da China, ele fala com a bandeira da China atrás, fala de que não existe futuro para o Brasil se não estiver alinhado com a China. E tudo isso está sendo feito. O secretário-executivo do Tarcísio é genro do Ramos.
O atual ministro [da Infraestrutura] que substituiu o Tarcísio é esse genro do Ramos, e o Ramos é muito próximo da China. Antes do leilão do Porto de Santos, Tarcísio foi conversar com aquele antigo embaixador da China [Yang Wanming] super agressivo, que conseguiu fazer o que queria. Foi para a Argentina e participou da construção do atual governo argentino.
Foi para o Chile e conseguiu fazer peso para que ganhasse a esquerda. E agora, fez o que precisava fazer no Brasil, saiu, missão cumprida. O que acontece, primeiro, o Tarcísio vai lá e fala com ele. Depois, o Tarcísio vai falar com o [ex-presidente] Michel Temer, antes do leilão. Porque, dizem as más línguas, o Michel Temer é uma pessoa com fortes influências no Porto de Santos nos últimos 30 anos. Isso é uma das frentes que posso contar, posso contar várias outras frentes de pautas que foram abandonadas.
Quais outras frentes e pautas o senhor elencaria?
Weintraub: Das privatizações que foram abandonadas, passando pela TV Lula [uma referência à EBC]. Lembra da TV Brasil? Não somente não acabaram como aumentaram o orçamento, e você está liberando recursos vultosos para as televisões e revistas que, no passado, atacavam o governo e pararam de atacar depois que o Fábio Faria, que é do Centrão, foi para o Ministério das Comunicações. Não sei se você reparou, mas diminuíram muito os ataques.
O professor Olavo de Carvalho descreveu o “Teatro das Tesouras”. O que era o Teatro das Tesouras? Você tinha o PT e o PSDB. Qualquer coisa que surgisse mais à direita do PSDB era destroçado, era cassado. O Alckmin era de direita e, hoje, está abraçado com o Lula e agora até cantou [o hino da] Internacional Comunista. Ok, caiu a máscara do PSDB. Agora, quando capturam o presidente Bolsonaro, eles recriaram o Teatro das Tesouras. Todo mundo que está defendendo as pautas de 2017 e 2018 está sendo caçado e massacrado. Combate à corrupção, cadê? Acabou, está cheio de gente acusada de corrupção no governo Bolsonaro.
E olha o que está aparecendo e já apareceu só no MEC... Aí falam: “Ah, mas não tem prova”. Tudo bem, eu não sou do Ministério Público, nem da Polícia Federal, mas posso falar. O que está saindo do MEC tem rabo de porco, focinho de porco, pele de porco, orelha de porco e, se não é porco, é feijoada.
Então, o que a gente está fazendo é resgatar a pauta e falar a verdade. O que sobrou é uma meia dúzia de gatos pingados que têm coragem de enfrentar o sistema, porque quem enfrenta é massacrado.
Sobre o MEC, o Senado aprovou um requerimento para convidá-lo à Comissão de Educação. O senhor irá?
Weintraub: Eu ouvi falar disso, mas eu ainda não recebi nada.
Chegando o convite do Senado, o senhor iria?
Weintraub: Depende dos termos. Quais são os termos? Eu tenho que poder falar. Não quero ficar escutando aquela voz horrorosa do Randolfe Rodrigues [líder da oposição] gritando com aquela vozinha dele. Eu tenho nojo. Randolfe, Renan [Calheiros], Omar Aziz, [Fabiano] Contarato... Meu Deus do céu.
Depende deles fazer um convite de uma forma educada, porque não podem mais convocar. Eu não estou sendo acusado de nada, não tenho uma mácula, zero. Como ministro eu era convocado, fui o cara que mais vezes foi na história da República ao Congresso. Então assim, eles têm que mandar um convite educado e com os termos que eu vou falar. Se for para palhaçada eu não vou.
Nenhum advogado do senhor ou representante recebeu qualquer tipo de ofício?
Weintraub: Nada, é só bravata, é só bravateiro. Esses dois caras, Contarato e Randolfe, teve uma vez que eu fui lá, logo no começo. Eles falaram: “ah, a compra dos notebooks”. Eu falei: “bicho, nesse contrato, que está esquisito, meu nome só entrou para cancelar o contrato, começou na gestão anterior, eu não tenho nada a ver com esse contrato, está cancelado e eu gostaria, sim, que ele fosse investigado, vamos investigar, me ajuda”.
Esse [processo sobre supostas irregularidades em compras de equipamentos educacionais] é um dos que encaminhei [para o Ministério Público e a Polícia Federal]. Não tenho o menor apreço e pode escrever isso: eu desprezo profundamente o Randolfe, o Renan Calheiros e o Omar Aziz. Agora, se mandarem um convite nos meus termos, negociando os termos com os quais eu falaria, eu topo.
Que termos seriam esses?
Weintraub: Não pode gritar e nem me interromper, e não podem ficar falando muita coisa errada, porque Renan Calheiros também, com o tanto de coisa errada que ele fala… se chegar o convite, ok, agora, de boca, fazendo fanfarra, não. Eu não gasto o meu tempo com gente ruim. Me manda uma coisa formal, direta, educada, que a gente analisa.
O senhor é pré-candidato ao governo de São Paulo? Quando tomou a decisão de disputar a eleição?
Weintraub: Eu tomei a decisão de participar de todo o processo [eleitoral] mais recentemente. Eu diria que foi em meados do ano passado, porque assim, começaram a “bater” demais. O fato de bater demais é muito assim: “Obedece e fica quieto”. Não tem: "Pô, presidente, o que o senhor faz com esse Centrão cheio de gente errada? Isso não vai dar certo, isso vai dar errado”. Ele quando falou para eu entregar o FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação] para o Centrão, eu falei: “Presidente, não faça isso, vai dar problema, não faça isso, pelo amor de Deus”.
Então assim, eu tenho certeza que a gente vai ver mais notícia ruim aparecendo no MEC. E eu escuto também que, em outros ministérios, aconteceu esse tipo de processo, talvez não em uma forma tão intensa.
Os críticos do senhor ligados ao governo, os quais incluem parlamentares, apontam que as suas recentes manifestações e críticas são formas de “aparecer” e obter apoio para a sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. É isso ou o senhor vai à disputa por uma questão de valores e mostrar o que ocorreu nos últimos anos?
