O presidente Jair Bolsonaro oficializou sua candidatura à Presidência da República neste domingo (24) na convenção nacional do PL, realizada no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro. Em seu discurso a milhares de apoiadores, falou sobre sua trajetória política, destacou as realizações de sua gestão, fez aceno às mulheres e também criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, de forma indireta, o Supremo Tribunal Federal (STF). A convenção também confirmou o general Braga Netto (PL), ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo federal, como candidato a vice na chapa.
Como foi articulado entre Bolsonaro e seu núcleo de campanha, o presidente apostou em um discurso emotivo. Lembrou de sua trajetória de 2014 até a candidatura à Presidência da República, em 2018, o atentado sofrido em Juiz de Fora (MG) e lamentou as mortes por Covid-19.
O presidente também falou sobre diferentes feitos de sua gestão, como o pagamento do Auxílio Emergencial, a criação do Auxílio Brasil, a conclusão da obra da transposição do Rio São Francisco, além de outras entregas na área de infraestrutura pelo país.
Também não faltaram declarações críticas – tanto às gestões petistas e ao ex-presidente Lula como a governadores, sobretudo do Nordeste, por causa das divergências sobre a condução do enfrentamento à pandemia da Covid-19.
O presidente fez críticas indiretas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). E, numa ocasião em que citou o STF, a plateia vaiou a Corte, aos gritos de "supremo é o povo".
Bolsonaro aposta em discurso sobre combate à fome e benefícios sociais
Bolsonaro fez muitos acenos à população mais pobre durante seu pronunciamento na convenção do PL. A expectativa de coordenadores eleitorais é de que, com um discurso mais sensível e propositivo, ele possa ampliar sua base de votos. Para isso, ele ocupou parte de seu discurso para falar sobre o pagamento do Auxílio Emergencial, Auxílio Brasil e dos esforços para assegurar a segurança alimentar.
O presidente comentou que, em 2020, foram gastos com o Auxílio Emergencial o equivalente a 15 anos de Bolsa Família. "Como que esse governo não pensa nos mais pobres?", questionou.
Na sequência, Bolsonaro falou sobre o Auxílio Brasil, que substituiu o antigo programa Bolsa Família, e fez questão de frisar que os benefícios mensais pagos pelo programa criado em sua gestão superam o anterior. "O governo, dentro da responsabilidade fiscal, no ano passado, extinguiu o Bolsa Família que pagava, em média, R$ 190. Tinham mulheres ganhando R$ 80. Passaram a ganhar, no mínimo, R$ 400", destacou. "E, agora, com apoio do nosso Parlamento, de deputados e senadores, passamos para R$ 600", acrescentou, em referência à aprovação da Emenda Constitucional 123/22 (PEC Emergencial), que ampliou recursos para programas sociais.
O presidente também afirmou que vai trabalhar para manter as transferências do Auxílio Brasil em R$ 600 a partir de 2023. "Conversei essa semana com o [ministro da Economia] Paulo Guedes. Esse valor será mantido a partir do ano que vem", declarou.
Bolsonaro também falou sobre os esforços do governo para evitar a inflação de alimentos e assegurar às famílias a compra de produtos essenciais. Ele falou sobre sua viagem à Rússia para negociar a compra de fertilizantes e elogiou o trabalho exercido pela deputada federal Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, para atenuar os impactos da guerra na Ucrânia ao Brasil.
"Essa mulher é a que faz a diferença. Garantiu nossa segurança alimentar, bem como segurança alimentar de mais de 1 bilhão de pessoas do mundo", comentou. Bolsonaro citou que a presidente da Organização Mundial do Comércio (OMC) veio a Brasília há três meses para pedir apoio ao Brasil para ampliar a produção de alimentos. "Conversamos por uma hora. E [ele] declarou: sem o Brasil, o mundo passa fome", afirmou o presidente.
