O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente nacional do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), selaram na quinta-feira (24) o embarque do partido na aliança eleitoral construída pela reeleição de Bolsonaro. A adesão da legenda fortalece a coligação presidencial ao compor o "tripé" com PL e PP, as siglas mais fortes do Centrão.
A relação entre o Republicanos e o governo estava estremecida, com sinais nos bastidores de que o partido estava formalmente fora da base governista e que ficaria neutro no primeiro turno das eleições. A cúpula se ressentia da falta de prestígio dada por Bolsonaro e Marcos Pereira explicitou isso no fim de fevereiro, quando disse que o presidente da República "só atrapalhou" o crescimento da legenda.
O Republicanos entrou na janela partidária com 31 deputados federais e, atualmente, conta com 41 em exercício, tendo superado a marca almejada por Pereira. A meta, contudo, foi atingida sem o apoio direto de Bolsonaro. O discurso na bancada é de que o governo não teve a preocupação em compor com as legendas da base e distribuir a filiação de aliados do presidente entre PP e Republicanos.
O PL, por exemplo, saiu de 43 deputados antes da janela partidária para 65, atualmente, sendo o maior partido da Câmara dos Deputados. O PP, que também não contou com a influência direta de Bolsonaro para acomodar aliados, teve um salto mais tímido, de 43 deputados em exercício para 46.
A bancada do Republicanos sabia que era evidente que muitos parlamentares escolheram acompanhar Bolsonaro e se filiar ao PL, mas é comum na política o presidente da República que vai à reeleição usar de seu capital político para buscar acordos e acomodar aliados em outros partidos da base, situação que não ocorreu. "Ele arrastou um monte de deputados ao PL e deixou os outros a ver navios", critica reservadamente um interlocutor do Republicanos.
Além de não estimular a filiação de aliados ao Republicanos, existe uma crítica de que Bolsonaro pouco cedeu na acomodação de apadrinhados do partido no governo. Mesmo o ministro da Cidadania, João Roma, deputado federal eleito pelo partido na Bahia, não foi uma indicação do Republicanos. Não por acaso Roma está de partida da legenda. Ele vai se filiar ao PL no domingo (27), no evento de lançamento da pré-candidatura presidencial à reeleição.
O que Bolsonaro fez para assegurar o Republicanos em sua aliança eleitoral
Os sinais de uma possível neutralidade do Republicanos no primeiro turno acenderam o sinal de alerta no governo. Afinal, cálculos internos feitos pelo núcleo duro de Bolsonaro sugerem a possibilidade de vitória e reeleição nas urnas sem a necessidade de um segundo turno. Mas, segundo membros da coordenação eleitoral, isso só será possível com uma grande estrutura partidária.
Por isso, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos coordenadores eleitorais da campanha presidencial junto do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e do presidente licenciado do PP e ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, aprofundou as conversas com Marcos Pereira para chegar a um acordo que mantivesse o Republicanos na base eleitoral.
O diálogo entre o senador e o chefe do Republicanos se arrastou ao longo dos últimos 30 dias até chegar em um denominador comum para ambos. O partido apresentou como demandas a filiação da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, bem como o controle da pasta, além da filiação do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. A possibilidade de filiação do pré-candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, o ministro da Defesa, Braga Netto, também entrou em pauta.
As negociações avançaram e Flávio apresentou as demandas ao pai, que chamou Marcos Pereira para selar o acordo em uma reunião fora da agenda oficial, na quinta, no Palácio da Alvorada. Ali, ele consentiu com a filiação de Damares e Tarcísio no Republicanos e em ceder o ministério dela ao partido.
"O Flávio colaborou muito para isso, tem viajado o Brasil inteiro. Ele está fazendo um trabalho extraordinário de aliança", elogia um interlocutor do ministério comandado por Damares, que confirma a filiação da ministra ao Republicanos na segunda-feira (28). Já Tarcísio usou o Twitter para dizer que se filiará ao partido e tornou público o acordo firmado entre Bolsonaro e Marcos Pereira.
"O Republicanos é um partido muito importante para a coligação. Tem uma base evangélica, então, há um alinhamento natural. E o Flávio era senador deles até pouco tempo e havia o interesse de azeitar bastante a relação", diz um interlocutor do Palácio do Planalto, confirmando também o acordo para o Republicanos indicar o sucessor de Damares e a filiação de Tarcísio à legenda.