Weintraub: É importante esse ponto. Veja. Não estou me fazendo de coitado, de forma alguma, sou um cara abençoado mesmo. Tenho a família que sempre sonhei ter, meus filhos são bons alunos, não me dão trabalho, todo mundo tem saúde, tive sucesso profissional. Eu moro em uma casa aqui muito boa nos Estados Unidos. Só que a minha casa em São Paulo era melhor. Eu tenho um carro aqui muito bom, mas meus carros no Brasil… não eram melhores, porque era blindado, então prefiro esse aqui, é melhor do que um carro quando é blindado. Eu tenho casa em São Paulo, tenho apartamento na praia, meus filhos estudavam em ótimas escolas, a qualidade de vida da minha família toda piorou desde que eu comecei essa trilha. Não só as ameaças de morte, de violência, ofensas, invasão de celular das crianças, entrar na casa, tudo. Fisicamente piorou.
A qualidade de vida em termos de bens materiais da maioria das pessoas que estão, hoje, no governo, aumentou. Moram em casas melhores, em locais melhores, estudam em colégios melhores, vivem melhor. Eu entrei nesse jogo realmente por uma questão que eu não aceitava entregar o Brasil sem luta. Por uma questão pessoal, religiosa, histórico-familiar, eu e meu irmão resolvemos ir para a luta. E esse foi o aperto de mão com o presidente Bolsonaro. Eu nunca falei: “Qualquer coisa que o senhor fizer [terá] a lealdade total”. Tanto é que, logo no começo, eu comecei a falar: “Isso que o senhor fala de mercado financeiro está errado, o senhor tem que defender o Banco Central independente”.
Paulo Guedes não era nem projeto ainda, isso foi começo de 2017, tanto é que a primeira coisa que ele falou [sobre agenda econômica] foi Banco Central independente, que tem que privatizar, mas que não pode ser uma privatização esquisita, como aconteceu no governo Fernando Henrique. Tem que ser uma privatização com golden share e controle acionário pulverizado como o [ex-presidente] Itamar [Franco] fez. A Embraer foi privatizada assim e não tem uma privatização do Itamar com suspeita de coisa errada. O modelo e edital da privatização do Porto de Santos está muito mais próxima da do Fernando Henrique do que a do Itamar.
Estou vendo várias coisas que, logo no começo, eu confrontei ele e ele mudou e começou a defender o Banco Central independente. Falou: “Sou a favor da privatização, mas tem que ser uma privatização como foi a do Itamar”. Foi logo no começo quando começou a falar isso, ainda não tinha o Paulo Guedes. A reforma da Previdência foi a razão da gente ter conhecido todo mundo. Eu nunca escutei dele algo como: “Oh, você tem que me obedecer e acabou”. Até a gente ir para o governo, tudo que gastamos foi do nosso bolso. Viagem para fora, para Brasília, foi tudo dinheiro nosso, meu, pessoal, e do meu irmão.
Quando o senhor conheceu o presidente?
Weintraub: Eu conheci o presidente no começo de 2017, quando o pessoal do Centrão chamava ele de fascista, xingava ele. Eu apertei a mão dele baseado no acordo de irmos juntos para a batalha e mudar o sistema. Foi no gabinete dele, estava eu, meu irmão, Eduardo Bolsonaro e ele. A gente apertou a mão baseado em irmos à briga juntos, mas para mudar o país, acabar com o Centrão, acabar com a corrupção, impedir que a China compre o Brasil, privatizar, limpar, simplificar, garantir a segurança das pessoas enfrentando a esquerda.
O senhor identifica, hoje, algum enfrentamento à esquerda?
Weintraub: O Centrão acabou de entregar a relatoria do novo código penal para o Contarato, senador do PT do Espírito Santo. Isso é um absurdo, para fazer um novo código são 30, 40 anos. A carteirinha digital está pronta, é só reeditar a MP [Medida Provisória 895/19, que havia criado a Carteira de Identificação Estudantil gratuita em formato digital, mas perdeu sua validade]. Não consegue passar a lei? Mas não era para isso que tinha o Centrão? Para o cara poder ter a carteirinha digital e a UNE [União Nacional dos Estudantes] parar de ter o monopólio da carteirinha estudantil.
Não reedita por quê? Porque é tudo combinado com a esquerda, está tudo acertado. O Centrão entrou basicamente para proteger e blindar o presidente e a família dele. Só que o aperto de mão era, e eu escutei várias vezes: “A gente está indo para enfrentar. Eu posso perder meu mandato, mas não vai ser por corrupção”. Eu escutei dele várias vezes isso. Falei: “Beleza, presidente, assim eu topo ir para a briga”. Porque eu ia expor, mas veja, eu e a minha esposa éramos professores universitários. A minha esposa não pode mais dar aula em segurança, tem que botar um segurança para ela dar aula e andar pelos locais.
Qual é a percepção que o senhor tem da entrada do Centrão no governo?
Weintraub: Quando estava no ministério eu discordava um monte de vezes. Só que depois que o Centrão entrou, aí cercaram de vez só puxa saco e general melancia do lado dele [Bolsonaro], os generais não alinhados foram expelidos. Sobrou só a “patota das Olimpíadas”, uma turma que trabalha junto há muito tempo, que é o [Eduardo] Pazuello, o Ramos, o Braga Netto, o [Augusto] Heleno, são esses quatro. Os outros foram cortados, como Santa Rosa, Santos Cruz e Rêgo Barros. E mesmo gente que estava mais próxima, e hoje não está no Palácio [também], que é o Floriano [Peixoto, presidente dos Correios] e o [Oswaldo] Ferreira [presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, a EBSERH)].
O papel dos generais foi muito importante, o papel do Jorge Oliveira também foi. O Jorge Oliveira era do gabinete do Bolsonaro e aí, quando ele chega ao poder, ele se aproxima rapidamente da turma do Michel Temer e da esquerda também. Ele dá uma entrevista falando: “eu convenci o presidente Bolsonaro a se afastar da militância”. E se você pegar, ele foi indicado para ser ministro do TCU. Entra no YouTube e veja como foi a sabatina dele. O Randolfe Rodrigues abraça ele. Renan Calheiros, o Omar Aziz [também]. O tratamento que eles têm com o Jorge Oliveira é inacreditável. “A gente está aqui só para formalizar, o dr. Jorge é bem quisto por todos aqui”, disseram.
