A campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) definiu que ele irá a todos os debates do segundo turno com a estratégia de confrontar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E isso será colocado em prática já neste domingo (16), durante o debate promovido pela TV Band juntamente com um pool de veículos de comunicação, a partir das 20h.
Aliados políticos e coordenadores eleitorais de Bolsonaro dizem que o candidato à reeleição não terá como fugir do embate e vai explorar temas como os escândalos de corrupção nas gestões petistas, a crise econômica no governo de Dilma Rousseff (PT) e pautas de costumes, como o aborto.
Estrategistas de campanha dizem que Bolsonaro também buscará mostrar resultados de seu governo. Mas admitem que mesmo a defesa das realizações da atual gestão deve vir acompanhada de elevações no tom da voz e discursos agressivos para acuar e irritar Lula, sobretudo em possíveis comparações com o governo Dilma.
O deputado federal Coronel Armando (PL-SC), vice-líder do partido na Câmara e ex-vice-líder do governo, entende que essa estratégia é correta. "Bolsonaro tem números para indicar; ele tem condições de apresentar o serviço. O Lula está na expectativa do passado; e o passado dele não dá para desassociar do da Dilma. Ele sempre tenta se desassociar dela. Quando Lula apresentar qualquer coisa, o Bolsonaro vai falar do governo dela, que contamina a situação do PT", diz o aliado do presidente.
Campanha diz que Bolsonaro está preparado para embates com Lula
Da pauta econômica à de costumes, coordenadores de Bolsonaro indicam que o presidente está preparado para os embates e sabe como dosar as críticas a Lula com a defesa de seu governo.
O próprio presidente deu sinalizações disso em ato de campanha em Balneário Camboriú (SC), na terça-feira (11), ao dizer que questionaria o petista sobre sua relação com o mercado financeiro. "Há poucos dias, um cara [Lula] falou que, 'se o Bolsonaro ficou feliz que o mercado ficou feliz, comigo o mercado não ficará feliz'. Isso o outro lado falou. Eu gostaria de perguntar a esse outro lado – e será perguntado por ocasião do debate – onde é que não existe mercado que o povo vive feliz? Não existe em lugar nenhum do mundo. Essas pautas econômicas vocês sentem aqui. O desemprego, com uma taxa cada vez menor, um Produto Interno Bruto (PIB) cada vez maior", disse Bolsonaro.
A fala de Lula a que o presidente se referiu não foi dita há poucos dias, mas em outubro de 2017. Na ocasião, o petista comentou uma entrevista de quando Bolsonaro ainda era pré-candidato à Presidência ao jornal Folha de S. Paulo, ocasião em que se posicionou como liberal. "Eles conversaram com o Bolsonaro e o Bolsonaro agradou o mercado. Eu vou dizer uma coisa, meu filho. Se o Bolsonaro agrada o mercado, nós, do PT, temos que desagradar o mercado, porque nós não combinamos", disse o ex-presidente em um seminário sobre educação pública promovida pela Fundação Perseu Abramo.
Bons números da economia devem ser destacados no debate
A provável abordagem de Bolsonaro sobre o mercado financeiro é um exemplo de como ele pretende confrontar Lula sem abdicar de falas que enalteçam as realizações de seu governo. A defesa da agenda da liberdade econômica foi uma estratégia traçada junto aos coordenadores eleitorais para desafiar o ex-presidente a se posicionar sobre um tema no qual a campanha julga que o candidato à reeleição pode se sair melhor.
O intuito de Bolsonaro e de seus estrategistas eleitorais é posicionar o governo como defensor de uma agenda econômica que auxiliou a pavimentar a recuperação da economia mesmo após a pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia. Mesmo que parte da recente reação da atividade tenha vindo por injeção de gastos públicos e isenções tributárias, a campanha sustenta que a medidas adotadas ao longo da atual gestão, como a Lei da Liberdade Econômica e as concessões, foram determinantes para atrair investimentos e gerar empregos.
A tentativa de Bolsonaro em induzir Lula a falar sobre o mercado financeiro mostra o intuito de posicionar seu governo como aquele que melhor apresenta aos eleitores uma estabilidade econômica sustentável em confronto à crise econômica provocada pela gestão Dilma. O presidente ocasionalmente citará a crise econômica na Argentina e em outros países da América Latina governador pela esquerda como um "alerta" sobre os riscos que um novo governo do PT poderia representar ao país.
