De olho no cenário eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) pretende intensificar mais suas agendas pelo Nordeste no intuito de reduzir a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre o eleitorado da região. Nesta quinta-feira (23), Bolsonaro desembarca em Caruaru (PE) para participar das festas juninas de São João. Na sexta (24), participa das festividades de Campina Grande e João Pessoa, na Paraíba. Na semana que vem, o destino é Maceió (AL).
Na avaliação de integrantes do núcleo de campanha, as agendas de Bolsonaro, cercado de apoiadores, fortalecem o discurso de que as pesquisas de intenção de voto não retratam a realidade e nem a popularidade do governo. Levantamento mais recente do instituto FSB mostrou que a vantagem de Lula chega a 40 pontos percentuais entre o eleitorado nordestino. De acordo com a pesquisa, Lula tem 59% das intenções de voto na região, contra 19% do atual presidente. No cenário nacional, o FSB mostrou Lula com 44%, ante 32% de Bolsonaro.
Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o Nordeste é segunda maior região em número de eleitores, com 40,65 milhões – 27,01% do total. A região fica atrás apenas do Sudeste, que concentra 64,72 milhões de eleitores, ou 42,99% do eleitorado brasileiro.
Com isso, os aliados do Palácio do Planalto acreditam que a presença de Bolsonaro no Nordeste é primordial para diminuir a diferença de votos de Lula. Nos cálculos políticos da campanha do presidente, um impulso a Bolsonaro na região pode ser determinante em um segundo turno com margem apertada.
Para isso, Bolsonaro deve reforçar os discursos voltados para as mulheres e para a apresentação de obras e de entregas que foram feitas pelo governo durante o mandato. Recentemente, durante uma passagem por Natal, no Rio Grande do Norte, Bolsonaro aproveitou uma agenda de entrega de título fundiários para destacar a importância das mulheres nas famílias. "Desses mais de 360 mil títulos, mais de 300 mil estão em nome das mulheres. Nós confiamos bem nelas para administrar esse pedaço de papel que vale muito", disse o presidente.
Campanha de Bolsonaro quer reconhecimento pelo Auxílio Brasil
Em outra frente, a campanha de Bolsonaro quer intensificar as propagandas para mostrar que o presidente foi responsável pela criação do Auxílio Brasil – programa de distribuição de renda que substituiu o Bolsa Família, criado no governo Lula. Dados do Ministério da Cidadania mostram que 47% dos beneficiários do programa social estão nos estados do Nordeste.
Apesar disso, Lula tem 45% das intenções de voto entre os eleitores que declaram ter recebido alguma parcela do Auxílio Brasil, segundo a última pesquisa eleitoral do PoderData. Ainda de acordo com a pesquisa, Bolsonaro tem 28% das intenções nesse grupo.
Segundo aliados do governo, o eleitor ainda não associa o benefício ao presidente Bolsonaro, mas às prefeituras ou políticos locais. Por isso, o presidente pretende reforçar o discurso, durante suas viagens para o Nordeste, sobre a criação do programa, principalmente em relação ao valor pago, que atualmente está em cerca de R$ 400 por família.
"Fizemos propaganda agora no Nordeste para mostrar que os R$ 400 que eles recebem [de auxílio] são do Bolsonaro, do governo federal. Fizemos uma pesquisa e as pessoas não sabem de onde vem o auxílio. Nossa grande diferença [de votos] está no Nordeste. Com essas inserções na TV vamos poder esclarecer para o povo do Nordeste o que o Bolsonaro fez", disse Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, durante evento do grupo Esfera Brasil.
A campanha também pretende mostrar que Bolsonaro foi o responsável pela entrega das obras da transposição do Rio São Francisco, iniciadas no governo Lula. Recentemente, durante sua passagem por Natal (RN), o ex-presidente petista afirmou "que quem construiu 88% do canal foram os governos do PT". A fala foi rebatida por Bolsonaro, que disse que "um outro cara aí falou que havia concluído. Como sempre, mentiu pra todo mundo no Brasil".
Bolsonaro já tem palanque na maioria dos estados do Nordeste
Além das visitas ao Nordeste, a consolidação de palanques nos estados da região é tida como prioridade pelo núcleo de campanha de Bolsonaro. Até o momento, o presidente já conta com acordos em ao menos sete dos nove estados da região.
Na Bahia, maior estado do Nordeste e quarto maior colégio eleitoral do país, Bolsonaro deve subir no palanque do ex-ministro da Cidadania João Roma (PL). Aliados do Planalto tentaram negociar aliança com o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil), mas as conversas não avançaram.
Em Alagoas, Bolsonaro lançou o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB) como pré-candidato ao governo estadual. Na apresentação da pré-candidatura, o senador manifestou apoio a pautas defendidas por Bolsonaro, como "o respeito a Deus, à pátria, à família, às cores da bandeira e à liberdade". "Minha pré-candidatura nasceu com apoio de Jair Bolsonaro, que é o presidente do Auxílio Brasil, do auxílio pandemia, do Vale Gás, do programa Casa Verde e Amarela, da transposição do Rio São Francisco, do apoio ao agro e da agricultura familiar", afirmou Collor.
No Ceará, o pré-candidato do União Brasil ao governo, Capitão Wagner, pretende abrir palanque para o presidente na estado. Wagner foi deputado mais votado no Ceará em 2018 ao colar sua imagem à de Bolsonaro. Na Paraíba, Bolsonaro irá subir no palanque de Nilvan Ferreira (PL). No Piauí a aliança será com Major Diego Melo (PL); em Pernambuco com Anderson Ferreira (PL). E, em Sergipes com Valmir de Francisquinho (PL).
Responsável pela articulação dos palanques nos estados, Valdemar da Costa Neto ainda busca uma composição nos estados do Maranhão e do Rio Grande do Norte. No Maranhão, o diretório estadual do PL indicou apoio ao senador Weverton Rocha (PDT), mas ainda não há acordo para que Bolsonaro suba no palanque do pedetista. O partido de Rocha tem como pré-candidato ao Planalto o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes.
Metodologia de pesquisas citadas na reportagem
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 10 e 12 de junho de 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-03958/2022.
O levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3 mil eleitores, por telefone, entre os dias 19 e 21 de junho de 2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no TSE sob o número BR-07003/2022.
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