Foi esse processo que aconteceu, e a gente foi alertando, foi falando, alertamos do Jorge Oliveira para o presidente, o que ele estava fazendo. Alertamos cada uma dessas etapas antes, sempre, mas o presidente, até então, a gente via ele muito como refém mesmo. Nas reuniões, nessas que o cercavam, ele ficava assim: “Pô, mas vamos fazer isso”. E falavam: “não pode, não pode, não pode”. Eu acho que, em algum momento, ele saiu de um sequestrado normal e passou a ser o sequestrado que ficou do lado dos sequestradores, como é a Síndrome de Estocolmo.
A visão que eu tenho é muito do Rei Saul [primeiro monarca de Israel], que tinha que enfrentar os amalequitas e liquidar, mas ele voltou com as coisas dos amalequitas para o palácio. O “presidente Saul” trouxe os amalequitas para o Palácio [do Planalto]. Hoje, os ministros são do Centrão, os amalequitas. Daqui a pouco está o Randolfe Rodrigues no segundo mandato [no governo].
Nessa recriação do “Teatro das Tesouras”, como aponta o senhor, corre o risco de a direita ser sequestrada pelo Centrão?
Weintraub: Totalmente, a [deputada] Bia Kicis era para ser senadora pelo Distrito Federal. E aí falaram: “Que negócio é esse? Não pode ser, baixa a cabeça, você vai sair de deputada, põe a Flávia Arruda para ser [pré-candidata ao Senado]". Ele [Bolsonaro] está fazendo isso em todos os locais. Não vai ter um senador eleito conservador. Me falaram: “sai para senador”. Mas não iam deixar. O que nos foi oferecido é o seguinte: "fica nos Estados Unidos, some, e o cargo de vocês aí no Banco Mundial e na OEA [Organização dos Estados Americanos] é de vocês para sempre". Nos foi oferecido isso pelo presidente.
A gente recusou. Eu estou renunciando hoje o meu cargo [de diretor-executivo], é o meu último dia no Banco Mundial. Poderia ficar até o fim de outubro, isso [me] daria US$ 120 mil. Não renunciei antes porque eu represento vários países e todos eles pediram para eu ficar até o fim de abril, devido ao trabalho que eu estava fazendo. Eu tenho isso documentado, por escrito. Colômbia, Equador, Panamá, República Dominicana, Haiti, Filipinas, Trinidad e Tobago, Suriname, todo mundo pediu.
Para você entrar nessa via crucis… o Ernesto [Araújo, ex-chanceler] estava com a gente e falou: “Essa porradaria que você está aguentando, eu não aguento. Estou dando apoio, mas vou ficar agora mais nos bastidores”. Porque é muita gente atacando não só o indivíduo, mas a família.
E como são esses ataques?
Weintraub: Quando entrou esse Centrão mais sujo, mais torvo, espalharam que meu pai era maconheiro, defendia a liberação das drogas. É mentira, meu pai era psiquiatra, foi o primeiro ou um dos primeiros pesquisadores no Brasil. No caso, ele estava na USP [Universidade de São Paulo], tinha um laboratório, e analisou os efeitos maléficos das drogas. Ele estudava isso. E ele sempre falou: “Não tem que liberar [as drogas], não pode liberar”. O que ele falava era que o viciado, às vezes, usa a droga como automedicação para uma depressão. Era isso que ele falava. O cara está em depressão, não sabe que está, usa a droga e fica viciado. Se você não tratar a depressão dele, ele nunca vai se curar. Falava isso para a maconha, outras drogas e falava isso para o álcool também.
Para tratar o alcoólatra, tem que tratar a depressão dele, se tiver. Ele foi o primeiro a falar que não adianta botar na cadeia e bater no maconheiro se ele está com depressão. Não adianta botar o cara na cadeia, bater e deixar ele 10 anos preso, só vai piorar. Tem que tratar o cara e não tratar ele como criminoso. E aí, ficam falando que ele era maconheiro.
Agora, mais recentemente, minha mãe, cardiologista, trabalhou na equipe dos primeiros transplantes de coração do Brasil, já falecida há 20 anos, estudou em colégio de freira, começaram a falar que era prostituta e espalhar isso.
O próprio Eduardo Bolsonaro primeiro falou “fdp” e depois aquela militância atrás dele, que acreditamos ser uma militância criada pelo Centrão, começou a falar que era prostituta. É isso o que está acontecendo, a gente fala a verdade, está machucando. O Centrão, que mói a reputação, tem uma abordagem diferente e, infelizmente, o presidente foi capturado e o Eduardo Bolsonaro entrou nesse jogo também.
O senhor também sofreu ataques da esquerda?
Weintraub: O [ex-presidente] Lula fez um discurso falando que a militância tem que ir atrás da família de quem se opõe a eles. Falou com todas as letras para ir na casa deles, tocar a campainha, incomodar o filho, a esposa. Eles fizeram isso comigo em Santarém (PA), cercaram minha família, ameaçaram fisicamente. Agora, tem um programa Meteoro [Brasil], é grande, fazendo chacota do que aconteceu em Santarém, cortando os trechos onde o pessoal foi para cima fisicamente da gente, dos meus filhos pequenos.
A minha menorzinha estava no meu colo, aos prantos, porque foram para cima. No passado, o PT falava que eu estava processando a minha mãe para arrancar o dinheiro dela e deixá-la na pobreza, não sei o que lá. Minha mãe tinha morrido há mais de 20 anos. Processei o presidente da UNE, não pude processar os parlamentares, e ganhei, já ganhei a segunda vez aí, em segunda instância. Não sei se vão recorrer e mandar para o Supremo [Tribunal Federal]. Minha mãe morreu há mais de 20 anos. Meu pai também, processei a revista Veja, ela perdeu. No passado estavam moendo [reputação] desse jeito.
São constantes as ameaças?
Weintraub: Agora pararam porque eu me desliguei. O que aconteceu? No Banco Mundial, vou contar um pouco do passado, para você entender. Eu me tornei uma pessoa que incomodava muito a estrutura em Brasília, a estrutura estava à flor da pele, eu era visto como, dos nomes da direita, o mais contundente e com capacidade de angariar apoio, não era político, nunca fui, não tem ninguém da minha família que tenha sido filiado a um partido político. Nunca vi um político na casa de algum parente meu.
Mas enfim, apareceu, cresceu e o Paulo Guedes, em uma entrevista na Veja, falou a respeito do que aconteceu. Pediram a minha cabeça em uma bandeja de prata, tanto é que meu apelido naquela hora virou João Batista, uma voz que clama no deserto, porque me entregaram com a cabeça na bandeja de prata. E a reunião que ele descreve foi muito pior do que ele descreveu. Estavam falando: “Deixa ele ser preso”.