Corrupção e pauta de costumes serão usadas por Bolsonaro para se contrapor a Lula
A mesma lógica de ser propositivo e defender seus valores deve se aplicar aos prováveis embates de Bolsonaro sobre corrupção, as ações de seu governo na área social e também na pauta de costumes.
É provável que o presidente diga que estatais obtiveram lucro em sua gestão e que seu governo teve recursos para concluir obras como a transposição do Rio São Francisco, além de socorrer os mais vulneráveis com programas como os Auxílios Brasil e Emergencial.
Na pauta sobre aborto e legalização das drogas, por exemplo, Bolsonaro deve abordar no debate que seu governo defende a vida desde a concepção e que o índice de homicídios caiu. Ao mesmo tempo, vai acusar Lula de defender o aborto e de ter a preferência de presidiários, como sua campanha diz na propaganda eleitoral na TV.
Em comício em Recife, na quinta-feira (13), Bolsonaro deu mais sinais do que pode falar em debate. "Vocês sabem que, no próximo dia 30, temos um encontro com as urnas. De um lado, um presidente que é pelo livre mercado. Do outro lado, um presidente que é pelo Estado opressor, corrupto. Do lado de cá, tem um presidente que preserva a vida desde a sua concepção", afirmou. Ele também disse ser contra a legalização das drogas e a ideologia de gênero.
Como Bolsonaro irá reagir a possíveis acusações de Lula no debate
Dentro da preparação de Bolsonaro para os debates, interlocutores da campanha asseguram que ele está pronto para rebater as ofensivas de Lula. Caso seja abordada a relação feita pelo presidente sobre a vitória do petista no Nordeste no primeiro turno ao analfabetismo dos nordestinos, a ideia é falar sobre diferentes entregas de seu governo na região. Também vai dizer que escolheu ministros nordestinos, e que é casado com a primeira-dama Michelle, filha de um nordestino.
Se seu governo for acusado de corrupção no Ministério da Educação, Bolsonaro deve alegar que não há nada comprovado até o momento e que o ex-ministro Milton Ribeiro pediu afastamento e tomou a iniciativa de pedir que a Controladoria-Geral da União (CGU) abrisse investigação sobre o caso.
Se o questionamento for a respeito da compra de imóveis por familiares, Bolsonaro vai negar quaisquer irregularidades e comentar que, na escritura dos bens, consta "moeda corrente" e que isso não significa somente "dinheiro vivo".
Caso seja confrontado sobre acusações de "rachadinha", é provável que fale que a Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a denúncia contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Todas as possíveis acusações que Lula venha a fazer sobre corrupção contra Bolsonaro serão rebatidas com falas sobre escândalos nas gestões petistas.
Bolsonaro também vai rebater Lula caso o petista acuse o presidente de já ter defendido o aborto de um dos seus filhos em uma entrevista. A campanha diz que o candidato à reeleição se colocará como o defensor dos valores cristãos, que nunca foi a favor do aborto e que o trecho da entrevista foi tirado de contexto.
Em caso de ser indagado sobre a condução da pandemia no debate, Bolsonaro deve destacar que as vacinas contra a Covid-19 foram compradas por seu governo e que as ações para mitigar os impactos da doença foram adotadas, como o Auxílio Emergencial. Nesse ponto, é provável que ele volte a repetir ter sido contra a "política do fique em casa, a economia vem depois". E dirá que a economia está reagindo.
Como é a preparação de Bolsonaro para o debate
Interlocutores da campanha dizem que não há novidades em relação à preparação que já era feita em relação aos debates do primeiro turno. Eles explicam que Bolsonaro não costuma fazer nenhum tipo de treinamento específico. Mas é municiado com informações e dados por seus conselheiros em cada debate.
Pessoas próximas do presidente dizem que ele organiza as próprias ideias, mas sempre escuta aliados e estrategistas com antecedência. Ele costuma conversar com o vereador fluminense Carlos Bolsonaro (Republicanos) e profissionais de marketing da campanha, além de coordenadores eleitorais, como o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e seu vice na chapa, general Braga Netto.
O deputado Coronel Armando acredita que Bolsonaro chega preparado para os debates. "Você num nível desses tem que trabalhar até dentro do jogo sujo. É 'porrada' mesmo, e eu acho que o presidente vai preparado, até porque ele leva vantagem de estar há quatro anos sendo acuado pela imprensa. Ele já está com casco mais grosso. Por mais que o Lula fale que seja um cara experiente, ele passou muito tempo afastado, não está tarimbado para responder como o Bolsonaro", diz o deputado.
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