Quem mais auxiliou no acordo e qual o impacto para as eleições
O senador Flávio Bolsonaro não foi o único a atuar nos bastidores pelo acordo firmado. Valdemar Costa Neto, Ciro Nogueira e outros quadros políticos com influência nas cúpulas dos partidos da base também avalizaram a negociação. Um deles é o pastor e ex-senador Magno Malta (PL-ES).
A engenharia política para a filiação de Damares ao Republicanos e a entrega do comando do ministério a um indicado do partido não teve a simpatia de lideranças evangélicas, a exemplo do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia.
Segundo fontes com conhecimento das negociações entre governo e Republicanos, Malafaia queria ter influência no processo decisório e indicar um aliado para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Essa operação, contudo, comprometeria a candidatura de Damares ao Senado pelo Amapá.
Por isso, Malta, que é aliado de Malafaia e Bolsonaro, e defensor da candidatura de Damares ao Senado, atuou para convencer o líder religioso a recuar. O Republicanos deu sinais de que, sem indicar o sucessor de Damares, o partido filiaria a ministra, mas a lançaria como deputada federal pelo Distrito Federal e não ao Senado.
A presidente do diretório amapaense do Republicanos, deputada federal Aline Gurgel, é favorável a apoiar a candidatura do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) à reeleição, afirmam fontes do governo. Ou seja, sem ter suas demandas atendidas, a legenda poderia optar pelo apoio a um adversário de Bolsonaro no estado.
Acontece, contudo, que Bolsonaro quer se reeleger e ampliar sua bancada no Senado. Para isso, ele conta e insiste com a candidatura de Damares ao Senado. Então, para ter o Republicanos em sua coligação e lançar sua ministra ao Senado no Amapá, ele atendeu os pedidos feitos.
A mesma lógica pragmática prevaleceu em São Paulo, onde o PL queria lançar Tarcísio de Freitas como candidato a governador no estado que é o colégio eleitoral de Valdemar Costa Neto. Ocorre, contudo, que a unidade da federação também é a base eleitoral de Marcos Pereira e onde está situada a sede da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação evangélica ao qual o Republicanos é associado.
Ao estender as mãos ao Republicanos e atender às demandas feitas pelo partido, Bolsonaro larga com uma estrutura partidária robusta composta por três dos principais partidos do Centrão. Uma vez coligados, isso significa que a chapa presidencial vai dispor de muitos recursos do fundo eleitoral e minutos nas inserções eleitorais de rádio e TV, além de obter mais aliados para defender a campanha nos estados.
Acordo assegura aliança poderosa para Bolsonaro, diz vice-líder do Republicanos
O acordo entre Bolsonaro e Marcos Pereira é comemorado pelo deputado federal Aroldo Martins (Republicanos-PR), vice-líder do partido na Câmara. "Com Tarcísio e Damares [filiados], isso demonstra que nós estaremos na chapa apoiando Bolsonaro, é uma aliança poderosa para as eleições", analisa.
O parlamentar reconhece que o relacionamento entre seu partido e o governo estava abalado, mas, agora, prevê um realinhamento positivo. "As relações estavam estremecidas, mas agora temos uma sinalização boa de aproximação e que vamos caminhar juntos", afirma.
O vice-líder do Republicanos destaca sua legenda e entende que o perfil foi essencial para o crescimento do partido antes do acordo selado com o governo. ""Em questão de ideologia partidária, o Republicanos é o único partido no Brasil que mantém o seu manifesto político bem marcante e a sua maneira de ser como partido. Um partido conservador, pró-família, com uma base cristã, um perfil e característica conservador, de família, que defende a pauta de costumes e valores", diz.
Martins não confirma, no entanto, se o Republicanos também está próximo de filiar o ministro da Defesa e emplacar o vice na chapa presidencial. "Começou a surgir essa informação de que o Braga Netto venha a concorrer a vice-presidente na chapa e que venha pelo Republicanos. Tudo isso que está sendo falado são conversas de corredores, não existe nenhuma conversa oficial em relação a isso", diz. "Existem namoros, flertes, algo totalmente natural nessa época, em ano de eleição", complementa.
A meta do partido é manter o fortalecimento em âmbito nacional, o que não inviabilizaria uma candidatura de Braga Netto, embora ainda não haja conversas concretas. "Nós estamos realmente trabalhando no sentido de nos fortalecermos este ano e fazermos uma bancada expressiva, de continuarmos sendo o partido que mais tem crescido em todas as eleições", destaca Martins.
Interlocutores do Planalto apontam que o Republicanos é um partido bem cotado para filiar ao Braga Netto, embora também coloquem o PP como um dos favoritos.
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