O comitê da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) colocou em prática um plano para reduzir a rejeição do candidato à reeleição e conter as possíveis abstenções no segundo turno. A ideia consiste em "complementar" as agendas de viagens do presidente com ações paralelas, em outras cidades, da primeira-dama Michelle Bolsonaro, da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) e do vice da chapa, general Braga Netto (PL).
A estratégia é realizar atos paralelos às agendas de Bolsonaro em vários estados e municípios – especialmente nas cidades onde a campanha aposta que pode conquistar novos votos. Ou seja, as agendas paralelas buscam atingir o máximo de pessoas.
O foco Michelle, Damares e Braga Netto é destacar nessas viagens os resultados obtidos pelo governo em diferentes áreas, da economia à segurança pública, e defender os valores cristãos e conservadores. Comparações com as gestões petistas, bem como menções e referências a escândalos de corrupção, também são destacados.
A peregrinação pelo país deve contemplar todos os estados. Bolsonaro e Braga Netto concentraram nas duas primeiras semanas da campanha do segundo turno em viagens a cidades do Sudeste e Sul. Já Michelle e Damares focaram nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O entendimento de coordenadores eleitorais é que as viagens paralelas às de Bolsonaro e a ampliação dos discursos para diferentes estados e regiões do país ajudam na força-tarefa de conter a rejeição do presidente e evitar que eleitores deixem de votar em 30 de outubro.
A abstenção no segundo turno é uma preocupação da campanha. Os estrategistas de Bolsonaro acreditam que idosos tendem a votar no presidente e podem ficar desestimulados a votar por causa das filas no primeiro turno; bem como pessoas com poder aquisitivo mais alto, que também seriam mais simpáticos a ele podem viajar para emendar com o feriado de Finados.
Uma das estratégias para evitar as abstenções é destacar o risco de a esquerda voltar ao poder no Brasil por omissão de parte dos eleitores. Isso já vem sendo feito nos discursos de Bolsonaro e aliados. O senador eleito Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional, diz que é preciso "mostrar o equívoco e o erro cometido pelos nossos países vizinhos [que elegeram governos de esquerda] e o sofrimento que estão imersos", diz.
Como Braga Netto auxilia a articulação e quais os focos de suas agendas
A agenda da campanha do segundo turno do general Braga Netto está concentrada, por enquanto, no Sudeste – sobretudo em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Mas há previsão de o candidato a vice a fazer viagens ao Nordeste e ao Centro-Oeste, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Braga Netto faz nesta quinta-feira (13) uma reunião de coordenação política com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que declarou apoio ao presidente neste segundo turno. Zema está comprometido e engajado em reeleger Bolsonaro e assegurar a ele a vitória em Minas Gerais. No primeiro turno, Lula venceu no estado com 48,29% dos votos válidos; Bolsonaro teve 43,60%.
Além do candidato a vice, o próprio Bolsonaro deve voltar a Minas mais vezes durante o segundo turno. "Deputados, prefeitos e vereadores estão mais animados e empenhados, há muita mobilização voluntária. Bolsonaro deve vir a Minas ainda em mais três ocasiões", diz o deputado Zé Vitor (PL-MG), vice-líder do partido na Câmara.
Michelle e Damares promovem "Caravana das Mulheres"
A primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves traçaram juntamente com os coordenadores eleitorais uma agenda de viagens que tem por objetivo visitar todas as capitais do país até às vésperas do segundo turno. Um dos objetivos da "Caravana das Mulheres" é reduzir a rejeição que o presidente Bolsonaro tem no eleitorado feminino, além de reforçar o compromisso da campanha com os valores conservadores e cristãos – ambas têm influência no segmento evangélico.
