O general Braga Netto foi confirmado neste domingo (24), durante convenção nacional do PL, como candidato a vice na chapa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Trata-se de uma vitória pessoal de Bolsonaro sobre seu núcleo político. E a despeito da posição de aliados que queriam um nome político que pudesse agregar votos, a expectativa do presidente é que Braga Netto possa ajudar a agregar votos no Centro-Sul do país, especialmente no Sudeste.
A pedido do próprio Bolsonaro, o general tem auxiliado o presidente em interlocução com empresários e políticos no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. No início de junho, ele cumpriu agenda com industriais na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e com prefeitos na Associação Mineira de Municípios (AMM). Recentemente, também se reuniu com empresários na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
No Palácio do Planalto, apoiadores de Braga Netto destacam que o setor agropecuário preferia o militar como vice à deputada federal Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura, que teve seu nome cotado a vice, principalmente por aliados do Centrão. O entendimento é de que Braga Netto como vice abriria espaço para Tereza voltar ao ministério caso Bolsonaro seja reeleito.
Além disso, Braga Netto também é visto como alguém engajado com a agenda da defesa e segurança pública – o que pode agregar eleitores preocupados com a violência no país.
A expectativa de Bolsonaro é que Braga Netto possa auxiliá-lo não apenas na interlocução com empresários de diferentes setores da economia — incluindo a indústria e o agronegócio —, mas também com militares de Norte a Sul do país e inclusive com políticos. Entende-se no governo que o general é bem avaliado por alguns prefeitos desde quando ocupou a Casa Civil e atuou na coordenação do comitê de crise que combateu a pandemia da Covid-19.
Pelo retrospecto político dos cargos exercidos por Braga Netto, Bolsonaro, alguns interlocutores no Planalto e aliados da ala mais ideológica da base governista têm a percepção de que o militar possa ser um ativo importante para a campanha. A expectativa entre eles é de que o general possa surpreender e se mostrar um "puxador de votos" pela experiência dele no Planalto e como ministro da Defesa.
Nas conversas com seu núcleo político para definir o vice, Bolsonaro disse que não apenas desejava Braga Netto como vice, mas também queria que Tereza Cristina se candidatasse ao Senado. O governo enfrenta mais dificuldades de aprovar seus projetos no Senado do que na Câmara, e eleger senadores virou uma das prioridades do presidente para ter uma base aliada mais forte caso se reeleja.
Apesar disso, o entendimento de aliados políticos, especialmente os do Centrão, é de que Braga Netto não teria o mesmo potencial que Tereza Cristina para conquistar determinados nichos do eleitorado, como o feminino, nem para conquistar votos em algumas regiões que poderiam ser atingidas por um político.
O que faz Braga Netto e o levou a ser cotado como vice de Bolsonaro
Despois de deixar o Ministério, Braga Netto trabalhou como assessor especial do gabinete pessoal da Presidência da República – entre abril e junho.
Além disso, o general atua na coordenação da campanha e na confecção da proposta do plano de governo juntamente com os principais integrantes do núcleo político: o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto; o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP; e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), líder do partido no Senado.
Os mais próximos de Braga Netto no Planalto afirmam que o ele trabalha sem gerar atritos e sem intenções de buscar protagonismo. Seus interlocutores sustentam que ele agrega conhecimento das "realidades do país" com sua capacidade de coordenação e valores dos tempos do Exército.
Braga Netto, quando esteve no governo, trabalhou muito próximo de Bolsonaro. Ele era recebido todos os dias pela manhã pelo presidente e também os dois costumavam almoçar juntos.
Agora, na condição de candidato a vice, a previsão é de que o militar auxilie Bolsonaro na interlocução política na região Centro-Sul, onde Lula concentra seus esforços para vencer as eleições.
Além de identificar em Braga Netto alguém com qualidades para coordenar e dialogar, Bolsonaro também o escolheu por ser alguém discreto, leal e alinhado. O militar agrega, ainda, outro perfil desejado: o de ser um general quatro estrelas do Exército. Alguém da cúpula das Forças Armadas costuma ser visto na política como um "seguro" contra um possível processo de impeachment de Bolsonaro – os congressistas teriam receio de colocar um general na Presidência.
Desde o início do ano, Braga Netto era quem Bolsonaro queria escolher como vice. O próprio presidente sinalizou isso em março, quando disse que não estava preocupado em escolher um vice "para ajudar a ganhar a eleição, mas, sim, para governar o Brasil". "Eu tenho de ter um vice que não tenha ambições de assumir a minha cadeira ao longo do mandato", disse.
