O presidente Jair Bolsonaro (PL) lança sua pré-candidatura à reeleição neste domingo (27), às 10 horas, em um evento mais simbólico do que formal, em Brasília. São esperados discursos que apontem para a busca por um segundo mandato. Mas, para evitar punições da Justiça Eleitoral por uma eventual campanha antecipada, a solenidade deve ser mais marcada pela apresentação de novos filiados ao PL, das propostas da legenda para o país e das realizações do governo.
Advogados do PL e demais assessores jurídicos ligados à coordenação da campanha presidencial alertaram para os riscos de a solenidade incorrer em crime eleitoral. A lei das eleições veda o lançamento de pré-candidatura. Campanhas eleitorais, com comícios e eventos oficiais de candidatos, só podem ocorrer a partir de 16 de agosto. Antes disso, é permitido apenas eventos internos sobre filiação e debates acerca da definição de candidatos.
Por esse aspecto jurídico, a solenidade ganhou um aspecto de "Encontro Nacional do PL". O partido, agora, trabalha a divulgação como o lançamento do "Movimento Filia Brasil" – que, segundo a legenda, tem como objetivo "fortalecer e ampliar a base eleitoral do partido, com ações para que o público eleitor conheça mais sobre o PL e as medidas defendidas pela legenda.
O PL ainda informa que o "o partido compreende a força dos jovens do nosso país e os convoca para fazer parte desse movimento". "Se você tem mais de 16 anos e quer lutar por uma sociedade democrática, este Movimento é para você!", informa o partido em comunicação sobre o evento divulgada na quarta-feira (24).
Que autoridades estarão no lançamento da pré-candidatura
Mesmo que apenas simbólico, o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro vai contar com a presença de deputados e senadores aliados da base governista no Congresso Nacional e ministros de Estado, inclusive aqueles que devem se desincompatibilizar até a próxima sexta-feira (1º) para concorrer nas eleições de outubro – a lei exige que autoridades com cargos públicos (como o de ministro) que queiram disputar o pleito têm de deixar a função seis meses antes do primeiro turno.
O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara e aliado da base mais ideológica de Bolsonaro, diz que a expectativa é de que o evento conte com o apoio maciço de aliados congressistas e de todos os ministros.
Contudo, ele não acredita que o evento marcará a desincompatibilização dos ministros, nem a confirmação do ministro da Defesa, Braga Netto, como vice de Bolsonaro. "Eu acredito que não haja esses anúncios." Segundo Bibo, os ministros tendem a ficar na Esplanada até o prazo-limite.
O aspecto jurídico é outro fator apontado por Nunes como motivo pelo qual ele espera gestos políticos mais tímidos no evento. "O presidente tem que se portar como pré-candidato, mas vai ter que se cuidar muito para não transparecer que faz uma campanha antecipada", diz.
Por esse motivo, o que pode ocorrer é a filiação de alguns ministros ao PL, situação permitida pela legislação. É esperado que três ministros aproveitem o evento para se filiar ao PL: João Roma, da Cidadania; Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações; e Gilson Machado, do Turismo.
Atualmente filiado ao Republicanos, Roma é pré-candidato ao governo da Bahia e selou sua ida ao PL após reunião na quinta-feira (24), no Palácio da Alvorada, com Bolsonaro e o presidente nacional de seu partido, deputado federal Marcos Pereira (SP). O presidente do PL no diretório baiano, Vitor Azevedo, confirmou ao site bahia.ba que o ministro e a esposa, Roberta Roma, vão se filiar à legenda.
Já Marcos Pontes está sem partido e vai sair candidato à Câmara dos Deputados por São Paulo. Gilson Machado vai disputar o Senado por Pernambuco na chapa com o prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE), Anderson Ferreira (PL), pré-candidato ao governo de Pernambuco.
Outros ministros também serão candidatos à eleição, mas não se filiarão ao PL. Alguns porque já se filiaram ao partido no ano passado, a exemplo dos ministros do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, foi eleita pela legenda e permanecerá na sigla.
Os demais ministros que se candidatarão serão candidatos por outras legendas. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai sair candidata ao Senado pelo PP. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, sairão candidatos pelo Republicanos. E o ministro Braga Netto pode se filiar a uma dessas duas siglas.
Outros nomes com influência entre o eleitorado conservador também estarão no evento. Segundo apurou a Gazeta do Povo, ativistas como Amanda Teixeira Dias, filha do ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG), e os youtubers Victor Lucchesi e Robson Calabianqui, conhecido como "Fuinha", são alguns dos que estarão na solenidade e que podem se filiar ao PL.
O que esperar do discurso de Bolsonaro no evento
De Bolsonaro, é esperado durante a solenidade um discurso alinhado e semelhante ao que ele já vem fazendo em eventos recentes – tais como os esforços do governo para gerar emprego e renda, inclusive durante a pandemia, quando ele evitou o fechamento total da atividade econômica.
A defesa de ações adotadas pelo governo, como a entrega de obras da transposição do Rio São Francisco, e gestos ao agronegócio e a outros setores, também são esperados por interlocutores. Está ainda no radar um discurso sobre o combate à corrupção, além da preocupação com a segurança pública, a defesa dos direitos das mulheres e a titulação de terras.
O discurso dos ministros também pode ir na mesma linha. Segundo um interlocutor, é "certeza" que boa parte deles vai discursar. É incerto, contudo, se aliados congressistas terão oportunidade para se expressar ao público.
"Eu não sei como vai ser a distribuição da palavra, que, pelo nosso regimento [da Câmara], no plenário só pode falar líder e vice-líder. Não sei se vai seguir isso lá. Se for assim, aí eu poderei falar", pondera o deputado Bibo Nunes.
O parlamentar aposta em um discurso de "muito improviso" por parte de Bolsonaro e com falas sobre "união". "Principalmente em relação aos partidos que o apoiam. Tem que valorizar bem os partidos. Isso é vital no meu ponto de vista", analisa. Nunes também tem a expectativa de que o presidente apresente um discurso "empolgante".
"Tem que ter informação para empolgar, de que a pandemia está terminando, de que o Brasil vai superar a guerra [na Ucrânia e seus efeitos]. Só empolga quem está empolgado e só convence quem está convencido. E sei que o presidente está totalmente empolgado e convencido", diz o aliado.
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