Você está louco? Preso por quê? O presidente estava contra a parede e esses militares e as pessoas que já tinham ligação com o Centrão [estavam] pressionando. “Vamos pacificar, vamos pacificar”. Eu falei: “Então é isso?”. Falaram: “É”. Eu saí da reunião e comecei a ver asilo diplomático. Eu fui falar com embaixadores, com o de Israel fui mais de uma vez, e já estava tudo certo. Eu iria ou para um país da Europa, ou iria para Israel, com minha família, como exilado. Eu graças a Deus tive sucesso profissional, não era questão de dinheiro.
Mas aí o Paulo Guedes chegou com a solução, falou: “Vai lá para o Banco Mundial, está vazio o cargo porque é muito qualificado, não é qualquer um que pode ocupar, mas você pode, fala inglês, tem formação acadêmica na área e tem experiência no mercado financeiro”. São esses os requisitos, tanto é que o cargo que eu ocupo foi ocupado [não foi ocupado] por um Lindbergh Faria, por uma Gleisi Hoffmann ou pelo Fábio Faria. Simplesmente são sempre técnicos, pessoas técnicas e com capacidade que falam inglês bem. E aí, o que acabou acontecendo foi que eu cheguei aqui em uma situação muito ruim, eu consegui entrar.
Como foi essa sua ida para os Estados Unidos?
Weintraub: Quem me viabilizou a entrar foi o Ernesto Araújo. Ele conseguiu rapidamente o visto americano de entrar aqui, porque os Estados Unidos estavam fechados, tava tudo fechado [por causa da pandemia]. Eu consegui o visto para entrar, cheguei com meu dinheiro, comprei a passagem. Na época, falaram de avião [da Força Aérea Brasileira], tudo mentira, comprei com meu dinheiro, tudo certinho, como sempre. Eu acho que devo ter sido o ministro que menos usou o jato da FAB, usei duas vezes só, a trabalho. Não pedia nem reembolso para voltar a São Paulo, pagava no meu bolso a passagem.
Cheguei aqui nos Estados Unidos e fiquei de 20 de junho até agosto desempregado e gastando do meu bolso. Aqui estava tudo fechado, e foi quando começaram a chegar o resto da família. Primeiro a minha esposa, as crianças, e as escolas estavam fechadas, eles mudaram de escola, mudaram de país, o cachorro veio, foi difícil. Não estou me fazendo de coitado, só para entender o contexto. O Arthur [Weintraub] conseguiu chegar, o Ernesto Araújo indicou ele para a OEA.
Aceitaram o Arthur, ele veio também, todo mundo em casa, beleza, vamos comemorar o Natal. E você lembra? Voltando, teve o fracasso das eleições [municipais], meu nome desponta, começa a surgir e o presidente mandou o recado: “avisa o Abraham que ele vai ser mandado embora”. Era véspera de Natal, nem sabia o por quê. Aí, veio de novo a ameaça no Ano Novo: “Ameaça que ele vai ser mandado embora”.
Quando o senhor desembarca no Brasil?
Weintraub: Estou me desligando hoje do Banco Mundial, estou com os processos aqui de residência já bem encaminhados. Assim que meu advogado americano falar que eu posso, eu vou. A expectativa é ir em junho. Agora, não tenho mais problema de voltar ao Brasil. Eu não preciso, poderia pedir o asilo de novo para Israel ou para os países europeus que havia lhe falado, mas aí eu teria que levar minha família, as crianças, o cachorro, ia perder ano escolar, ia ser horroroso. Porque o meu visto estava ligado ao cargo do Banco Mundial, eu não sabia e não tinha passado pela minha cabeça que eu tinha um mandato, e sobre meu mandato, estou tranquilo com ele.
Aí, o que aconteceu? Eu liguei para os meus advogados, achei advogado nos Estados Unidos, e estou com processo de residência para minha família ficar com segurança aqui nos Estados Unidos. Eu volto para o Brasil para a batalha, mas a minha esposa e as minhas crianças não vão correr mais esse risco. E se eu tiver sucesso, eu não quero meus filhos em um ambiente onde o amiguinho da escola, a namorada, está namorando com ele porque o sogro pede alguma coisa para ele. Eu quero eles sejam pessoas normais que não sofram influência ao redor deles de pessoas que querem obter benefício no Brasil. É muito forte essa cultura no Brasil. Eu quero que as pessoas que andem com eles andem com eles porque gostam deles, não por outros interesses. E a ameaça física também, porque Lula falou para ir atrás da família. Então, o que acabou acontecendo?
Eu comecei a ver que, primeiro, eu tinha mandato, que é bem difícil de me mandar embora do Banco Mundial, é muito difícil. O visto que eu peguei agora, que estou pleiteando, de residência, é baseado em trabalhador ultra qualificado. Você vê, eu poderia entrar com visto de investidor aqui nos Estados Unidos, eles dariam visto de residência. Não, tenho um de ultra qualificado. Então assim, essa chantagem começou ali no Natal: “Some, não fala mais nada, não pode dizer mais nada”. Eu estava conduzindo todo o processo do visto enquanto recebia essas ameaças. O Paulo Guedes depois me ligou e falou: “O presidente está desesperado com você, quer te mandar embora”. O Centrão estava pressionando muito ele [Bolsonaro] porque São Paulo mexe com muita coisa.
Quando começou o movimento pela pré-candidatura do senhor a um cargo eletivo?
Weintraub: O movimento começou principalmente quando meu nome surgiu espontaneamente, nunca me lancei candidato a governador, quem lançou isso foi um cara chamado Rodrigo Müller. Ele é entregador de moto, só que é brilhante. No Brasil, o desperdício de talento é um após o outro. O cara é um gigante nas redes sociais, entende pra caramba de comunicação, tem uma família, tem a renda dele, não é que é pobre, miserável, mas é um entregador de esfirra, não é ligado à política. Ele lançou isso e isso pegou como rastilho de pólvora. Por quê? Porque meu nome foi lançado logo depois da derrota das eleições municipais, principalmente na cidade de São Paulo.
Você vai lembrar como foi, você acompanha a política. O nome da direita de verdade [para concorrer a prefeito de São Paulo em 2020] era o [deputado] Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o príncipe, e o nome dele foi sabotado internamente. Falaram: “Não vai sair, não vai sair, não vai sair”. Começaram a criar de novo aquelas mentiras, como é? Que ele andava pelo centro do Rio de Janeiro batendo em mendigo, umas bobagens, isso é tudo mentira. E aí, o que aconteceu? Ele acabou não saindo à prefeitura de São Paulo, saiu o [deputado Celso] Russomanno. Russomanno perdeu, e quem está hoje na prefeitura de São Paulo o pessoal não sabe nem o nome de quem está [o prefeito de São Paulo é Ricardo Nunes, do MDB, que assumiu o município após a morte do tucano Bruno Covas].