Quais acenos às mulheres Bolsonaro fez ao longo de seu discurso
Como também era previsto pela campanha presidencial, Bolsonaro fez gestos às mulheres, eleitorado considerado imprescindível.
Primeiro, comentou sobre a titulação de terras agrárias em seu governo e disse que foram concluídas 370 mil entregas de propriedades tituladas. "Dos 370 mil títulos, 90% são de mulheres. Homem no meu governo só tem título se ele for solteiro ou viúvo. Sendo casado ou vivendo em união estável, o título vai para elas. Elas sabem melhor cuidar desse negócio", declarou.
A primeira-dama Michelle Bolsonaro fez uso da palavra e, com muitas referências religiosas e a Deus, fez acenos às mulheres e lembrou de quando o marido sofreu o atentado há quase quatro anos, em Juiz de Fora (MG). Também defendeu a reeleição do presidente. "A reeleição não é por um projeto de poder como muitos pensam. Não é por status, porque é muito difícil estar desse lado. A reeleição é por um propósito de libertação, por um propósito de cura para o nosso Brasil", disse Michelle.
Quais críticas o presidente fez a Lula e a outros opositores
Ao falar sobre a titulação de terras, Bolsonaro também aproveitou para criticar o Movimento sem Terra (MST) e destacar as diferenças de titulação de terras entre seu governo e as gestões petistas. "Essas pessoas que integravam o MST eram posseiros. Eles não eram donos da sua terra. Passava um ônibus ou um caminhão, esse pessoal era obrigado a embarcar e invadir uma propriedade que nem sabia onde ficava, os motivos ou a razão. E se não fizesse isso, perdia a posse de sua terra", declarou.
O presidente disse ainda que não houve corrupção em três anos e meio de sua gestão. "Se aparecer, vamos colaborar nas investigações", declarou.
Bolsonaro disse que a CPI da Covid não identificou nenhuma corrupção e o acusou de "corrupto virtual". "Queriam comprar a vacina Covaxin, mas não quiseram apurar o consórcio do Nordeste [formado por governadores da região para comprar insumos para combater a Covid], onde desviaram R$ 50 milhões e não compraram um respirador sequer. Teve nordestino que morreu asfixiado por falta de respirador", declarou.
O presidente aproveitou para criticar de forma velada o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI da Covid, embora tenha se confundido e dito que o parlamentar era o presidente do colegiado. "Nós sabemos do caráter do presidente da comissão. O caráter desse presidente da comissão, que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique. Que foi procurado pelo então sindicalista Lula para botar em liberdade dez sequestradores. E chamou os sequestradores de meninos, que se equivocaram quando fizeram o sequestro", disse, referindo-se aos sequestrados do empresário Abílio Diniz, que eram militantes da esquerda do Chile.
Os apoiadores presentes vaiaram Lula e entoaram em coro "Lula ladrão, seu lugar é na prisão". Bolsonaro acusou o ex-presidente de defender roubo de celulares e ironizou o petista de falar em resolver a situação da guerra na Ucrânia "tomando uma cerveja". Também falou que Lula quer "legalizar o aborto".
"Esse mesmo cara que quer legalizar o aborto no Brasil. Esse mesmo cara que quer legalizar as drogas no Brasil. Será que esse cara sabe quanto sofre uma mãe quando um filho se entrega às drogas? Será que ele sabe o sofrimento da mãe com essa criança no mundo das drogas? Esse mesmo cara que, em decreto de 2019, além de querer a desconstrução da heteronormatividade, criou o que se chama ideologia de gênero", disse Bolsonaro.
Em críticas à ascensão de presidentes da esquerda em países da América do Sul, Bolsonaro disse que quer "trazer o jovem de esquerda para o nosso lado". "Temos que mostrar o que ele vai perder com o seu candidato", comentou, em referência a Lula. Bolsonaro fez críticas às gestões de Chávez e Maduro na Venezuela e alertas sobre a situação econômica na Argentina, presidida por Alberto Fernández.
