Uma ausência foi sentida no almoço de terça-feira (5) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Escalado para dialogar com o setor empresarial em nome da campanha petista, o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) não pôde participar do encontro com alguns dos principais nomes da indústria nacional de bens e serviços.
Ele era presença certa ao lado do ex-ministro Aloizio Mercadante e do ex-governador Geraldo Alckmin, mas o dever de ofício falou mais alto. Padilha passou o dia em Brasília para acompanhar a tramitação da PEC dos benefícios sociais e participar da sessão do Congresso Nacional que analisou vetos do presidente Jair Bolsonaro.
A interlocução com empresários vem ocorrendo há pelo menos seis meses, quando o deputado e ex-ministro petista passou a ter encontros reservados com representantes do setor.
"Converso com os mais variados segmentos desde que fui ministro da coordenação política do ex-presidente Lula. Tenho feito isso [interlocução] desde o final do ano passado e com tranquilidade. Dou os retornos ao ex-presidente Lula", contou Padilha.
Reservadamente, integrantes do PT afirmam que ele integra a ala mais pragmática do partido, que defende que a sigla precisa ampliar o escopo de alianças para eleger Lula presidente da República em outubro. Padilha foi um dos principais entusiastas da composição com Geraldo Alckmin, indicado pelo PSB como vice na chapa petista. Além disso, o parlamentar defendeu, por exemplo, a aproximação com lideranças do PSDB depois que o ex-governador João Doria desistiu de sua pré-candidatura à Presidência.
"As conversas acontecem com lideranças de todas as gerações e lugares e deverão se intensificar ainda mais na medida que fica mais nítido que só Lula e Alckmin podem derrotar Bolsonaro", disse Padilha.
Ao segmento empresarial, ele tem buscado dar sinalizações de que uma eventual volta do ex-presidente ao Palácio do Planalto não deve ser motivo de preocupação. Em abril, durante evento da XP Investimentos nos Estados Unidos, Padilha afirmou que Lula, se eleito, "não fará loucuras na política monetária nem agirá indiferente aos interesses do mercado".
No almoço que teve na Fiesp, Lula disse aos empresários, segundo relato da Folha de S. Paulo, que sua passagem anterior de oito anos pela Presidência o credencia a fazer um novo governo com credibilidade e responsabilidade fiscal. O ex-prefeito paulista e pré-candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad também esteve presente no encontro, que durou cerca de duas horas e meia.
Padilha atua para contornar declarações polêmicas de Lula
Além de abrir diálogo com o mercado financeiro, Alexandre Padilha também atuou nos últimos meses para contornar declarações polêmicas do ex-presidente Lula. Logo após o PT divulgar a primeira prévia com as diretrizes do plano de governo com a previsão de revogação da reforma trabalhista, por exemplo, Padilha entrou em campo para reverter as críticas dos empresários.
Durante encontro promovido pelo grupo Esfera Brasil, Padilha afirmou que Lula "nunca usou a palavra revogação". "Aquilo [prévia do plano] ainda é um rascunho, que será discutido com os partidos coligados e também com a sociedade. Lula nunca usou a palavra revogação da reforma trabalhista", ponderou o petista.
Lula, no entanto, chegou a sinalizar por diversas vezes que faria uma revogação da reforma aprovada em 2017 no governo Michel Temer. As declarações do petista, por diversas vezes, geraram ruído entre os empresários e os demais partidos que apoiam a candidatura, inclusive do PSB, partido de Alckmin.
Além de acalmar os empresários, Padilha reforçou que a versão final do documento passaria pela anuência de Alckmin, considerado um fiador do papel moderador que Lula pretende exercer em um eventual terceiro mandato. "Pode ter certeza que o programa Lula e Alckmin será dos dois, dos vários partidos e da sociedade, não apenas de uma fundação de um partido", afirmou o deputado.
O plano com as diretrizes de governo foi elaborado pela Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. A coordenação foi feita pelo ex-ministro Aloízio Mercadante. Com as críticas, o PT recuou do documento e na nova versão trocou o termo "revogação" por "revisão" da reforma trabalhista. "Lula quer uma mesa de negociação com trabalhadores e empresários para discutir isso", defendeu Padilha. O ex-presidente reforçou essa disposição na reunião que teve com o setor privado na Fiesp, segundo a Folha de S. Paulo.