É um cara ligado ao [presidente do PSD, Gilberto] Kassab, um cara ligado ao Centrão. É isso que está em jogo. O objetivo é manter o Teatro das Tesouras em São Paulo. Há muito tempo o PSDB e o PT tem acordo. Secretarias estão divididas, o orçamento, está tudo certinho. E eles estão querendo recriar isso via Centrão. O Tarcísio foi lançado para acabar com qualquer chance de eu me viabilizar como candidato ao governo do estado. Foi a partir daí que começaram os ataques e as ameaças.
A pré-candidatura do senhor ao governo de São Paulo é irreversível? Há quem entenda que o senhor tenta produzir um balão de ensaio político e, mais a frente, sairia candidato a deputado federal.
Weintraub: Olha, isso pode acontecer, não descarto, só que a diferença minha em relação a qualquer outro grupo que, hoje, sobra, são pessoas soltas na direita. Você tem que ter um partido. Mas o meu passado é de executivo, minha vida, meu cacoete, é de executivo de grandes projetos. O executivo de grandes projetos começa analisando todas as etapas necessárias da cadeia produtiva. Eu vou precisar disso, disso, disso e daquilo. Lembrando que, na cadeia produtiva, o ritmo de produção se dá pelo gargalo. Então, eu sempre tenho que olhar o gargalo. Eu fui estruturando junto com o time todas as etapas necessárias.
A gente tem uma área jurídica nesse grupo de direita muito boa, tanto é que eu fui caçado, eu sofri mais de 180 processos e não perdi um único, e processei uma martelada de pessoas. Acabei de ganhar do cara da UNE. Agora, vamos processar o Eduardo Bolsonaro e vamos processar os amiguinhos dele que falaram coisas piores ainda a respeito do meu pai e da minha mãe.
Você precisa ter um departamento jurídico para te defender, para te proteger, para tudo. E, agora, um departamento jurídico internacional também, porque uma parte da nossa estratégia é mostrar para o mundo que o Brasil não é mais um país onde o processo legal é respeitado. Isso é, se a gente sofreu uma violência absurda, a pessoa responsável por essa violência absurda não pode mais pisar fora do Brasil ou pisar em um país civilizado. Isso já está pronto, como aconteceu com Pinochet.
Ele foi preso na Europa porque um chileno com cidadania espanhola foi morto e a Justiça pegou ele na Inglaterra, foi preso e levado para a cadeia. Isso a gente já está trabalhando, está bem redondinho. Nunca fui acusado, eu estava sendo só investigado, não tem processo contra mim de nada no STF. Então, isso daí já passou um prazo que seria minimamente razoável para eu ser preso, etc., e mesmo assim eles foram atrás de mim. Eu pisei no Brasil e tive que depor duas vezes na Polícia Federal sobre o episódio da minha casa. A gente tem, primeiro, um departamento jurídico bem robusto. Depois, a gente tem uma militância, hoje, já mais coordenada. Comunicação, a gente tem as nossas redes sociais e estamos criando canais e veículos.
A gente tem que ter uma associação sem fins lucrativos para ser um veículo de ações, ou sociais ou jurídicas. A gente tem o Farol da Liberdade. O que falta? Faltava o partido, para não dependermos do Valdemar [Costa Neto, presidente nacional do PL] ou do Ciro Nogueira [presidente nacional licenciado do PP]. A gente tem um partido aqui em São Paulo só, a gente fechou a parceria com o Laércio Benko [presidente do diretório paulista do Brasil 35] em São Paulo.
Juridicamente, a gente tem total segurança e liberdade para fazer e montar a estratégia que a gente achar mais conveniente. Então, não tem como derrubar minha candidatura para o governo de São Paulo se eu quiser. Eu não descarto ir a deputado. Mas daqui até a véspera [das convenções], eu posso fazer isso a qualquer momento. Eu tenho essa possibilidade em aberto para ir a deputado. Mas daqui até lá eu tenho grandes chances de levar [o governo paulista].
Que fatores o deixam confiante para a sua pré-candidatura?
Weintraub: Se esse boato que o Tarcísio foi lançado e o acordo do Centrão é para, lá na frente, ele sair, desistir e tal, e deixar para o Rodrigo Garcia disputar com o Haddad, e é isso que falam, eu tenho muita chance. O Tarcísio deixou até o último momento para mudar a residência dele, tem muita coisa que não fecha nessa história. Eu posso sair candidato a governador, estou em campanha para isso, acho que tenho boas chances, tem muita coisa errada que ainda vai aparecer no governo federal, eu acredito nisso. O Tarcísio cometeu um erro grave no Porto de Santos, isso precisa ser dito, tem que mostrar quem é o Tarcísio.
O [Fernando] Haddad não consegue ficar cinco minutos de pé comigo porque eu vou moer ele. Eu sei exatamente o que ele fez no MEC. Em um debate comigo ele vira pó, vai ser destroçado. Eu vou começar perguntando: “Como é essa história de superfaturamento do Enem, Haddad? E o financiamento para as universidades privadas, uma delas na qual você trabalha hoje em dia?”. Rapaz, venda de diploma, tem um monte de coisa. Então, assim, eu acho que eu tenho chances como governador, meu irmão senador acho que também tem. O pessoal faz o impossível para detonar.
Saiu pesquisa dizendo que tenho menos [intenção de votos] que o [deputado Vinicius] Poit, mas o Poit ninguém bate, e por que ninguém bate no Vinicius Poit? Qual é a razão? Você nem escuta ele. Na hora que as pessoas começarem a escutar quem vai ser o secretário de segurança do Tarcísio, do Rodrigo Garcia… contra o Rodrigo Garcia eu acho que eu levo, se tiver na disputa Haddad, eu acho que eu levo. Mas quem vai ser o secretário de Segurança Pública do Tarcísio? O secretário de Transportes do Tarcísio? Da Fazenda? Da Educação? Esse apoio que ele está recebendo do Centrão não vem de graça.
O senhor acha que o apoio de Bolsonaro a Tarcísio o coloca à sua frente na disputa pelo estado?
