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O governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), no anúncio do apoio do tucano ao candidato à reeleição
O governador Rodrigo Garcia (PSDB-SP) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), no anúncio do apoio do tucano ao candidato à reeleição.| Foto: Reprodução / Facebook

Os dias seguintes ao primeiro turno das eleições foram dedicados à costura de apoio em prol das candidaturas de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As duas campanhas buscam garantir o voto de candidatos derrotados na corrida presidencial e também de nomes de eleitos que concorreram a outros cargos no segundo turno.

Na terça-feira (4), Bolsonaro conseguiu o apoio dos governadores dos três estados mais populosos do Brasil, Rodrigo Garcia (PSDB-SP), Romeu Zema (Novo-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ), enquanto Lula garantiu o endosso do PDT de Ciro Gomes e da ex-presidenciável Simone Tebet (MDB).

A disputa por apoios reacende um debate antigo sobre a real efetividade da "transferência de votos". Basicamente porque há diferenças políticas e sociais entre a disputa nacional e as corridas pelos governos estaduais que pesam no momento da escolha do voto pelo eleitor.

Em Minas Gerais, por exemplo, Zema foi reeleito no primeiro turno com 56% dos votos válidos contra 35% do adversário Alexandre Kalil (PSD), candidato apoiado por Lula. Com tantos votos em Zema, cujo partido é da direita liberal, seria natural por afinidade que Bolsonaro também tivesse recebido mais votos, mas não foi o que aconteceu. Lula venceu por 48% a 43% do atual presidente. A diferença agora é a adesão oficial do governador mineiro à candidatura Bolsonaro, que pode ajudá-lo a virar os votos "Lulema" do primeiro turno.

O cientista político André Rosa avalia que nas eleições é comum a existência de um quadro que ele chama de "voto de endosso", que ocorre quando eleitores votam motivados pela decisão de seus líderes políticos. "Muitas vezes o eleitor escolhe um atalho informacional e opta por votar naquele que seu líder indicou. O eleitor não verifica as agendas dos candidatos que restaram, e sim vai pela indicação", disse.

Na eleição atual, o quadro seria favorável a Lula, por conta de Simone Tebet (MDB) e do PDT de Ciro Gomes. Em um exemplo hipotético, se todos os eleitores que optaram por Ciro no primeiro turno migrarem para Lula – e o petista não perder votos –, a eleição estaria decidida a favor do ex-presidente, já que ele somaria mais de 51% dos votos. Mas o cálculo não é tão simples assim.

A cientista política Deysi Cioccari tem uma visão diferente. Ela acredita que a eleição presidencial de 2022 parte de um patamar em que a quase totalidade do eleitorado já tem um posicionamento definido entre Bolsonaro e Lula. Há menos margem, portanto, para uma distribuição de votos decisiva para o segundo turno.

Na avaliação dela, entretanto, um direcionamento mais efetivo do voto pode ocorrer no caso dos eleitores de Tebet, pelo fato de a emedebista ter desenvolvido parte de sua base de apoio dentro do agronegócio, segmento que seria mais suscetível a um posicionamento da ex-presidenciável.

Cioccari aponta que o peso dos apoios é mais sensível em eleições estaduais. Segundo ela, a proximidade explica o quadro: como os partidos se organizam de modo mais regionalizado, é possível que o apoio firmado pelas lideranças políticas seja replicado de modo mais eficiente na base.

Em São Paulo, Rodrigo Garcia, que foi o terceiro colocado no primeiro turno, decidiu apoiar na reta final da disputa seu adversário Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), o candidato de Bolsonaro no estado.

Apoio no segundo turno influenciou eleições anteriores?

Na eleição presidencial de 2014, a mais acirrada desde a redemocratização até a disputa atual, um dos momentos mais marcantes do segundo turno foi a declaração de apoio de Marina Silva (então no PSB) a Aécio Neves, o candidato do PSDB que rivalizava com Dima Rousseff (PT). Marina havia sido a terceira colocada no primeiro turno, com 22,1 milhões de votos.

A somatória dos votos de Marina e Aécio no primeiro turno – o tucano recebera 34,8 milhões de votos – também garantiria uma vitória ao tucano, já que a totalização corresponderia a 54% dos votos válidos. Mas o segundo turno registrou um quadro distinto. A vitoriosa foi Dilma, que recebeu 54,5 milhões de votos, contra 51,0 milhões de Aécio. Foi uma ocasião, portanto, em que a transferência de votos em decorrência do apoio não se concretizou.

Já em 2018, eleição que teve Bolsonaro (então no PSL) e Fernando Haddad (PT) no segundo turno, a maior parte dos partidos e candidatos anunciou neutralidade. Foi o caso do PSDB, presidido na época por Geraldo Alckmin e que foi o presidenciável da legenda na ocasião. O Novo, do quinto colocado na disputa João Amoêdo, também disse que permaneceria neutro – mas parte expressiva de seus filiados, incluindo o próprio Amoêdo, acabou declarando voto em Bolsonaro.

Partidos como PSB, PDT e Psol formalizaram apoio a Haddad, enquanto PTB e PSC, além de lideranças de outras legendas, optaram por Bolsonaro. O quadro de apoios mudou pouco o cenário da eleição. Bolsonaro foi o mais votado no primeiro turno, com 46,0% dos votos válidos, e repetiu a dose no segundo turno, com 55,1%.

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