A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) celebrou o apoio de governadores de estados importantes na semana passada, como São Paulo e Minas Gerais, mas outras duas adesões também foram muito festejadas: do senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR) e do deputado federal eleito Deltan Dallagnol (Podemos-PR).
Os estrategistas de Bolsonaro têm procurado relembrar os escândalos de corrupção nas gestões petistas a fim de elevar a rejeição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), adversário do candidato à reeleição no segundo turno da eleição presidencial. Eles entendem, porém, que a estratégia de resgatar o antipetismo não se mostrou tão efetiva no primeiro turno. A expectativa, agora, é de que, com a declaração de apoio de Moro e Dallagnol, esse cenário mude.
A percepção da campanha presidencial é que a adesão dos dois têm um grande potencial de conversão de votos pela associação de ambos ao combate à corrupção. Coordenadores eleitorais de Bolsonaro admitem que, ao longo de sua gestão, o presidente perdeu apoio de parte do eleitorado "lavajatista".
O entendimento é de que ao menos parcela desses eleitores optou por alguma candidatura da "terceira via" no primeiro turno e, no segundo turno, poderia optar por votar nulo, em branco ou se abster. O apoio de Moro e Deltan, portanto, foi recebido de maneira efusiva pela campanha de Bolsonaro, que já fez contatos para estreitar a relação e fortalecer as estratégias eleitorais em busca de votos.
Após reunião com senadores eleitos e outros ainda em cumprimento de mandato na semana passada, Bolsonaro disse ter conversado com Moro por telefone e declarou terem "apagado o passado" e que ele é "bem-vindo". "O presente é bola para frente", declarou. Os dois se afastaram após o ex-juiz deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública acusando o presidente de tentar interferir na Polícia Federal.
Como Bolsonaro quer estreitar a relação com Moro e Dallagnol
Além do contato por telefone, também é esperada uma reunião entre Bolsonaro e Moro. Segundo interlocutores do senador eleito, havia um encontro agendado entre os dois no Palácio da Alvorada na última quarta-feira (5). Ele iria acompanhado da mulher, a deputada federal eleita Rosângela Moro (União Brasil-SP). Porém, o presidente recebeu no mesmo horário os senadores e o ex-juiz esteve ausente.
A reaproximação entre Moro e Bolsonaro é um desejo dos dois. Ao declarar apoio ao presidente, o senador eleito disse que o PT "não é uma opção eleitoral". Já Bolsonaro evitou falar sobre as acusações de seu ex-ministro e disse à imprensa que ele assumiu o Ministério da Justiça sem "experiência política" e que talvez isso tenha colaborado "com o não-sucesso da passagem dele" na pasta.
O diálogo entre os dois tem o aval de Dallagnol. Moro e o ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal em Curitiba almoçaram juntos na terça-feira (4) e mantiveram o diálogo em uma reunião à tarde. Ambos conversaram sobre o apoio formal à candidatura de Bolsonaro no segundo turno e sobre como seria esse engajamento.
Dallagnol manifestou, inclusive, o desejo de ter uma participação ativa junto à campanha de Bolsonaro. Para isso, o intuito é definir pautas em comum com o núcleo político presidencial. O ex-procurador diz aos mais próximos que a ideia não é fazer exigências ou condicionar apoio, até por já ter manifestado sua preferência nas redes sociais.
O objetivo de Dallagnol é ter uma agenda para afinar o discurso junto à campanha de Bolsonaro, até para convencer os indecisos a votarem pela reeleição do presidente neste segundo turno.
Moro e Dallagnol estão dispostos a ajudar a reeleger Bolsonaro, mas ainda aguardam um sinal da campanha do presidente para definir o nível de envolvimento dos dois na campanha. Interlocutores da coordenação eleitoral do presidente dizem que isso não será um problema até porque ambos já estão eleitos. O entendimento é de que não haveria aproveitamento por parte dos dois para obter algum benefício.
Segundo interlocutores de Moro, uma agenda prioritária defendida pelo ex-juiz e Dallagnol contempla duas pautas em especial: o fim do foro privilegiado (PEC 333/17), que encontra-se parado na Câmara dos Deputados desde 2021; e a prisão após condenação em segunda instância, que tem duas propostas paradas, uma na Câmara (PEC 199/19) e outra no Senado (PLS 166/18).
A Gazeta do Povo pediu posicionamentos a Moro e Dallagnol, mas não obteve uma resposta até a publicação desta reportagem.
Quais as chances de Bolsonaro ser fortalecido pelo "lavajatismo"
Há fundamentos para o entusiasmo da campanha de Bolsonaro acerca do apoio de Moro e Dallagnol, avalia o senador Lasier Martins (Podemos-RS), líder do bloco parlamentar Juntos pelo Brasil. "É um reforço enorme para a candidatura de Bolsonaro. Moro foi um herói nacional e, com sua imagem reabilitada pelo público do Paraná, ele vai virar votos", analisa.
Martins também entende que o ex-juiz e Dallagnol terão papel de destaque para manter vigilância e não admitir que o presidente cometa "bobagens" em caso de reeleição. "Bolsonaro deve ter aprendido muita coisa, fez uma primeira gestão com muitas falhas, mas vai fazer um governo melhor", acrescenta.
O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP), um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL), acredita que o potencial de transferência de votos é mínimo. "O eleitorado que queria ver o combate à corrupção já se decepcionou completamente e tem plena consciência de que não vai ter combate à corrupção coisa alguma [caso Bolsonaro seja reeleito]", diz. Para ele, contudo, é "zero" a chance de Bolsonaro acolher a defesa de pautas anticorrupção e o Congresso pautá-las e aprová-las.
Kataguiri entende que o apoio do governo à proposta de emenda à Constituição (PEC) que endurece regras para prisão de parlamentares é uma sinalização de que essa agenda não será uma prioridade. "Que tipo de pauta anticorrupção seria pautada por quem apoiou a PEC da impunidade? Fora que o presidente da Câmara de Bolsonaro é o Arthur Lira. É uma ilusão e uma ingenuidade gigantesca acreditar nisso, e um equívoco do Deltan e do Moro [apoiarem a candidatura]", critica.
O vereador de São Paulo Rubinho Nunes (União Brasil), coordenador jurídico do MBL, coloca em dúvidas o potencial de votos que a campanha de Bolsonaro poderia absorver com o apoio do ex-juiz e do ex-procurador. "Esse apoio deles como voto crítico traz essa possibilidade de alguma maneira resgatar essa ideia do combate à corrupção ao governo Bolsonaro. Mas o grande ponto é: até que ponto isso acaba sendo útil, porque tem uma diferença de votos [para Lula] bem grande. Bolsonaro tem uma missão bastante difícil de superar essa diferença de votos", pondera.
O general da reserva Paulo Chagas concorda que a campanha de Bolsonaro sai fortalecida, mas vê desnecessário o que considera ser um "perdão" de Moro a Bolsonaro. "Com a adesão dele, uma massa [de eleitores] que poderia anular o voto deve votar em Bolsonaro. Mas vejo desnecessário esse perdão [de Moro], acho que não vai ser bom para a imagem dele. Na minha visão, eu passo a vê-lo de uma forma depreciada. Bolsonaro saiu ganhando com isso; Moro, não, porque já está eleito", observa.
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