Weintraub: Eu acho que ele está na frente, conseguiram bater tanto [em mim], não sei se tenho o que saiu [recentemente], que eu tenho 1% e o Vinicius Poit tem 2%. Eu acho que tenho mais de 1%. Mas eu vou para cima. Meu passado como executivo, e isso é fácil de checar, fui para vários acordos onde eu era o azarão, o underdog, eu fiz acordos contra bancos gigantescos e ganhei. Com essas estratégias que estou replicando aqui, primeiro que você não tem que ter medo, tem que colocar na mesa, não pode colocar em risco o que você não pode perder. Eu não posso perder um filho em uma eleição. Eu não posso perder uma esposa em uma eleição. Isso eu não posso, não vai mais acontecer, nunca mais.
E eu estou indo para o “pau”, essa é a verdade. Estou indo para a briga, indo pegar os caras. Não é assim? Quem tem valores não tem preço. Não falta gente querendo conversar comigo. Nesses três anos que me tornei homem público não faltou gente querendo conversar. Não explicitamente, porque nem isso eles têm coragem. Se começa com um papo mole, “oh, toma aqui”, eu já marreto. A coisa mais próxima [que recebi foi]: “Fica aí, o cargo de vocês é para sempre, vocês estão ganhando em dólar, está super bem”. Mas não foi para isso que a gente começou com essa merda. Me desculpa, não falo palavrão.
Na live de domingo, o senhor disse que, como líder, Bolsonaro se “perdeu” e não é mais o “líder da direita” e dos conservadores. O senhor diria que a sua pré-candidatura é o pontapé que o projeta para ser o líder da direita que Bolsonaro, na sua opinião, deixou de ser?
Weintraub: Eu acho que já sou [o líder da direita]. Quando você pensa em direita, combate à corrupção, apoio às polícias de verdade, olha o meu irmão aqui o que ele está soltando de material, de proposta para a gente reverter toda essa deterioração que a gente teve. É uma proposta real, técnica, como fizemos na [reforma da] Previdência. Desde 1995 estavam tentando fazer a reforma. O Arthur, com aquela cabeça brilhante dele, foi lá e achou soluções.
Está achando soluções para um monte de coisa, de plebiscito para maioridade [penal], um monte de coisa que apresenta soluções, acordos bilaterais que podem entrar em vigor imediatamente contra a corrupção, tornar corrupção imprescritível. Tem muita coisa quando pensa em direita, na agenda da direita, ou mesmo a comportamental. Eu não minto. Mostra uma mentira que eu tenha contado, uma. Eu já menti na vida? Já. Eu já falei palavrão? Já, acabei de falar um aqui para você, mas é muito raro. Eu sou pecador, mas eu acho que ninguém vai questionar que eu tenho valores sólidos e valores alinhados com a direita.
A forma como o senhor se posiciona e constrói a sua pré-candidatura não corre o risco de, politicamente, ficar isolado a um nicho da direita?
Weintraub: Lógico, evidentemente. Aí vem o pressuposto, dizem que você tem que ser mais estratégico, falam em estratégia Sun Tzu, não sei o que lá, xadrez 4D, que não deu certo, é papo furado. Vamos lá, primeira coisa. Quando eu tenho valores, eu tenho valores que não são negociáveis, são inegociáveis. Eu não estou nessa para ganhar dinheiro. Quando a gente está para ganhar dinheiro, os valores que você tem que preservar é honestidade, não ter fraude, não roubar, são coisas mais simples. Então, você tem mais graus de liberdade, eu não tenho que defender a família em um processo de IPO [oferta pública inicial de ações, em português].
Tem que ser junto, não pode ter esquemão, suborno no meio para prejudicar o beneficiário final. No caso da política, eu não estou ganhando dinheiro, estou perdendo dinheiro, meu patrimônio encolheu. Só com advogado eu gasto mais do que eu recebo, não hoje em dia, mas eu gastava mais com as mudanças de casa, porque tive que comprar tudo. Então, se eu não tiver mais valores que diminuam o meu grau de liberdade, e estou aqui para ganhar dinheiro, e isso não é para mim, nem quero fazer isso para o resto da minha vida. Se não der certo [a disputa eleitoral], estou livre, eu tentei, minha consciência vai me deixar livre, eu tentei salvar o país, fiz o que eu podia, não fui o cara que saiu correndo do país e abandonou todo mundo. Você vê a diferença, tem refugiado que chega do Afeganistão, mas cadê a mulher e as crianças?
Veja os caras da Ucrânia, saindo do país e [o Exército] falando: “não, você é homem adulto, pega o rifle e fica, só sai mulher e criança”. Tem coisa mais básica? Você tem que, pelo menos, tentar lutar contra essa coisa maluca. Eu estou fazendo por uma questão pessoal: valores. É no que eu acredito. Se der certo, eu vou fazer exatamente o que eu acredito, não sou doido, não tenho passagem em polícia nenhuma.
Sou casado com minha namorada de faculdade, estou com minha esposa há 30 anos, tenho três filhos, não tenho nenhuma mácula na minha vida. Se forem atrás, descobririam que eu escrevi impressionante com “c”, é verdade. O que mais? Que eu tirei nota baixa no primeiro ano da faculdade na USP, porque tinha 17 anos e tinha sofrido um acidente no ombro, também é verdade, foi ilegal a obtenção do meu boletim. E é isso, que eu saiba, é só isso que tem. E agora estão falando “traíra”, “filho da puta” e “maconheiro”. Eu não sou doido, sei negociar. Se sentar na mesa, negocio com gente de valores diferentes, eu negocio com gente errada. Já negociei com gente errada? Já, mais de uma vez. Como? Do lado de lá do balcão.
O cara errado não pode entrar na tua casa, no teu negócio, não pode virar teu sócio. O bandido não pode entrar. O Tarcísio falou que dinheiro não tem carimbo. Tem carimbo, sim. Se você recebe investimentos de narcotraficantes, todo seu investimento, todo mundo que colocou dinheiro, ficou sujo. A coisa mais básica do mercado financeiro empresarial — e ele sabe disso — é que a origem do dinheiro tem que ser limpa e o dinheiro tem carimbo. É loucura dizer que o dinheiro não tem carimbo. Eu não estou falando que não negocio. No meu governo, meu inimigo não vai estar comigo no meu gabinete, nem vai ser o meu sócio.
