A propaganda eleitoral na televisão terminou nesta quinta-feira (29) com um saldo de apelos à emoção, mais ataques do que propostas e muita defesa do legado das gestões de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ambos os candidatos usaram os programas das últimas duas semanas de campanha principalmente para criticar um ao outro, com alguns episódios mais propositivos.
Neste último dia, em especial, as peças veiculadas pelas campanhas se diferenciaram pelo tom adotado ao pedir o voto do eleitor no próximo domingo (2).
A propaganda de Lula mencionou o desempenho do presidente em pesquisas eleitorais para dizer que a corrida ao Palácio do Planalto pode ser decidida ainda em primeiro turno. A peça mencionou problemas vividos pelo país nos últimos anos, como o aumento da fome e a pandemia de Covid-19. Foram exibidas imagens de artistas e outras celebridades, como Carlinhos Brown, Ivan Lins, Emicida, a escritora Djamilla Ribeiro e os ex-jogadores de futebol Juninho Pernambucano e Casagrande. Em sua fala, o ex-presidente disse que "o dia em que o Brasil vai voltar a sorrir está próximo".
Já Bolsonaro usou pouco mais de um terço do tempo para dizer que “o outro lado” mente e faz promessas “absurdas” com o apoio da “grande mídia”. O atual presidente candidato à reeleição repetiu o discurso de seu legado, como a queda no preço dos combustíveis, o Auxílio Brasil “três vezes superior ao Bolsa Família”, entre outros, antes de efetivamente pedir para as pessoas votarem vestidas de verde-e-amarelo no domingo (2).
Ataques cresceram junto das pesquisas eleitorais
O tom dos programas dos dias anteriores foi semelhante ao dos outros veiculados ao longo das últimas duas semanas. As narrativas foram ficando cada vez mais incisivas à medida que as pesquisas eleitorais ampliavam a distância entre Lula e Bolsonaro, como a do BTG/FSB divulgada na última segunda (26).
Enquanto Lula avançou quatro pontos porcentuais entre os dias 12 e 26 de setembro, chegando a 45% das intenções de voto, Bolsonaro se manteve estável nos 35%. (veja metodologias mais abaixo)
Em um dos programas daquela semana, a campanha de Lula o apresentou como injustiçado na condenação do então juiz Sergio Moro que o levou à prisão em 2017, como sendo uma “grande armação política” contra a sua candidatura à eleição presidencial. Impedido de concorrer com o ex-presidente, o PT lançou Fernando Haddad, que perdeu para Bolsonaro no segundo turno.
Mas, o tom belicoso durou pouco no programa, e foi encerrado lembrando que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os julgamentos de Moro. Lula retomou o discurso otimista de seu legado e lembrou dos feitos nas políticas educacionais com a participação de Haddad – seu ex-ministro da educação.
Coincidência ou não, o programa de Bolsonaro neste dia foi inteiramente dedicado à anulação dos julgamentos do ex-presidente pelo STF. “Estão tentando fazer você acreditar em uma mentira”, disse o locutor sobre imagens de reportagens veiculadas em diversos canais de televisão, como Globo e Record, quando Lula foi condenado pelos casos de corrupção na Petrobras.
Também se utilizando de entrevistas de juristas veiculadas entre 2017 e este ano, a propaganda de Bolsonaro afirma que Lula não foi inocentado, e que os processos foram apenas anulados para serem “retomados em breve”.
Entre ataques e propostas
Desde então, o tom foi subindo com os gráficos das pesquisas. Enquanto Lula oscilou entre ataques ocupando um pequeno pedaço do programa com o restante reservado a propostas, Bolsonaro usou produções inteiras para lembrar das condenações do ex-presidente por corrupção na Petrobras.
Em uma delas, lembra de todos os aliados, ministros e dirigentes do PT presos em decorrência das investigações da operação Lava Jato – exceto Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Integração Nacional entre 2007 e 2010 que pertencia, e ainda pertence, ao MDB.
É um tom semelhante ao usado por Lula em parte de seus programas, também mostrando aliados e ex-aliados de Bolsonaro envolvidos em casos como a suposta compra de 51 imóveis com dinheiro em espécie no valor de R$ 26 milhões, o "atraso" na compra de vacinas contra a Covid-19, o episódio em que o ex-ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, falou em “passar a boiada” em cima de políticas ambientais, entre outros.
Também citou o passado do então deputado federal Jair Bolsonaro, que, segundo a propaganda petista, foi “omisso” nos mandatos e que “só aprovou dois projetos em 26 anos de Congresso”.
No restante das peças veiculadas, Lula enalteceu o reconhecimento estrangeiro que o Brasil teve durante seu governo, fez propostas voltadas ao empreendedorismo e renegociação de dívidas dos brasileiros, entre outros.
Bolsonaro também usou partes de seus programas – daqueles que não dedicou inteiramente a ataques ao ex-presidente – para enaltecer seu legado e fazer novas propostas, como a construção de 20 mil quilômetros de ferrovias, a emissão de 400 mil títulos de propriedade aos produtores rurais brasileiros em assentamentos, o aumento salarial de 33% aos professores, entre outros.
Demais candidatos
Entre os outros postulantes à Presidência da República, o último programa do horário eleitoral foi destinado principalmente a agradecer a população e deixar um recado final sobre as plataformas políticas defendidas pelos candidatos.
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que "continua apresentando propostas" para o país e disse esperar que o eleitor "não se renda ao medo". Ele falou que sua meta na campanha é derrotar "não só o Bolsonaro, mas o sistema que produziu Bolsonaro".
A senadora Simone Tebet (MDB), quarta colocada na pesquisa FSB-BTG, utilizou a propaganda para relembrar a sua trajetória política e novamente investir no mote de que seria a candidata "da união", em resposta à polarização liderada por Lula e Bolsonaro. Já Soraya Thronicke (União Brasil) disse que permanecerá na vida pública "fazendo o que é certo" e lutando contra o "risco que é perder a democracia" e "a liberdade para um governo autoritário". Felipe d'Ávila (Novo) declarou que a eleição é uma disputa entre bem e mal e Padre Kelmon (PTB) aproveitou o espaço para pedir apoio aos candidatos a deputado de seu partido.
Metodologias das pesquisas BTG/FSB
Pesquisa de 26 de setembro:
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 23 e 25 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-08123/2022.
Pesquisa de 12 de setembro:
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 9 e 11 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-06321/2022.
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