Bolsonaro e o ex-ministro Abraham Weintraub: de aliado a crítico do governo.| Foto: Marcos Corrêa/PR
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A pré-campanha para as eleições em São Paulo, tanto nas articulações para o cargo de governador quanto de senador, está provocado uma divisão na base ideológica do presidente Jair Bolsonaro (PL). O racha tem sido marcado por trocas de farpas por integrantes da direita. E, nesse tiroteio verbal, sobram críticas inclusive ao governo Bolsonaro.

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Apesar do plano de Bolsonaro de lançar o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, na disputa pelo governo de São Paulo, a base do presidente também ainda pode contar com a candidatura do ex-ministro Abraham Weintraub para o mesmo posto. Weintraub, que comandou o Ministério da Educação até junho de 2020, tem feito críticas ao governo do qual fez parte e entrado em atritos com aliados de Bolsonaro nas redes sociais. O ex-ministro pretende se filiar ao PTB ainda neste mês.

A candidatura ao Senado em São Paulo (apenas uma vaga estará em disputa nas eleições) também tem motivado atritos na base mais ideológica de Bolsonaro. Nesse caso, os personagens envolvidos são o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente); o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf; a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL); e a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos).

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Entenda o conflito envolvendo Weintraub e Bolsonaro

No Palácio do Planalto, integrantes do governo afirmam que a expectativa de Bolsonaro era de ter apenas a candidatura de Tarcísio ao governo de São Paulo. No entanto, Weintraub já sinalizou que não pretende deixar a disputa e levará sua pré-candidatura até o final. Nos cálculos, governistas admitem que as duas candidaturas podem dividir votos dos eleitores mais ideológicos no estado.

A disputa já provocou reações por parte daqueles que defendem que apenas Tarcísio seja candidato ao governo no estado. Como é o caso da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), que pleiteia a vaga ao Senado na chapa do ministro de Infraestrutura.

"Bora reunir todos na mesma sigla! Tarcísio – Governador; Ângela Gandra – Vice; Janaina – Senadora; Abraham líder de uma super bancada de federais e Arthur [Weintraub, irmão de Abraham] de estaduais”, escreveu a deputada nas redes sociais.

O tweet provocou uma reação por parte de Abraham Weintraub, que classificou a Janaína como "interesseira". "Quando era de seu interesse, você descobriu meu telefone e me ligou (não fui eu que te procurei). Agora twitta sobre sua decisão, querendo se impor. Achei sua postura muito falsa e interesseira”, respondeu o ex-ministro da Educação.

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Posteriormente à troca de farpas com Janaina, Weintraub criticou o próprio governo Bolsonaro, especificamente à aliança com partidos do Centrão. Em live realizada na última segunda-feira (17), afirmou que os conservadores foram "substituídos por essa turma [o Centrão]".

Na mesma live, promovida pelo canal ConservaTalk, o também ex-ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) endossou as críticas à aliança de Bolsonaro com o Centrão. Disse que esse grupo político "começou a dominar o governo e pautar o governo".

Segundo informações de bastidores, as críticas de Weintraub teriam irritado Bolsonaro. Em um grupo de WhatsApp que mantém com ministros, o presidente teria afirmado que Weintraub "não está para colaborar, mas para tumultuar". Além disso, na quarta (19), circulou a informação de que o Planalto não deve reconduzir Weintraub ao cargo que ele tem no Banco Mundial, em Washington (EUA) – o ex-ministro havia sido indicado para a função pelo governo brasileiro após ele deixar o MEC.

Na quinta-feira (21), mais um capítulo da queda de braço entre Weintraub e os aliados mais próximos de Bolsonaro. Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) endossou no Twitter críticas do secretário nacional da Cultura, Mário Frias, aos irmãos Weintraub.

"Não se trata de dividir/unir a direita, mas separar o joio do trigo. Todo este tempo que nós engolíamos sapos, na verdade era a chance para eles se corrigirem, mas nada foi feito. Então agora está aí tudo as claras", escreveu Eduardo Bolsonaro.

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Dentre outras postagens, Frias havia escrito: "Digo para quem quiser ouvir: vocês [os irmãos Weintraub] são oposição, a mais baixa que existe, a oposição cínica e sonsa. E não são conservadores coisa nenhuma. São 2 oportunistas que encheram o Ministério de esquerdistas e só se agarraram no conservadorismo quando a coisa apertou pro lado de vocês". E também: "Vocês se vendem como mártires, mas ganham uma fortuna em dólar para ficar alimentando ataque contra o presidente e seus aliados. Toma vergonha na cara, rapaz. Indireta é coisa de moleque. Vira homem."

Qual é (ou era) o cálculo político de Weintraub

A Gazeta do Povo apurou que o ex-ministro Abraham Weintraub, que desembarcou no Brasil no início do mês vindo de Washington, pretende ficar em São Paulo até o final da primeira quinzena de fevereiro. Nesse período, ele pretende buscar compor alianças com conservadores no intuito de viabilizar sua candidatura ao governo de São Paulo.

Antes de os atritos de Weintraub com outros integrantes da base "raiz" de Bolsonaro se intensificar, ele contava com apoio da cúpula do PTB, partido que já foi convidado pelo presidente Bolsonaro para integrar sua coligação de reeleição junto ao PL, PP e Republicanos.

