Ao migrar do Podemos para o União Brasil, o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro colocou a sua candidatura ao Palácio do Planalto em banho-maria, o que deve favorecer outros postulantes ao cargo em outubro. Até então figurando com terceiro colocado na maioria das pesquisas eleitorais, Moro trocou o Podemos pelo União Brasil e com isso abriu mão de sua pré-candidatura neste momento.
"Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor", diz um trecho da nota divulgada por Moro. Nesta sexta-feira, porém, ele disse que não "desistiu de nada", em um sinal de que ainda vai tentar viabilizar o seu nome na disputa presidencial.
As candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) devem ser as principais beneficiadas sem Moro na disputa, segundo levantamento do instituto Quaest divulgado em fevereiro. A pesquisa é a mais recente a questionar os eleitores sobre a sua opção de segundo voto, caso o candidato da preferência delas desistisse de concorrer.
De acordo com o instituto, 22% dos eleitores do ex-juiz responderam que votariam em Bolsonaro como segunda opção. Além disso, outros 15% sinalizaram que a segunda opção seria o ex-presidente Lula e 11% iriam para o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Outros 30% dos eleitores que disseram que votariam em Moro afirmaram que, se ele saísse da disputa, não votariam em ninguém.
"A pesquisa mostra que o maior beneficiado deste movimento é o presidente Bolsonaro. Tem um contingente que diz que não vai votar em ninguém, e o restante vai se dissolvendo. A próximas pesquisas já devem refletir isso e o presidente Bolsonaro tende a herdar a maioria dos votos de Moro", explica Felipe Nunes, diretor e cientista político da Quaest.
Além de Bolsonaro, Lula e Ciro Gomes, o levantamento mostrou que os nomes da terceira via também podem se beneficiar da desistência do ex-juiz. Ainda de acordo com a Quaest, João Doria (PSDB-SP) e Simone Tebet (MDB-MS), devem receber 7% cada um, e Luiz Felipe d'Avila (Novo-SP), ficaria com 1%. Na época, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ainda aparecia como pré-candidato a presidente, e herdava 3% dos votos de Moro.
Aliados do Planalto comemoram desistência de Sergio Moro
O recuo de Sergio Moro em relação a sua candidatura à Presidência foi comemorado pelo núcleo de campanha do presidente Jair Bolsonaro. Para integrantes do PL, Bolsonaro deve recuperar essa parcela do eleitorado que tinha migrado para a candidatura do ex-juiz.
"Parte do eleitorado de Moro era de uma parcela que estava insatisfeita com o governo. Agora sem o Moro essa parcela deve voltar de maneira significativa para Bolsonaro. Isso vai se cristalizar naturalmente", avalia um integrante do PL.
Na base de apoio do presidente, parlamentares também ironizaram a desistência de Moro. "Para a surpresa de zero pessoas, a terceira via derreteu", ironizou a deputada Carla Zambelli (PL-SP). Na mesma linha, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ) disse que "uma barata tonta tem mais norte que a 3ª via", em referência ao fato de Moro ter buscado se viabilizar como candidato ao Planalto.
Integrante do núcleo de campanha de Bolsonaro e ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, também comentou sobre a decisão de Moro. O político resgatou trechos de entrevista em que afirmou que o ex-juiz “foi uma aposta que deu errado” e que logo desistira da disputa pelo Planalto. “Aos que ainda duvidam das minhas previsões de que o presidente Bolsonaro vai subir rapidamente nas pesquisas, atenção para os meus palpites que se confirmam”, escreveu Ciro nas redes.
Já o filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), classificou a desistência de Moro como mais uma "mentira" contada pelo ex-juiz. “Jurou que Bolsonaro cometeu crime, foi desmentido pela própria Polícia Federal. Jurou que ia preservar sua biografia, se queimou com o povo que o respeitava. Jurou há dias que não desistiria, desistiu”, alfinetou Eduardo.
PT acredita que desistência de Moro pode ampliar polarização com Bolsonaro
Dentro da cúpula do PT, líderes do partido avaliam que uma desistência de Sergio Moro deve ampliar a polarização entre o ex-presidente Lula e o presidente Bolsonaro. Para os petistas, a avaliação é que Bolsonaro ganhe mais musculatura com a herança das intenções de voto do ex-juiz.
"Essa será uma eleição polarizada, porque a própria população escolheu assim", defende o deputado José Guimarães (PT-CE), integrante do núcleo de campanha de Lula. Além disso, o petista afirma que a desistência do ex-juiz inviabilizou a terceira via. "Naufragou em alto mar. Não encontraram nem os restos mortais", ironizou.
A avaliação de que o presidente Bolsonaro deve ganhar fôlego na disputa já vinha sendo feita dentro do PT. Por isso, integrantes do partido têm sinalizado que o ex-presidente Lula deve colocar o "bloco na rua" em breve. A sigla pretende usar o feriado de 1º de maio – Dia Internacional do Trabalho – para oficializar a candidatura de Lula. A partir daí, o petista pretende rodar o país ao lado do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), apontado como vice na chapa petista.
Além disso, acreditam que o movimento de Moro vai ampliar a necessidade de que Lula busque alianças para além do campo da esquerda. Neste sentido, o petista deve ampliar os acenos para possíveis aliados.
"Eu vou evitar falar mal dos outros. Eu vou falar bem de nós. Eu não posso governar com ódio, não posso governar querendo vingança contra ninguém. Tenho que governar com o coração. Governar com coração de mãe e tratar daqueles que mais precisam", disse Lula em evento na Bahia logo depois de Moro retirar sua candidatura.
No evento, Lula fez referências à Lava Jato, mas não citou Moro. "Estava vendo companheiro com uma placa aí que ele estava escrito assim: ‘Lula, me perdoe, porque eu acreditei na Lava Jato’. [...] Eu não preciso te perdoar, porque você foi enganado. Eu já perdoei até quem te enganou, porque nós vamos vencer essa gente", completou.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O levantamento do instituto Quaest, encomendado pela Genial Investimentos, ouviu 2 mil eleitores entre os dias 03 e 06 de fevereiro. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR- 08857/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
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