Eu já negociei diretamente, ajudei na negociação, quem conduziu a negociação da reforma da Previdência, que foi a única que passou junto com o Banco Central, foi o [ex-ministro] Onyx [Lorenzoni]. Eu participei diretamente, estava no MEC, recebi os parlamentares, atendi as demandas, um por um. Eu tenho alguma mácula? Zero. Fiz alguma coisa fora das especificações? Zero. Eu, como cidadão, muitos anos atrás, cidadão normal, eu negociei. Moro no primeiro condomínio da cidade de São Paulo, e estavam querendo abrir todos os condomínios. E aí, o promotor com viés de esquerda falou: muda a lei. Tirou um barato ainda. Consegui passar uma lei que ajudou dezenas de milhares de pessoas que, ao abrir todos os condomínios, ruas fechadas, e aí eu negociei.
Com quem eu negociei? Com o PT. O prefeito era o Haddad. O prefeito não podia vetar, tinha que sancionar a lei. E no final, quem negociou? Eu negociei com Paulo Fiorilo [à época vereador do PT], que tinha uma entrada boa, entendeu a lógica, não me extorquiu, não pediu nada, e, no final, uma coisa que é característica minha e quem me conhece pode atestar, eu sempre retribuo. Passado mais de um ano, falei: “oh, você foi um cara super ponta firme, vou fazer uma contribuição oficial para a sua campanha”. É isso, eu tenho capacidade de passar uma lei? Tenho.
Tarcísio já passou alguma lei? Não, nunca passou. O Tarcísio em 10 anos que estava lá no Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes], não era funcionário concursado do Dnit, muito tempo depois prestou um concurso para a Câmara. Ele sempre foi indicado politicamente nos cargos do Dnit de controle, para controlar. Quantos processos ele encaminhou para o Ministério Público ou para a Polícia Federal nesses 10 anos? Que eu saiba, nenhum. Em um ano de MEC, encaminhei 15. O do superfaturamento do Enem já apareceu, está nas capas de jornais. Então, tem um monte de caso para te contar. Dá para fazer? Dá. Esse papo de que sem Centrão não se governa, você senta com o cara [e negocia]. “Beleza, está aqui, está feito, quer, quer, não quer, sai”. O que não pode ter é fio desencapado. O que não pode ter é ponto vulnerável para eles te chantagearem, que, no meu caso, era minha família. Vieram para cima da minha família, e a do presidente também.
Se Bolsonaro tentasse uma negociação eleitoral com o senhor, o senhor sentaria e negociaria com o governo?
Weintraub: Eu negocio. Sentar para conversar, a característica principal é Israel-Hezbollah, Estados Unidos-Talibã, Ucrânia-Rússia. Sentar e conversar você tem que sentar e conversar, os termos a gente vê. Mas não é mais o presidente que negocia, é isso que você tem que entender. Quem negocia não é mais o presidente, é o Valdemar da Costa Neto e o Ciro Nogueira. É muito pior do que as pessoas percebem.
Como está a estratégia de campanha? Já tem algo desenhado que possa revelar? Vai rodar São Paulo?
Weintraub: Já, a gente está até discutindo de eu comprar, como pessoa física, uma sprinter ou um moto home, e ficar vivendo na sprinter.
O senhor já tem, hoje, nomes para eventual secretário de Fazenda? Secretário de Segurança?
Weintraub: Tenho. Lembrando que algumas pessoas com quem eu trabalhei tem experiência financeira. Eu já tenho departamento, veja. Naquela linha de montagem, tem: jurídico, militância, fundação, associação sem fins lucrativos, tem segurança. A gente tem que ter segurança. Então, tem policiais que estão próximos da gente, bem próximos, são pessoas que confiam. E tem a parte de inteligência policial, para saber o que está acontecendo.
A gente já tem a parte de secretário de Fazenda, é bem fácil, conheci e conheço muita gente, de confiança, honesto, que têm zero de sacanagem, sem envolvimentos, como… e não falo que seja o caso do atual secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, que é o Henrique Meirelles, não estou falando… que foi presidente da JBS Friboi, Banco Central da Dilma [do Lula], ministro da Fazenda do Temer… tenho nomes, como Educação, Saúde.
Por uma questão estratégica, o senhor não pode revelá-los ainda, imagino…
Weintraub: E não vou revelar mesmo. Assim que eu revelar os nomes, essas pessoas serão perseguidas. Na hora que eu revelar esses nomes, vão atrás da família dos caras, isso é um problemaço para mim, pois se realmente queremos enfrentar realmente o narcotráfico e a corrupção, eu preciso montar alguma estrutura que dê segurança para as famílias das pessoas que vão para a linha de frente. Isso é uma grande preocupação que eu tenho.
O senhor teme que, uma vez retornando ao Brasil e iniciando sua pré-candidatura, a “máquina estatal” seja usada contra o senhor?
Weintraub: Já estão usando. Contra mim e qualquer pessoa que descubram que está próximo de mim.
Isso o preocupa?
Weintraub: Lógico, por isso não revelo o nome das pessoas.
O que o senhor acha do indulto concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira? O senhor acha que essa “graça” garante definitivamente os votos da direita a ele e a seus aliados nos estados, como Tarcísio?
Weintraub: Boa pergunta. O que eu acho. Se você lembrar, a primeira vez que começaram a gritar abertamente que eu era traidor, diziam: “O Abraham é o responsável pelo mal estar do Executivo com o STF”. Eu saí do Brasil há mais de dois anos, o mal-estar continua, foi até pior. Depois, tinha um movimento muito grande na direita [que falava]: “os generais isso, os generais aquilo, os generais vão fazer”. Eu fui o primeiro que desmontou essa narrativa, e, a partir do momento que falei “o rei está pelado”, o pessoal abandonou. Falavam: “Não, porque os militares... intervenção...”
Esqueçam os generais. O que eu ouvi dos generais, não todos, mas da maioria dos que eu ouvi, é um desastre. Esqueçam completamente qualquer esperança que você tem em relação aos generais. Qualquer esperança. Os generais são parte do problema. Não estou falando dos militares, porque até coronel não “engargala”. Tem um general que você confia e gosta? Sim, mas dos que eu vi, eles são parte do problema. Eles estão associados ao Centrão e gostam muito da China e da esquerda. Eles não vão fazer nada do que vocês estão falando, esqueça isso. Depois do 7 de setembro, alguns dias antes, eu falei: “tomem cuidado com o 7 de setembro. Não vai ser como o presidente está falando, tomem cuidado para não se expor e depois sofrerem as consequências disso”.
O que eu queria? O Sérgio Reis, velhinho, um cara que não tem nenhuma mácula na vida dele, só tem coisa boa para contar, não tem corrupção, não tem sacanagem, tudo certo, lembre o calor que ele passou. Para que aquilo? Os caminhoneiros todos chegaram, mobilizaram, gastaram uma baba de dinheiro, Tarcísio mandou todos eles voltarem, você sabe disso. Receberam uma ligação. Um monte de gente de novo sendo presa, tendo casa invadida pela Polícia Federal para quê? Para dois dias depois aquela carta absurda e ridícula do Michel Temer.
