Fruto da fusão entre o DEM e o PSL, o União Brasil traça agora quais caminhos pretende seguir na disputa presidencial deste ano. Dono de uma fatia do fundo eleitoral de quase R$ 1 bilhão e da maior parte do tempo da propaganda eleitoral no rádio e na TV, o partido é alvo de cobiça de diversos pré-candidatos, entre eles o presidente Jair Bolsonaro (PL) e nomes da chamada terceira via como Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB) e João Doria (PSDB).
Um movimento encampado por deputados do União Brasil aliados de Bolsonaro, oriundo do agora antigo PSL, sigla pela que Jair Bolsonaro se elegeu em 2018, tenta levar o novo partido para o projeto de reeleição do presidente neste ano. A estratégia, segundo integrantes desse grupo, é manter a filiação de cerca de 30 deputados no União Brasil como contrapartida ao apoio eleitoral ao presidente. Caso isso não seja aceito, esse grupo pode migrar a outros partidos.
Em entrevista à CNN Brasil, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), integrante do núcleo de campanha de Bolsonaro, afirmou que conversa sobre o apoio com integrantes do União Brasil. "Tenho mantido conversas com pessoas dentro do partido para compreender qual o pensamento deles, já que é um partido que ficou do tamanho que ficou por causa do fenômeno Bolsonaro em 2018", afirmou o senador.
A cúpula do partido, no entanto, tem rechaçado qualquer possibilidade de o União Brasil formar coligação com Bolsonaro. Essa reação acontece, principalmente, pelo presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), com quem Bolsonaro rompeu relações quando deixou o PSL, em 2019.
"O Flávio [Bolsonaro] é um cara muito gentil, mas o que posso dizer é que a União está com plano de governo determinado. Então, dificilmente a gente pode se acoplar a um governo em que a ineficiência foi a tônica", afirmou Bivar em entrevista para a revista Crusoé.
Moro descarta se filiar ao União Brasil, mas trabalha por apoio do partido
Em um outro movimento, a ala ligada ao vice-presidente do União Brasil, deputado Junior Bozzella (SP), trabalha para que o partido apoie o nome do ex-juiz Sergio Moro na corrida presidencial. Bozzella chegou a trabalhar para que Moro trocasse o Podemos pelo União Brasil, mas o movimento acabou sendo inviabilizado por divergências estaduais.
O principal articulador para que Moro não migrasse para o União Brasil foi o ex-prefeito de Salvador ACM Neto. Ex-presidente do DEM, ACM Neto é pré-candidato ao governo da Bahia e pretende apoiar o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) na disputa presidencial.
Além de ACM Neto, outros nomes do partido sinalizaram que a entrada de Moro poderia inviabilizar as candidaturas ao Legislativo nos estados. Essas lideranças regionais não querem um candidato fixo para presidente, mas um "palanque aberto", de acordo com os interesses de cada estado.
Publicamente, Moro descartou a troca de partido e afirmou que sua candidatura a presidente "vai até o fim". "Vou até o fim. Alguém tem que falar a verdade em 2022", afirmou o ex-juiz no dia 18 durante encontro com empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo.
Alguns aliados de Moro, porém, não descartam que a possibilidade de filiação ao União Brasil possa mudar a depender de como esteja o cenário até a janela partidária. O período, que vai de março até 1.º abril, definirá quais quadros irão permanecer no partido e qual será o peso da candidatura do ex-juiz até lá.
Federação com PSDB e MDB pode definir qual será o candidato apoiado pelo partido
Em um outro movimento, Luciano Bivar tenta consolidar a formação de uma federação partidária do União Brasil com o MDB (que tem como pré-candidata a senadora Simone Tebet) e com o PSDB (que tem a pré-candidatura de João Doria). A ideia, agora, é tentar construir um acordo até o dia 15 de março.
"A primeira quinzena de março é um período factível para a gente ter um mapeamento do quanto é possível avançar. Nós vamos trabalhar muito para chegar às convenções com a possibilidade de uma construção única”, disse o presidente do PSDB, Bruno Araújo.
Durante um encontro recente com Bivar e com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), Bruno Araújo admitiu que a movimentação conta com apoio de Doria. O pré-candidato tucano, que vive um revés dentro do partido, sinalizou que poderia abrir mão da candidatura na busca por um acordo.
Segundo Luciano Bivar, o primeiro objetivo é a construção da identidade do grupo e superar dificuldades nos diretórios estaduais. O passo seguinte seria discutir os critérios para a escolha do candidato à Presidência da República, o que ainda não foi feito. O prazo para a criação de uma federação vai até 31 de maio.
Segundo integrantes dos partidos, o União Brasil e MDB já definiram convergências na maioria dos estados. Contudo, tucanos e emedebistas estão em lados opostos em estados como Goiás, Alagoas, Pernambuco e no Distrito Federal, por exemplo.
Apesar disso, o presidente do MDB, Baleia Rossi, afirma que os três partidos têm mais convergências que divergências. "Mais do que nunca o que nos une é a vontade de apresentar um projeto moderado, equilibrado, que vise uma recuperação do nosso país na sua economia, visando geração de emprego, trabalho e renda", argumentou o emedebista.
União Brasil busca acomodar todas as lideranças do partido
Na avaliação de Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice, os movimentos feitos pelo União Brasil são resultados das diversas forças políticas que ainda integram o partido. Para ele, a cúpula do União Brasil tenta costurar acordos que garantam que a sigla tenha a maior bancada do Congresso em 2022.
"O União Brasil mantém o diálogo com todas as opções para tentar acabar permitindo que haja alternativas para o maior número possível de filiados. Não necessariamente buscarão tomar nenhuma posição formal no curto prazo. Se fizerem isso, podem perder parlamentares. O maior desafio e objetivo do partido é eleger a maior bancada em 2022", argumenta Noronha.
Na mesma linha, Bernardo Nigri, analista da BMJ Consultoria, acredita que a definição dos rumos do partido só será feita após a janela partidária, em março. "União Brasil ainda é um partido muito incipiente, tem grupos bastante diferentes dentro dele. Mesmo os partidos que o compuseram são bastante distintos entre si. O PSL cresceu com Bolsonaro e o DEM era grande, diminuiu e começou a se recuperar. O apoio a um presidenciável também vai depender da movimentação da janela e das pesquisas. O União Brasil quer se manter como grupo forte no parlamento e quer ter uma interlocução com eventual presidente", diz Nigri.
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