"Olha para onde está indo a nossa Argentina, a sua economia, um país próspero. 50% da população está próxima da linha da pobreza", comentou. "Olha para onde está indo o Chile, cuja primeira medida do presidente eleito foi acabar com seus carabineiros, sua polícia militar. Olha nossa Colômbia, onde elegeram um guerrilheiro. Um dos serviços mais procurados na Colômbia atualmente é o de passaporte, as pessoas querem sair do seu país", complementou.
Também em referência ao "jovem de esquerda", Bolsonaro disse que "seu candidato", Lula, "prega o controle social da mídia". "Diz que quer regulamentar as mídias sociais. Quero dizer a esse jovem que país como Coreia do Norte, Cuba, a internet só é acessada para você ver conteúdos do governo. Você não tem liberdade. Esse jovem quer perder a sua liberdade nas mídias sociais?", questionou.
Quais as críticas e indiretas de Bolsonaro a ministros do STF
Além de críticas a opositores políticos, o presidente da República também fez críticas indiretas ao STF, ainda que sem citações nominais. Na ocasião, convocou seus eleitores para saírem às ruas em 7 de setembro, período que antecede em quase um mês o primeiro turno das eleições, em 2 de outubro.
"Convoco todos vocês, agora, para que todo mundo vá às ruas pela última vez no 7 de setembro. Estes poucos surdos de 'capa preta' têm que entender o que é a voz do povo", declarou Bolsonaro, em crítica velada a ministros do STF, que usam capa preta nas sessões de julgamentos. "[Eles] têm que entender que quem faz as leis é o poder Executivo e o Poder Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição", declarou.
A crítica aos ministros ocorreu após ele citar o STF no início do discurso e conter palavras para que dar voz aos apoiadores, que entoaram o discurso de que "supremo é o povo". O presidente destacou que o Executivo e o Legislativo são "irmãos" e alfinetou o Supremo. "Nós temos que respeitar a Constituição, jogar dentro das quatro linhas, que pese um ou outro de fora estar dando tijolada para dentro do campo. Vamos superando tudo isso aí", comentou.
Ao convocar os apoiadores para 7 de setembro, Bolsonaro manifestou o desejo por "paz, tranquilidade, respeito à Constituição, respeito às leis e interdependência entre os poderes". "Queremos harmonia, prosperidade e gerar alegria para vocês. Isso não é fácil. Mas quem deve dar o norte para nós é o povo brasileiro. Tenho certeza que aquilo que vocês querem será atingido", disse.
"A maioria dessas pessoas querem o nosso bem. Não podemos simplesmente deixar as coisas acontecerem. Não é fácil você tentar mudar algo que vinha torto há décadas, mas dá para mudar o destino de um Brasil, como estamos mudando", acrescentou Bolsonaro.
O presidente evitou fazer novas críticas ao sistema eleitoral e às urnas eletrônicas, mas fez defesas pontuais por mais "transparência" às eleições. Em fala direcionada a Braga Netto e aos apoiadores, disse que o "exército do povo" é o "exército que está ao nosso lado e que não admite corrupção, não admite fraude" e que "quer transparência, que quer respeito".
Bolsonaro confirma Braga Netto como vice na chapa
Ao longo de seu discurso, Bolsonaro confirmou o general Braga Netto com seu vice e elogiou o militar. "O vice é a solução do problema e eu escolhi, sim, um general do Exército brasileiro, que vocês o conhecem muito bem por ocasião da intervenção aqui no Rio de Janeiro", declarou.
Em gesto ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), presente no evento, Bolsonaro destacou a atuação de Braga Netto enquanto interventor federal da segurança pública do estado do Rio de Janeiro, em 2018. "Um estado, à época, tomado pelo caos. Ele recebeu a missão de intervir no estado e fez um trabalho fantástico no nosso Rio de Janeiro. Muitas consequências positivas o Cláudio Castro hoje colhe", disse.
