A ex-ministra Marina Silva e o ex-presidente Lula, após coletiva de imprensa nesta segunda (12).| Foto: Ricardo Stuckert
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A ex-ministra do Meio Ambiente e candidata a deputada federal por São Paulo, Marina Silva (Rede), anunciou apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa pela Presidência da República, nesta segunda-feira (12). A aliança marca a retomada de uma relação de anos, entre Marina e o PT, que havia sido rompida definitivamente nas eleições de 2014.

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O arranjo deve ser benéfico para ambos. De um lado, Lula e Fernando Haddad (PT), que concorre ao governo de São Paulo, tentam conter o avanço de Jair Bolsonaro (PL) e de seu candidato ao Executivo estadual, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), entre os eleitores paulistas. De outro, Marina fortalece sua candidatura à Câmara dos Deputados.

Pesquisa da Genial/Quaest (veja a metodologia abaixo), divulgada no final da semana passada, mostra Bolsonaro com 37% das intenções de voto em São Paulo, contra 36% de Lula. Na disputa para governador, levantamento do Ipespe aponta que Haddad tem 36%, contra 21% de Tarcísio. O atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), marcou 16% das intenções de voto.

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“Os dois [Lula e Haddad] precisam jogar fora da bolha, ampliar seu eleitorado. A Marina não ajuda muito no interior de São Paulo, que é mais conservador, mas tem boa projeção na capital. O ganho é o fortalecimento em grandes centros urbanos”, diz Maria do Socorro Braga, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Além disso, Marina tem apelo junto a dois segmentos importantes nesta eleição: as mulheres e os evangélicos. Segundo a última pesquisa do Datafolha, Lula lidera entre mulheres (46%, contra 29% de Bolsonaro) e católicos (54%, frente a 27% de Bolsonaro). O petista, porém, está atrás entre os evangélicos. Nesse segmento, Bolsonaro marca 51% das intenções de voto, enquanto Lula, 28%.

A campanha do petista vem tentando aproximá-lo dos evangélicos, principalmente nas redes sociais. A percepção é de que o apoio de Marina, que também é evangélica, pode ajudar a virar votos nesse grupo.

O que Marina e a Rede ganham ao apoiar Lula

A aliança entre Marina e Lula também beneficia a Rede, legenda da ex-ministra que já apoiava formalmente a candidatura do petista.

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“O partido, hoje, está em uma posição muito enfraquecida. A Marina também vem perdendo cada vez mais espaço. Dada essa conjuntura e as novas regras eleitorais, que vão pegar em cheio partidos pequenos como o dela, é uma estratégia de sobrevivência”, diz a professora da UFSCar, se referindo à cláusula de barreira, que impõe um bom desempenho nas urnas como condição para que a legenda continua a ter acesso a dinheiro público dos fundos partidário e eleitoral.

Em 2010, quando concorreu a presidente pela primeira vez, Marina ficou em terceiro lugar, com 19,33% dos votos. Em 2014 seu desempenho foi semelhante: Marina obteve 21,32% dos votos. Em 2018, porém, sua candidatura foi desidratada pela onda que elegeu Bolsonaro: na ocasião, a candidata fez apenas 1% dos votos.

Nas últimas eleições, a Rede elegeu só uma deputada federal, Joênia Wapichana (Roraima). Agora, o partido tem 182 candidatos a deputado federal e 293 a deputado estadual. O PL, legenda com o maior número de candidatos, tem 508 concorrentes a deputado federal e 996 a deputado estadual.

Reconciliação depois de oito anos

Nesta segunda, Marina afirmou que estava vivendo um “reencontro político e programático” com Lula. “Do ponto de vista de nossas relações pessoais, nunca deixamos de estar próximos e de conversar em momentos dolorosos de nossas vidas”, disse.

Mas, publicamente, as rusgas entre a candidata e o PT duravam anos. Marina foi ministra do Meio Ambiente entre 2003 e 2008, na gestão de Lula. Ela deixou o governo alegando enfrentar dificuldades para “dar prosseguimento à agenda ambiental federal”.

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A relação se deteriorou ainda mais depois que Marina passou a disputar as eleições presidenciais com candidaturas competitivas.

Em 2014, pesquisas de intenção de voto chegaram a mostrar Marina vencendo Dilma Rousseff (PT) no segundo turno. A candidatura da ex-ministra, porém, sofreu vários ataques, inclusive no horário eleitoral. Na segunda etapa do pleito, ela apoiou Aécio Neves (PSDB), e não Dilma.

Polarização afasta Marina da terceira via

De acordo com Braga, a reaproximação com Lula tem relação com o contexto de grande polarização que pauta as eleições.

“São duas propostas diferentes de país [a de Bolsonaro e a de Lula], uma conservadora e uma progressista. A Marina e a Rede sempre tiveram esse olhar mais progressista. É claro que há pontos de discordância, mas, diante dessa radicalização [entre as duas candidaturas], faz sentido que ela apoie Lula”, explica a professora.

Em sua fala nesta segunda, Marina afirmou que a declaração de apoio ao petista ocorre “diante de um quadro grave da história de nosso país, em que temos ameaça à democracia”. “Sempre que a democracia é ameaçada, há uma tentativa de corrosão do tecido social em todas as suas dimensões”, disse.

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A polarização explica, ainda, por que Marina deixou de lado a candidatura de Ciro Gomes (PDT), também do campo da esquerda. A candidata chegou a ser cotada como vice de Ciro, mas a aliança não foi adiante.

Nesta segunda, a ex-ministra disse que reconhece como “legítimos os demais esforços que estão sendo feitos para se tornarem alternativa” à polarização entre Lula e Bolsonaro na disputa pela Presidência.

“Mas compreendo que, nesse momento crucial de nossa história, quem reúne as maiores condições para derrotar Bolsonaro e a semente maléfica do bolsonarismo, que está se implementando no seio de nossa sociedade, é a candidatura de Lula”, opinou.

Políticas para o meio ambiente, uma das grandes pautas de Marina, também a aproximam do PT. Durante a gestão de Bolsonaro, a candidata criticou a postura do governo em relação ao tema, afirmando haver um desmonte de ações voltadas à preservação.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Metodologia das pesquisas citadas

  • Genial/Quaest - presidente em São Paulo

A pesquisa encomendada pela Genial Investimentos a Quaest Pesquisa e Consultoria entrevistou presencialmente 2 mil pessoas, entre os dias 2 e 5 de setembro de agosto. A margem de erro do levantamento é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com os números SP-04685/2022 e BR-05452/2022.

  • Ipespe - governador de São Paulo

A pesquisa eleitoral encomendada pela Inter TV para o Ipec entrevistou 1.000 pessoas, entre os dias 5 e 7 de setembro. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número SP-09627/2022.

  • Datafolha - presidente
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O Datafolha entrevistou 2.676 eleitores entre os dias 8 e 9 de setembro em 191 municípios brasileiros. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-07422/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.