Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa após a vitória no segundo turno das eleições, em São Paulo| Foto: EFE/ Sebastiao Moreira
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Entidades ligadas ao agronegócio brasileiro começaram a se manifestar nesta terça (1) sobre a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições.

Em uma nota divulgada nas redes sociais no final da manhã, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirmou que recebeu “com naturalidade o resultado das eleições presidenciais e está pronta para o diálogo e a cooperação com o governo eleito, escolhido pela maioria do povo brasileiro”, porém sem citar o nome de Lula ao longo do texto.

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A entidade, que é a principal do agronegócio brasileiro, diz esperar do candidato eleito políticas públicas que assegurem “segurança jurídica para o produtor, defendendo-o das invasões de terra, da taxação confiscatória ou desestabilizadora ou dos excessos da regulação estatal”. “Contamos ainda com a ação do governo para ampliar os destinos de nossas exportações e para proteger a produção nacional das barreiras ao comércio abertas ou disfarçadas de preocupações com a saúde e o meio ambiente”, continuou a entidade ressaltando que espera, ainda, uma gestão fiscal equilibrada.

Outra entidade que também se pronunciou foi a Federação da Agricultura de Goiás (Faeg/Ifag/Sindicato Rural), que seguiu o posicionamento da CNA em aceitar o resultado. As federações de outros estados representativos do setor, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul não se manifestaram.

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O reconhecimento da vitória de Lula por empresários do agronegócio vem após uma campanha que colocou o então candidato petista em rota de colisão com o setor, que votou predominantemente em Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno e prestou forte apoio a ele no segundo. Reportagem da Gazeta do Povo publicada no final da campanha mostrou uma forte resistência dos produtores principalmente após as senadoras Simone Tebet (MDB-MS) e Kátia Abreu (PP-TO) declararem apoio a Lula.

A CNA não se pronunciou sobre os candidatos durante toda a campanha, mas o presidente interino da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), José Eduardo Sismeiro, disse que as senadoras “não os representam”. A entidade ainda não se pronunciou sobre a vitória de Lula nas urnas, assim como a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), que publicou uma nota de repúdio contra a fala de Lula sobre os empresários do agronegócio em uma entrevista ao Jornal Nacional no primeiro turno da eleição presidencial.

Congratulações a Tarcísio de Freitas

A Federação da Agricultura e Pecuária de São Paulo (Sistema Faesp/Senar), por sua vez, emitiu nota nesta segunda-feira (31) parabenizando a vitória do governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas não citou a eleição de Lula à Presidência.

Fábio de Salles Meirelles, presidente da entidade disse que “a exemplo da eficiência de Tarcísio no Ministério da Infraestrutura, o setor produtivo rural está confiante de que a condução de projetos do Governo do Estado de São Paulo voltados ao estímulo das cadeias produtivas e o fortalecimento das pequenas agroindústrias vai garantir a prosperidade do empreendedorismo paulista no campo em benefício da segurança alimentar, com geração de emprego e renda”.

Ele completou, ainda, afirmando que o novo governo do aliado de Bolsonaro “continuará garantindo a paz no campo, com segurança jurídica, condição necessária para impulsionar ainda mais a já pulante produção agropecuária do estado de São Paulo”.

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Durante a campanha do segundo turno, a entidade publicou um manifesto de apoio ao atual presidente, em que Meirelles disse que eleger Lula seria trabalhar “no sobressalto da insegurança jurídica”.

A Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA) também não se manifestou oficialmente sobre a eleição de Lula. Uma reunião e uma coletiva de imprensa estavam marcadas para esta terça (1), mas foram canceladas “por dificuldades de locomoção, barreiras nas rodovias e de baixo quórum em Brasília”.

Voz dissonante diz que o agro vai aceitar Lula

Por outro lado, um dos poucos empresários do setor que prestou apoio explícito a Lula ao longo da campanha afirmou que o setor negociará, no final das contas, com qualquer presidente que assumir o governo.

Carlos Ernesto Augustin, dono de uma das maiores produtoras de sementes de soja do país, a Petrovina, e um dos fundadores do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), disse à Gazeta do Povo que acredita que o sentimento antipetista do agronegócio "não tem nada a ver com economia ou retrocesso das políticas agrárias". "Foi uma exacerbação do conservadorismo extremo", disse.

No discurso dos produtores, o apoio a Bolsonaro se deu, entre outros fatores, por receio de um aumento das invasões de terra pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), que tiveram uma escalada durante a gestão petista. Os empresários também afirmam que as justificativas dadas por Tebet e Abreu para apoiar Lula – de que o agronegócio brasileiro vai sofrer perdas por conta da nova legislação da União Europeia que pretende paralisar a importação de produtos provenientes de países com desmatamento ilegal – são protecionismo dos países europeus.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]