Ainda vistos como incertos no cenário político, os planos econômicos do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começam a ganhar forma com os acenos da sigla para o mercado financeiro. Além de Geraldo Alckmin, que nesta sexta-feira (8) foi oficialmente indicado pelo PSB como vice na chapa petista, outros aliados de Lula já estão atuando nos bastidores para reduzir as resistências do setor econômico em relação ao petista.
Presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), tem promovido encontros com empresários de diversos setores e atuado como interlocutora da sigla com o meio econômico. Nesta segunda-feira (4), por exemplo, Gleisi apresentou ao empresariado de São Paulo o economista Gabriel Galípolo, que foi escalado para desenvolver um “caderno temático” sobre política monetária para a campanha de Lula. Entre os presentes estavam os empresários Abilio Diniz, do Carrefour, Candido Pinheiro, da Hapvida, Florian Bartunek, do Costelattion, e Rafael Furlanetti, da XP Investimentos.
Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política. Entre 2007 e 2008 atuou nas secretarias de Transportes Metropolitanos e de Economia e Planejamento do estado de São Paulo. Além disso fundou uma consultoria e comandou o banco Fator até o ano de 2021.
De acordo com integrantes do PT, Galípolo é o grande "trunfo" de Lula para estreitar os laços com o mercado financeiro. O economista estaria atuando como conselheiro de Lula há pelo menos seis meses. “Aqui hoje a gente tem um banqueiro que já não é mais banqueiro e que está do nosso lado nessa briga para reconstruir a democracia”, disse Lula, no final do ano passado, ao se referir ao economista.
Na semana passada, Galípolo assinou com o pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad um artigo no jornal Folha de S. Paulo onde defendem a criação de uma moeda única para a América do Sul. “Sustentamos que a criação de uma moeda pode impulsionar a integração regional, marcada por lentidão, e fortalecer a soberania dos países da América do Sul, que enfrentam limitações decorrentes da fragilidade de suas moedas”, defenderam.
Revisão da reforma trabalhista será encampada por Lula
Além das declarações públicas de Lula, Gleisi Hoffmann e Galípolo sinalizaram ao empresariado que, se eleito, o ex-presidente irá defender uma revisão da reforma trabalhista aprovada em 2017 pelo então presidente Michel Temer (MDB). “Nós temos que consertar o que deu errado. E essa reforma trabalhista deu errado. Passaram-se já quase cinco anos [da aprovação da reforma], nós tivemos o desemprego crescendo, e não tivemos desenvolvimento no país”, defendeu Gleisi.
O economista Gabriel Galípolo também já sinalizou que é preciso "revisitar" a reforma trabalhista e a PEC do teto de gastos. De acordo com ele, a regra não faz uma “diferenciação qualitativa” das despesas do governo, colocando todas sob a mesma régua, e fazendo com que investimentos em infraestrutura, por exemplo, não cubram “nem a depreciação”.
Durante o jantar com empresários em São Paulo, a presidente do PT sinalizou que Lula não pretende mudar o modelo de autonomia do Banco Central. Além disso, Gleisi Hoffmann garantiu que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, cumprirá todo seu mandato até 31 de dezembro de 2024.
Líderes do PT admitem que as propostas econômicas para o plano de governo do ex-presidente Lula estão sendo elaboradas em conjunto por ao menos 80 economistas ligados a Fundação Perseu Abramo (FPA), entidade da sigla formuladora de políticas públicas e estudos para o partido. "Quem vai falar sobre economia será o Lula, não vamos ter um posto Ipiranga", disse Hoffmann durante o encontro com os empresários em São Paulo.
Ex-ministros atuam de forma paralela por Lula
Nos bastidores, ao menos dois ex-ministros dos governos petistas têm atuado para debater propostas para o setor econômico: José Dirceu, que comandou a Casa-Civil no governo Lula, e Aloízio Mercadante, que também ocupou a Casa-Civil e o ministério da Educação nos governos de Dilma Rousseff. A cúpula do PT, no entanto, descarta que ambos estejam trabalhando em nome da candidatura de Lula.
De acordo com integrantes do partido, a dupla tem sinal verde de Lula para as conversas, mas o trabalho não tem o aval do grupo que tem assessorado a campanha do petista. No mês passado, durante um jantar com empresários, o ex-presidente fez questão de reforçar que não pretende tê-los como ministros, caso seja eleito presidente novamente.
Para aliados do ex-presidente, a relação com o meio empresarial ainda precisa ser "melhor azeitada" e vai se desenvolver melhor nos próximos meses. Na cúpula do partido, a avaliação é de que as declarações de Lula sobre mudanças nas leis trabalhistas e a revisão do teto de gastos ainda são um assunto árido que o PT espera vencer com a proposta de negociação prévia.
Na semana passada, durante um evento da Fundação Perseu Abramo, Mercadante sinalizou que a construção de uma mesa de diálogo com os empresários constará no programa de governo de Lula.
"O que foi importante na Espanha? Eles chamaram os empresários, os sindicatos de trabalhadores e iniciaram uma negociação para ver onde era possível avançar. Só depois é que foram para o Congresso. É claro que nessa negociação é preciso se ter previsibilidade, precisa se ter transparência, ter lealdade na negociação”, disse o ex-ministro sobre a revisão da reforma trabalhista que está sendo realizada no país europeu.
Alckmin tem defendido "legado" de Lula durante encontros com mercado financeiro
Prestes as ser chancelado com vice de Lula, Alckmin também já está atuando para reaproximar o petista com setores como do agronegócio, por exemplo. Nos encontros, o ex-governador de São Paulo tem afirmado que Lula deixou um legado na economia. O discurso, segundo aliados de Alckmin, é o mesmo que ele já havia feito durante sua filiação ao PSB.
"Se há exemplo de responsabilidade fiscal é o governo do presidente Lula. A história dele é a história do debate, da busca do entendimento. Não tenho dúvida de que, nas grandes decisões, ele vai buscar ouvir, dialogar", disse Alckmin na ocasião.
De acordo com Alckmin, ele "não precisa acalmar o empresariado". "Ao contrário. Todos querem que a economia cresça, que a economia volte a funcionar e a que população tenha melhor qualidade de vida. Esse é o desafio: consolidar o processo democrático, retomar atividade econômica, gerando emprego e renda e recuperar políticas públicas", completou.
O PSB oficializou a indicação de Alckmin como vice de Lula nesta sexta-feira (8), em um evento em São Paulo. É esperado que o ex-governador tenha um papel de coordenação na pré-campanha e no programa de governo da chapa.
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