As estratégias do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para vencer a eleição de outubro passam pela busca da maior vantagem possível em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do Brasil. Os dois pré-candidatos tentam consolidar alianças, dialogar com o empresariado e também diminuir sua rejeição no estado no qual o vencedor historicamente se elege presidente.
Minas Gerais é um termômetro da disputa presidencial: desde 1989, ano da primeira eleição direta após a redemocratização, quem vence em Minas conquista o Palácio do Planalto.
Foi assim com Fernando Collor naquele ano, nas duas vitórias de Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998), de Lula (2022 e 2006) e de Dilma Rousseff (2010 e 2014); e também com Bolsonaro em 2018, quando obteve 58% dos votos válidos em Minas no segundo turno.
Em 2014, ano do segundo turno mais acirrado desde a redemocratização do país, Minas foi um estado-chave para garantir a reeleição de Dilma. A petista venceu o candidato Aécio Neves (PSDB), que era senador pelo estado e que antes havia governado Minas por oito anos.
O que dizem as pesquisas presidenciais em MG
A última pesquisa eleitoral para presidente só com os eleitores de Minas Gerais foi feita pela instituto Datafolha. Divulgada no dia 1º de julho, a pesquisa mostrou o ex-presidente Lula com 48% das intenções de voto entre os mineiros, seguido por Jair Bolsonaro com 28%.
Segundo o Datafolha, o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, apareceu em terceiro, com 8%, seguido de André Janones (Avante) com 3% e Simone Tebet (MDB) com 2%.Votos brancos e nulos somaram 6%, enquanto eleitores indecisos e que não responderam representaram 4% do levantamento.
Já o instituto F5 Atualiza Dados divulgou pesquisa presidencial com os eleitores mineiros no dia 19 de junho. O F5 mostrou Lula com 43% e Bolsonaro com 31%. Pesquisa do instituto Datatempo divulgada no último dia 7 de junho mostrou que, em Minas Gerais, Lula tinha 44,8% das intenções de voto contra 28% de Bolsonaro.
Por que Minas Gerais é tão importante na eleição presidencial
A interpretação mais corriqueira dos cientistas políticos sobre o papel-chave de Minas nas eleições presidenciais é a de que o estado representa um “compacto” do Brasil, por condensar em si características das diferentes regiões do país. Ou seja, o mineiro é uma espécie de brasileiro médio.
O norte de Minas tem características socioculturais e econômicas mais semelhantes às do Nordeste, enquanto o sul do estado é mais parecido com o Centro-Sul do país. Além disso, o estado tem uma mistura de uma metrópole (Belo Horizonte) com cidades médias e pequenas, além de uma população rural que confere diversidade a Minas.
Como a campanha de Bolsonaro se organiza em MG
Bolsonaro pode vir a ter dois palanques para subir em Minas Gerais. O presidente tem um pré-candidato a governador em seu partido, o PL. Mas também se aproxima do atual governador Romeu Zema (Novo), cujo partido tem candidato próprio ao Palácio do Planalto e que tentará se reeleger. A situação pode ser positiva, dando mais visibilidade a Bolsonaro no estado. Mas também há o risco de fragmentação na base de apoio do presidente, o que poderia prejudicá-lo.
O candidato do PL é o senador Carlos Viana. O parlamentar se filiou ao partido em março e, no início de junho, se lançou como pré-candidato ao governo mineiro. Sua chapa conta com um governista para o Senado – o atual deputado federal Marcelo Alvaro Antonio (PL), que foi ministro do Turismo do início do mandato de Bolsonaro até dezembro de 2020.
Mas o nome de Zema é o que conta com a simpatia de grande parte dos apoiadores de Bolsonaro em Minas. Ele foi eleito em 2018 com uma grande reviravolta, em que superou os favoritos Fernando Pimentel (PT) e Antonio Anastasia (então no PSDB). A "virada" foi atribuída ao fato de Zema, durante a campanha, ter declarado voto em Bolsonaro ainda no primeiro turno, embora o Novo tivesse João Amoêdo como candidato ao Planalto.
De lá até os dias atuais, o Novo chegou a se declarar formalmente na oposição a Bolsonaro, mas grande parte de seus integrantes defende a gestão do presidente.
Paralelamente ao palanque, Bolsonaro deve contar com seu futuro vice, o general Braga Netto, para buscar votos em Minas. O ex-ministro da Defesa é mineiro, tem contatos no estado e, assim que for oficializado como vice, deve ir ao estado para articular a campanha de Bolsonaro.
Lula monta palanque com PSD e PSB em MG
O ex-presidente Lula conseguiu montar em Minas Gerais uma aliança que, além do PT, terá o PSD e o PSB. O partido do ex-ministro Gilberto Kassab, o PSD, terá o candidato ao governo, o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil. Já para o Senado, a aliança terá o senador Alexandre Silveira, também do PSD, como candidato.
Silveira assumiu o mandato no início do ano, com a renúncia de Antonio Anastasia, que foi eleito para o Tribunal de Contas da União (TCU). Silveira, antes de se aproximar do PT, foi cotado para ser líder do governo Bolsonaro no Senado. Ele foi formalmente convidado para o posto e chegou a ser tratado como líder pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente da República. Mas acabou se aliando aos petistas seguindo a orientação do seu partido.
O PT, na composição da aliança, terá o direito de indicar o vice de Kalil. E o PSB – que está alinhado com Lula no plano nacional, inclusive indicando como vice Geraldo Alckmin – decidiu abrir mão da candidatura própria ao governo de Minas para apoiar Kalil. O ex-deputado e ex-ministro da Saúde Saraiva Felipe era o pré-candidato do PSB ao governo de Minas Gerais.
A aliança entre esses partidos, porém, não necessariamente vai garantir um palanque "integral" a Lula em Minas. Alguns deputados federais de Minas pelo PSD são alinhados a Bolsonaro e permanecerão ao lado do presidente na disputa pela reeleição.
“Estarei com o governador [Romeu] Zema e com o presidente Bolsonaro. Já avisei o presidente Kassab. Deixei claro que não me junto com Lula e Kalil”, afirmou o deputado Diego Andrade, em entrevista ao jornal O Tempo. Andrade e Kalil trocaram farpas públicas – o pré-candidato ao governo disse considerar “um favor” a ausência dos deputados em seu palanque, e Andrade insinuou que Kalil deixou Belo Horizonte, onde foi prefeito entre 2017 e 2022, em más condições.
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
O Datafolha entrevistou 1.204 pessoas por entrevista, entre os dias 29 de junho e 1º de julho, em 52 municípios de Minas Gerais. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com os números MG-07688/2022 e BR-08684/2022.
O instituto Datatempo entrevistou 2.000 eleitores mineiros entre os dias 27 de maio e 1.º de junho. O levantamento foi contratado pela Sempre Editora e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-00448/2022. A margem de erro é de 2,19 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
O instituto F5 Atualiza Dados fez 1.560 entrevistas telefônicas em Minas Gerais entre os dias 13 e 16 de junho. A margem de erro da pesquisa é de 2,5 pontos percentuais mais ou para menos. O registro no TSE é BR-02909/2022.
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