"Nos ajudem a desconstruir essa guerra de narrativas que inventaram contra o meu presidente, que o meu presidente não gosta de mulheres, de que o meu presidente não gosta dos mais humildes e necessitados. Foi o presidente que mais fez por mulher na história do Brasil. Foi o presidente que deixou a sua esposa, a nossa mais incrível primeira-dama do mundo falar antes dele na posse", disse Damares em evento recente em Rio Branco, capital do Acre.
No mesmo evento, Michelle fez um discurso cristão que contemplou falas sobre famílias venezuelanas, gestos ao setor agropecuário e críticas veladas a Lula ao dizer que "o agro não é fascista" e falar da corrupção nas gestões petistas. "É só não roubar que sobra dinheiro e a gente consegue fazer. Prova disso foram as pontes, a transposição do Rio São Francisco. Esse povo [nordestino] ficou aprisionado por 16 anos esperando água, o presidente chegou e levou água para o Nordeste", disse a primeira-dama.
Desde a última semana, Michelle e Damares já percorreram Goiânia (GO), Vitória da Conquista (BA), Belém (PA), Macapá (AP), Boa Vista (RR), Manaus (AM), Rio Branco (AC), Porto Velho (RO) e Palmas (TO).
Também estão previstas agendas em Natal (RN) no sábado (15) e em Aracaju (SE) no domingo (16). Viagens para outras capitais do Nordeste estão no planejamento, mas a campanha não divulga antecipadamente por questões de segurança da primeira-dama.
Parlamentares eleitos reforçam a "Caravana das Mulheres"
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) atua próximo de Michelle Bolsonaro na organização das agendas da "Caravana das Mulheres" em São Paulo. "Em cada lugar que ela estiver vai ter um encontro com pastores e padres, rabinos, enfim, uma aliança em defesa da vida desde a concepção. Teremos três eventos, um com mulheres, um político e um com empresários e ativistas", diz.
A parlamentar destaca que a força-tarefa não visa apenas converter votos e reduzir a rejeição junto às mulheres. "O intuito pode até ser indireto para tentar ajudar o presidente com a rejeição, mas a mulher também acaba conseguindo voto de homem e estamos falando da Michelle encontrar com pastores, padres, que é um voto masculino também. A ideia é dividir o trabalho entre ela e o Bolsonaro", diz.
O senador eleito Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro do Desenvolvimento Regional, está estruturando visitas de Damares, Michelle e Braga Netto ao Rio Grande do Norte. As agendas paralelas deles podem "compensar" a possível ausência do presidente no estado durante o segundo turno. Marinho ainda aguarda a confirmação de uma visita de Bolsonaro a Natal, capital potiguar. Mas ele diz entender que os estrategistas do presidente possam optar por colégios eleitorais de maior "densidade eleitoral" dada à "exiguidade do tempo".
O senador eleito Alan Rick (União Brasil-AC) elogia a "Caravana das Mulheres" de Michelle e Damares na região Norte e entende que a estratégia pode ajudar a reduzir a rejeição e levar mais eleitores a votar. "Estamos em uma campanha mais corpo a corpo de divulgação do trabalho do presidente. Muita gente que não votou não sabe do que fez o governo. A vinda da primeira-dama foi muito forte e muito simbólica e vamos continuar para darmos ao presidente a votação de pelo menos 70% no segundo turno", aponta. No primeiro turno, Bolsonaro obteve 62,50% dos votos válidos no Acre.
A deputada federal eleita Amália Barros (PL-MT) vai percorrer 15 municípios de seu estado em campanha pela reeleição junto com Eduardo Torres, irmão de Michelle. Aliada da primeira-dama, ela confirma que a "Caravana das Mulheres" e Braga Netto devem ir ao Mato Grosso.
De político estudantil a prefeito: Sebastião Melo é pré-candidato à reeleição em Porto Alegre
De passagem por SC, Bolsonaro dá “bênção” a pré-candidatos e se encontra com evangélicos
Pesquisa aponta que 47% dos eleitores preferem candidato que não seja apoiado por Lula ou Bolsonaro
Confira as principais datas das eleições 2024