Recentemente, durante participação na 14ª Citi Brasil Equity Conference, em São Paulo, Padilha aproveitou para defender a revisão do teto de gastos. O tema é encampado por Lula, mas gera incertezas no meio empresarial. Na sua avaliação, mudanças significativas no cenário justificariam essa medida. "Muita coisa não estava prevista na época de quem criou [o teto]. Em 2016, [o ministro da Economia Henrique] Meirelles não sabia que iria ter pandemia, governo Bolsonaro, esse conjunto de irresponsabilidades [do atual governo]", afirmou o deputado petista.
Ao lado de Lula e Alckmin, Padilha rejeita antecipação de indicação como ministro
Principal interlocutor do PT com o meio empresarial, Padilha agora tem organizado novos encontros de Lula e Alckmin com o setor. Segundo líderes petistas, a estratégia tem como objetivo "pavimentar" o caminho que o deputado já vinha traçando nos últimos meses.
Na última semana, por exemplo, Lula respondeu a perguntas sobre como conduzirá a economia e como será o relacionamento com o Congresso em seu eventual novo governo. Ele afirmou que pode ter algumas divergências com o empresariado, mas que essas diferenças são sanáveis por meio de negociação.
Na avaliação de Alexandre Padilha, a interlocução da campanha do PT com o mercado empresarial está sendo retomada aos poucos e um exemplo disso foi o almoço na sede da Fiesp. "Estamos evoluindo nesse diálogo [com os empresários]. O ex-presidente Lula é conhecido dos atores econômicos. No governo dele teve a combinação de crescimento, com responsabilidade fiscal", afirmou.
Apesar da habilidade política, Padilha tem rechaçado as especulações de que ocuparia um cargo de ministro da Economia em um eventual governo Lula. De acordo com ele, o ex-presidente não discute este assunto no momento e que, diferentemente de Jair Bolsonaro, "não precisa de um posto Ipiranga", em referência ao atual ministro da Economia, Paulo Guedes.
A mesma avaliação é feita internamente por nomes do PT. Para o entorno do ex-presidente, uma indicação antecipada de nomes de ministro antes das eleições serviria apenas para "fritura" do postulante ao cargo e do próprio Lula.
Quem é Alexandre Padilha
Deputado de primeiro mandato, Alexandre Padilha é filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 1988. Formado em Medicina, o petista atuou como membro da coordenação nacional das campanhas à Presidência de Lula da Silva em 1989 e em 1994.
Em 2009, foi escalado por Lula como ministro da Secretaria de Relações Institucionais do Brasil. Em 2011, no primeiro ano do governo Dilma Rousseff, passou a comandar o Ministério da Saúde, onde permaneceu até meados de 2014. Naquele ano, disputou o governo de São Paulo, mas acabou ficando em terceiro lugar com cerca de 18% dos votos. Padilha foi derrotado por Alckmin, que se reelegeu governador ainda no primeiro turno da disputa.
Durante a campanha, o candidato petista criticou o então governador pelo PSDB. "Eu quero ser o governador para trabalhar de verdade os quatro anos do meu mandato. E não como o Alckmin, um governador de promoção em véspera de eleição" disse Padilha em um dos comerciais da campanha. Após a derrota, afirmou que faria "uma oposição construtiva".
Recentemente, em entrevista à Gazeta do Povo, Padilha afirmou que, se eleito, Lula pretende retomar o programa Mais Médicos com a contratação de profissionais cubanos. Ele argumenta que os médicos de Cuba estão "em mais de 80 países pelo mundo" e que a atuação deles foi essencial para que a pandemia de Covid-19 causasse menos efeitos em "países europeus e asiáticos".
"A pandemia traz vários problemas de saúde represados, como cirurgias não realizadas, diagnóstico de câncer não realizados, perda de atenção a doenças crônicas, o que vai exigir uma atenção primária em saúde mais forte ainda. Vai exigir a ampliação da cobertura. Vai exigir médicos mais próximos das pessoas nas áreas vulneráveis", disse.
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