O presidente também sinalizou alinhamento com Braga Netto ao demonstrar que confia no militar para compor a chapa. "O vice é aquela pessoa que tem que estar ao teu lado nos momentos difíceis, o vice não pode ser aquela pessoa que conspire contra você", declarou.
O general quatro estrelas ocupou postos de destaque no governo, incluindo no período da pandemia, ressaltou Bolsonaro. "O coloquei como chefe da Casa Civil, posto que, agora, o senador Ciro [Nogueira] ocupa com muito zelo, fazendo a negociação com o mundo político", disse.
"Depois eu o coloquei no Ministério da Defesa. Ele pegou a pandemia quando ocupava a Casa Civil e a Defesa. Fez o seu trabalho, juntamente com o ministro da Saúde na época [Eduardo Pazuello], depois o [Marcelo] Queiroga que está aqui, levando meios para o Brasil todo", acrescentou.
O presidente também fez elogios e acenos às Forças Armadas. "A gente vê no semblante do militar a vontade dele em servir a sua pátria. Esse é o espírito que levamos para dentro do Poder Executivo", disse. Em outra ocasião, defendeu as indicações de militares em seu governo. "Falaram que botei muito militar, acho que não botei muito, botei o suficiente. Mas se fosse para botar bandido vocês tinham votado no outro candidato", declarou.
Convenção também tem acenos a aliados políticos
Além de confirmar Braga Netto como vice, Bolsonaro também fez muitos acenos a aliados políticos. O mais afagado foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Ao citar o aliado, o chefe do Executivo federal disse ter sido ele o principal responsável pela aprovação do projeto que originou a lei que fixa um "teto" para o ICMS incidido sobre os combustíveis.
"Zeramos impostos federais, de gás de cozinha, desde o ano passado, de diesel, há quatro meses, e foi colocado um teto do ICMS que é o imposto estadual, não apenas para combustível, mas para energia elétrica, para as comunicações e para o transporte. Temos certeza, teremos deflação no corrente mês. Se não é o Arthur Lira, esse cabra da peste de Alagoas, não teríamos chegado a esse ponto. Obrigado, Lira, obrigado deputados e senadores", comentou Bolsonaro.
O presidente lembrou de seus 28 anos como deputado federal e elogiou na sequência o ministro das Comunicações, Fábio Faria, deputado federal filiado ao PP eleito pelo estado do Rio Grande do Norte, que liderou as articulações para a implementação da tecnologia 5G no Brasil.
"É o homem que negociou o 5G para o Brasil, que a garotada tanto gosta de jogar, vai jogar 5G no Brasil, além de muitas coisas fantásticas com o 5G. Como estivesse com o senador Ciro, no estado dele, Piauí, uma fazenda em 5G, onde a precisão na direção das máquinas está na casa de dois centímetros", comentou.
O chefe do Executivo também fez elogios a Rogério Marinho (PL), ex-ministro do Desenvolvimento Regional e pré-candidato ao Senado por Rio Grande do Norte, ao comentar que foi ele o responsável pela conclusão das obras da transposição do Rio São Francisco.
"Era para ter acabado [as obras] em 2010. Passou para 2012, 2014, 2016. A obra transpôs apenas dinheiro para o bolso de corruptos, e não água. Concluímos isso. Água em grande parte do nosso Nordeste é uma realidade. Também o nosso Exército, com a Codevasf, fura dezenas de postos todos os meses levando dignidade a essas pessoas", destacou.
Bolsonaro também citou Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura e pré-candidato ao governo de São Paulo, e elogiou a gestão de seu ex-auxiliar. "Também no Ministério do Tarcísio fez ressurgir o modal ferroviário. Daqui a três meses, no máximo, se inaugura a ferrovia Norte-Sul, 4,1 mil quilômetros que vão baratear o preço de produtos em todo o Brasil", sustentou.
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