Com os encontros e agendas públicas, aliados de Weintraub acreditavam que o ex-ministro irá impulsionar sua a popularidade nas pesquisas eleitorais. A medida, segundo integrantes do PTB ouvidos antes da intensificação da troca de farpas, é uma forma do partido cacifar um maior espaço na composição da coligação com o presidente Bolsonaro.

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Numa eventual desistência de Weintraub para a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, o ex-ministro pretendia ser indicado para vaga ao Senado na chapa de Tarcísio de Freitas. Mas estratégia não conta com o aval de nomes ligados ao ministro da Infraestrutura.

Como a disputa pelo Senado também provoca atritos na base "raiz" de Bolsonaro

A eleição de senadores é tida como prioridade pelo presidente Bolsonaro – o Senado é a Casa legislativa onde o governo mais tem sofrido derrotas. Mas a base mais ideológica do presidente também entrou em atrito em São Paulo por causa da indicação para essa vaga na campanha eleitoral.

Inicialmente, quem queria ser o candidato ao Senado do grupo de Bolsonaro era o ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente). Mas ele retirou sua candidatura afirmando que Tarcísio de Freitas escolheu o empresário e ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf (MDB) para ser o candidato ao Senado na chapa. O primeiro atrito: Tarcísio negou. "Não houve nada disso", afirmou ao jornal O Globo. Apesar disso, nos bastidores, a informação é de que Skaf é próximo de Tarcísio, e deve deixar o ninho emedebista e se filiar a um outro partido.

Posteriormente, a deputada Janaína Paschoal (PSL), começou a articular sua candidatura ao Senado pela chapa aliada de Bolsonaro em São Paulo. Depois de ter se afastado do presidente, Janaina começou a dar declarações ideologicamente alinhados com Bolsonaro, como na questão da vacinação de crianças contra a Covid.

Mas, na quarta-feira (20), o presidente disse que fez um convite para que a ministra Damares Alves ( Mulher, Família e Direitos Humanos) seja a candidata do seu grupo político ao Senado em São Paulo.

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Janaina Paschoal então mudou de postura e passou a criticar Bolsonaro. "Com a habilidade que Bolsonaro tem para re(unir) a direita, em 23, teremos um Senado vermelho, para dar sustentação a Lula", disse a deputada em postagem no Twitter.

Centrão pretende passar longe das brigas na base ideológica

Antes desta semana, em que os atritos na base mais ideológica de Bolsonaro se intensificassem, a avaliação tanto integrantes do governo quanto do PTB (partido ao qual Weintraub pretende se filiar) não descartavam haver dois palanques para Bolsonaro no estado de São Paulo: um do ex-ministro da Educação e outro de Tarcísio Freitas.

Mas integrantes do Planalto vinham defendendo que Weintraub saíssem como candidato para deputado federal com apoio da base, pois o ex-ministro teria força para puxar votos para a bancada aliada de Bolsonaro. Por outro lado, o PTB pretendia manter o apoio à reeleição do presidente, mas vinha dizendo que a decisão sobre a candidatura final seria de Weintraub.

"Estamos fechados com Bolsonaro. O PTB não abre mão dos seus valores, o PTB não abre mão de Bolsonaro reeleito em 2022. Em São Paulo, vamos ter uma candidatura ao governo ou ao Senado", afirmou a presidente do PTB, Graciela Nienov, antes da intensificação dos atritos na base de Bolsonaro em São Paulo.

Já líderes do Centrão, um dos alvos de Weintraub, afirmavam reservadamente quem a "confusão" entre aliados do próprio presidente não deve refletir em seus redutos eleitorais.

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No entanto, os congressistas avaliam que a desorganização da base ideológica pode prejudicar a eleição do próprio grupo. "Além do ego, eles batem cabeça com questões pequenas. Esse mesmo bate-cabeça a gente viu quando o governo Bolsonaro se elegeu e nada ia pra frente por conta dessas picuinhas", avaliou um líder do Centrão.

Para outro líder, do PL, mesmo partido de Bolsonaro, o presidente deve focar no seu projeto de reeleição e deixar essas questões de lado. "Aqui estamos focados em construir palanques e ampliar a viabilidade pequena. Não estamos nos envolvendo nessas questões pequenas da base ideológica do presidente", disse.

Apesar da filiação do presidente ao PL, o partido não deve ser o principal escolhido pelos integrantes da bancada mais ideológica de Bolsonaro, que hoje está filiada ao PSL. Nos cálculos, o PTB deve receber ao menos metade dos cerca de 30 deputados aliados ao presidente, entre eles Carla Zambelli (PSL-SP), Filipe Barros (PSL-PR), Sanderson (PSL-RS), Daniel Silveira (PSL-RJ) e Soraya Manato (PSL-ES).

“É com muita alegria que informo a todos que aceitei o convite do PTB para integrar o partido. Uma sigla de direita, conservadora e que apoia nosso presidente Bolsonaro”, disse recentemente Manato.

Com isso, líderes do Centrão não temem maiores impasses nos diretórios estaduais com a base mais ideológica do presidente.

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