Por quê? Porque o presidente Bolsonaro não tem a menor condição de enfrentar o mecanismo. Ele, hoje, é refém do mecanismo. Então veja, Daniel Silveira. Eu acho um absurdo a prisão do Daniel Silveira, não falaria os palavrões que ele falou, não falaria as ameaças que ele falou, mas ele não estava tramando explodir o STF ou matar alguém. Ele estava fazendo uma bravata. E você não precisa prender o cara que está fazendo uma bravata. Se tiver uma ação legal, entra com uma ação legal, como eu faço como cidadão normal. Você acha que o Daniel Silveira ia derrubar o STF? Não ia. Ou o Bob Jeff com aquelas duas armas cruzadas no peito? Eu não faço isso, acho errado, acho feio, mas ele não representa uma ameaça de feito para ser preso, não faz sentido.
A prisão deles eu não concordo com a forma e os termos usados por eles, mas a prisão deles é errada. Deles e de tantos outros. O Jurandir [Pereira Alencar] e o [Antônio Carlos] Bronzeri, professores, tantas pessoas presas. O [Oswaldo] Eustáquio está em cadeira de rodas. A ameaça que eu estava sofrendo lá atrás — e está nas capas dos jornais, tinha gente vazando do topo das instituições — é que eu seria preso. Isso que o presidente fez é mais uma grande bravata. E o pior é que ela abre um precedente para alguém que não seja um bravateiro. Se o Lula ganhar, vai usar o mesmo instrumento para soltar todo mundo. Aliás, não vai precisar porque o STF já está na mão dele. Infelizmente é muita bravata, eu não quero que o Daniel seja preso, quero que ele seja livre, saia, consiga a liberdade, mas eu não vejo como solução.
Eleitoralmente falando, essa “bravata”, como o senhor diz, ajuda o presidente e o Tarcísio?
Weintraub: Eu acho que ajuda, mas não estou preocupado com isso. Meu papel aqui é falar a verdade e se as pessoas vão escutar. Já entregaram a minha cabeça em uma bandeja de prata. Por que agora eu também não posso ser a voz que plana no deserto?
O senhor falou ao longo da entrevista sobre o Centrão ter sequestrado o governo. E no Congresso, também acusam o STF de sequestrar o Parlamento. Existe, no seu entendimento, uma separação de poderes? O quão importante é uma reforma política na sua opinião?
Weintraub: Não adianta fazer reforma política agora, só vai piorar. É como fazer, agora, um novo código penal, vai piorar. Não adianta fazer. O Brasil não é mais uma democracia, não estamos no Estado democrático de direito, essa palavra horrorosa que eles ficam repetindo. O devido processo legal não é mais reconhecido, o Brasil já é considerado, não é uma invenção, um narco-país. O Brasil, internacionalmente, já é considerado um narco-país. O PCC, hoje, é conhecido como uma das maiores máfias e organizações criminosas do mundo e com fortes indícios de envolvimento no topo das instituições. Isso não sou eu que estou falando, já está documentado. Não é mais uma democracia.
O que a gente tem? A gente tem uma sociedade muito grande, muito complexa, ainda tem tecido social. Quanto mais a classe média for sendo massacrada, e tem sido, quanto mais gente estiver dependendo do Bolsa Família e bolsa qualquer coisa, menos será a capacidade de reação. Quanto mais monopólio tiver, menos capacidade de reação. Monopólio com câmbio depreciado gera inflação e, quando o câmbio voltar, a inflação não reduz, tem várias razões que poderia dar no campo econômico. A gente não vive mais uma democracia. O processo legal não é respeitado, nem falo de mim, falo de qualquer um. Eu tive a minha casa, que não estava à venda, sondada. Eu comentei e tive que depor duas vezes na Polícia Federal, tenho provas do que eu falo.
Hoje em dia já tem gente no interior de São Paulo e você anda, chega gente de máfia, a casa é minha, vai ter que vender, vai ter que me dar. Você continua trabalhando na sua empresa, só que agora a gente vai fazer algumas coisas aqui. Tem médicos pelo Brasil que têm que assinar coisas pelo PCC. Não estou falando nenhuma novidade. O Brasil já é um narco-país, a gente já perdeu esse país. Talvez a gente consiga recobrar ou retomar uma parte. E o meu projeto é fazer do estado de São Paulo o Texas brasileiro. No resto do Brasil, pff (sic). Mas com a Polícia de São Paulo, e aí o projeto do Arthur é resgatar a força pública, que é a união da civil com a militar. Um projeto muito parecido com o que são os carabineiros no Chile, já mudou também, estão derrubando.
E, com isso, dá segurança para as nossas famílias, perspectiva econômica, reduz ICMS para zero para quem estiver em setores que têm concentração de poder econômico, monopólio. Você veja, zera ICMS para cervejaria pequena, microcervejaria. Não vai cair nada a minha arrecadação [do Estado], está toda na Ambev. Zera pequenos frigoríficos, laticínios. Zera, não vai cair nada, vai aumentar um monte de pequenas e novas empresas que vão começar e a arrecadação vai cair zero.
Tem um monte de ideias e coisas para fazer, São Paulo pode liderar esse processo de libertação. Se eu não consigo, hoje, sinalizar com uma proposta viável de solução para o Brasil, não consigo. Eu prometi que não concorreria contra o presidente Bolsonaro. Como prometi isso por uma razão pessoal, eu não volto atrás na minha palavra. Mas eu consigo dar pelo menos uma luz a quem quiser viver em um ambiente civilizado. Se o que tiver de corrupção no estado de São Paulo for metade do que encontrei no MEC, vai sobrar dinheiro para fazer coisa boa.
Por falta de opção, então, a nível presidencial, o senhor apoia a candidatura do presidente Bolsonaro?
Weintraub: Eu não apoio, falei que vou votar. Apoiar é o seguinte, é subir no palanque e falar: “vote nele necessariamente”. Eu não falei isso. Me perguntaram em quem eu votaria. Eu vou votar no Bolsonaro. “Ah, por quê?”. Porque o Lula é pior. É muito diferente de 2018. Eu acreditava, acreditei muito. 50 anos você acreditando? Eu sou, talvez junto com o [cantor] Roberto Carlos, o último romântico.
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