Assim como em 2018, quando estava filiado ao PSL, o presidente Jair Bolsonaro (PL) chega ao segundo turno com a eleição de uma grande bancada para o Congresso Nacional. Desta vez, além de eleger 99 deputados, a maior da Câmara, a legenda do presidente também terá maioria no Senado. Com os oito eleitos no último domingo (2), o PL somará 14 cadeiras das 81 da Casa a partir de 2023.
A eleição da bancada de deputados do PL foi a maior da Câmara nos últimos 24 anos. Fica atrás apenas do antigo PFL, que em 1998 fez 106 parlamentares na reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Já no Senado, é a primeira vez desde a redemocratização que o MDB sai de uma eleição sem eleger a maior bancada. O partido tinha hegemonia na Casa desde as eleições de 1986.
Outros partidos aliados de Bolsonaro, como o PP e o Republicanos, tiveram redução em seus quadros. Contudo, aliados do Centrão avaliam que a força do grupo, ao menos na Câmara, se manterá inalterada em caso de reeleição do presidente. O Republicanos perdeu três cadeiras, passando dos atuais 44 deputados para 41. No Senado, o partido contará com três senadores em 2023, entre eles a ex-ministra Damares Alves, eleita pelo Distrito Federal.
Já o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, viu sua bancada diminuir em 11 deputados, dos atuais 58 para 47 na próxima legislatura. Entretanto, uma notícia na véspera da eleição tirou o foco do desempenho irregular da legenda nas urnas. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), admitiu que o Progressistas negocia uma fusão com o União Brasil, recém-criado a partir da união do DEM com o PSL, no fim do ano passado.
Caso a fusão se concretize, a nova legenda deverá reunir a maior bancada de deputados da próxima legislatura, somando os 47 do PP com os 59 do União Brasil. Com isso, o novo partido teria 106 cadeiras na Câmara, tirando do PL o posto de maior bancada. A expectativa é de que as conversas entre os dois partidos avancem após o segundo turno das eleições.
Reforçar a base de apoio no Congresso era prioridade de Bolsonaro
A ampliação da base governista no Congresso era uma das principais apostas de Bolsonaro desde a pré-campanha. No Senado, onde o atual presidente costumava acumular derrotas, as candidaturas de aliados e ex-ministros eram prioridade na estratégia eleitoral do presidente.
Dos 27 candidatos eleitos para o Senado, 14 são apoiados pelo presidente, sendo quatro deles ex-ministros do governo (Rogério Marinho (PL-RN), Marcos Pontes (PL-SP), Tereza Cristina (PP-MT) e Damares Alves (Republicanos-DF); um ex-secretário, Jorge Seif (PL-SC); e o vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS).
No domingo, depois do resultado das urnas, Bolsonaro comemorou nas redes sociais. "Esta é a maior vitória dos patriotas na história do Brasil. Elegemos as maiores bancadas da Câmara e do Senado, o que era a nossa maior prioridade neste primeiro momento", escreveu.
Por outro lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que terminou o primeiro turno à frente de Bolsonaro, conseguiu eleger apenas oito senadores aliados, sendo seis deles da Região Nordeste: Camilo Santana (PT-CE), Renan Filho (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Flávio Dino (PSB-MA), Teresa Leitão (PT-PE), Wellington Dias (PT-PI), Beto Faro (PT-PA) e Omar Aziz (PSD-AM).
Nomes ligados ao presidente Bolsonaro foram campeões de votos em seus redutos eleitorais. Em São Paulo, a deputada Carla Zambelli foi a segunda parlamentar mais votada, com 946 mil votos. Ela foi seguida pelo filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, que obteve 741 mil votos, e pelo ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que chegou a 640 mil votos. O trio só ficou atrás de Guilherme Boulos (Psol), que teve mais de 1 milhão de votos.
Já o general da reserva Eduardo Pazuello (PL), ex-ministro da Saúde, foi o segundo deputado mais votado do Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, foi eleito deputado com votação recorde no país, mais de 1,4 milhão de votos, Nikolas Pereira (PL), que um dia antes do primeiro turno participou de uma live com o presidente Bolsonaro.
Com 27 anos, Nikolas se descreve como "cristão, conservador e defensor da família". Formado em Direito pela PUC Minas, em 2020 ele foi o segundo vereador mais votado da capital mineira. Naquele ano, o político então filiado ao PRTB conquistou 29.388 votos.
Ex-aliados de Bolsonaro não conseguiram se eleger ou renovar mandatos
Na contramão dos que se elegeram com o apoio de Bolsonaro para o Congresso, nomes que romperam com o presidente nos últimos anos não tiveram o mesmo sucesso nas urnas. O caso mais emblemático foi o da deputada Joice Hasselmann, que em 2018, ainda filiada ao PSL, se elegeu com mais de 1 milhão de votos em São Paulo.
Em 2020, a parlamentar disputou a prefeitura de São Paulo e amargou um sétimo lugar. Agora, já no PSDB e rompida com o presidente Bolsonaro, Hasselmann recebeu cerca de 14 mil votos e não conseguiu renovar o seu mandato na Câmara Federal. Outro nome que entrou para a política na onda bolsonarista em 2018, mas rompeu com o presidente foi o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP).
Frota decidiu lançar-se a um cargo menos concorrido na Assembleia Legislativa de São Paulo, mas recebeu pouco mais de 24 mil votos e não conseguiu se eleger. Na mesma linha, o deputado federal por Goiás, Delegado Waldir (União), que chegou a ser líder do governo na Câmara, acabou rompendo com Bolsonaro em virtude das brigas por poder dentro do PSL.
Desta vez, o parlamentar tentou uma vaga no Senado, mas, na terceira posição, não conseguiu se eleger. A vaga no estado ficou com Wilder Morais, do PL, mesmo partido do presidente. Também não conseguiram se eleger outros ex-aliados como o ex-ministro Abraham Weintraub (PMB) e seu irmão Arthur Weintraub (PMB), que disputaram uma cadeira da Câmara dos Deputados por São Paulo.
Em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, na madrugada desta segunda-feira (3), Bolsonaro ironizou os votos recebidos pelos seus antigos aliados. "Alguém sabe se a Joice Hasselmann foi reeleita? Alguém sabe se o Alexandre Frota foi reeleito?", questionou, em tom de brincadeira, recebendo gritos de “não” como resposta.
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