Do Ministério da Defesa à Casa Civil: como foi a trajetória de Braga Netto
Antes de Braga Netto ser assessor especial do gabinete do próprio Bolsonaro, ele foi o ministro da Defesa. O general assumiu a pasta após a demissão do general Fernando Azevedo e Silva e dos três comandantes militares com a missão de melhorar a interlocução entre o governo e as Forças Armadas. O presidente buscou à época uma cúpula militar mais alinhada à sua política.
Interlocutores do governo dizem que Braga Netto assumiu a Defesa com a missão de conduzir um "processo de reestruturação" do órgão em busca de "maior equilíbrio" entre as estruturas civis e militares. Com o general à frente da pasta, as Forças Armadas apoiaram várias ações do governo e, segundo avaliam os mais próximos, isso o aproximou dos comandantes militares e das tropas.
Um episódio que simboliza a afinidade e lealdade entre Bolsonaro e Braga Netto ocorreu em julho do ano passado, quando ele teria se encontrado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para convencê-lo a pautar o projeto que instituía o voto impresso no Brasil, defendido por Bolsonaro.
Antes de assumir o Ministério da Defesa, Braga Netto havia sido ministro-chefe da Casa Civil, onde atuou como coordenador de Estado e mobilizou a interlocução interministerial no auge da pandemia da Covid-19. Foi coordenador do comitê de crise e, sob sua gestão, repatriou mais de 27 mil brasileiros que estavam em cerca de 107 países, após o fechamento das fronteiras.
Os críticos do governo culpam Braga Netto pela gestão do governo no início da pandemia e citam que técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) apontaram supostas omissões do general no combate à Covid-19. O ministro também foi citado no texto da comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Covid-19 pelo suposto crime de epidemia com resultado de morte. Segundo a CPI, a responsabilidade de Braga Netto se deu pelo fato de ele ser o titular da Casa Civil durante a aquisição de vacinas contra a Covid-19 e a tentativa de modificação da bula da cloroquina, para incluir no texto a informação de que o medicamento seria eficaz contra a doença.
Mas interlocutores palacianos defendem o ex-ministro, e o enaltecem como responsável por coordenar o envio de medicamentos, vacinas, respiradores e oxigênio.
O militar também é apontado por alguns interlocutores como o responsável por ter ter cuidado da descentralização de recursos para estados e municípios e da ampliação do número de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI). No Planalto, ele também é elogiado por ter coordenado as iniciativas para a manutenção de empregos.
Os defensores de Braga Netto sustentam ainda que o general se notabilizou pela busca de coordenação e consenso entre os ministérios na adoção de políticas públicas e pela habilidade em promover alianças.
Alguns integrantes do núcleo político do governo questionam, porém, as qualidades do militar enquanto articulador ao lembrar da polêmica sobre o lançamento do Pró-Brasil. O programa tinha o objetivo de gerar emprego e recuperar a infraestrutura do país com investimentos público e privados. A ação teve o apoio do ex-ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, mas esbarrou na oposição do ministro da Economia, Paulo Guedes, que defendia uma recuperação com investimentos privados.
Como foi a trajetória do ex-ministro de Bolsonaro no Exército
O vice escolhido por Bolsonaro tem formação militar desde o ensino básico. Nascido em Belo Horizonte (MG), foi aluno do Colégio Militar da capital mineira. Em 1975, ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde se formou como aspirante a oficial da arma de cavalaria em 1978.
Ao longo da trajetória no Exército, realizou diversos cursos operacionais e intelectuais e, segundo assessores, destacou-se pela "inteligência, operacionalidade, capacidade de adaptação e objetividade". Realizou pós-graduação em Gestão Estratégica da Informação pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e fez o Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército.
Em 2016, atuou como coordenador-geral da Assessoria Especial e também de Defesa dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio de Janeiro. Ainda em 2015, comandou a 1.ª Região Militar para viabilizar os eventos esportivos. Como general de Exército (quatro estrelas), foi nomeado comandante Militar do Leste, que enquadra todas as tropas dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e do Espírito Santo.
Em 2018, foi nomeado interventor federal na área de segurança pública no estado do Rio de Janeiro pelo ex-presidente Michel Temer (MDB). Coordenou e fez a administração do setor com o foco na recuperação da capacidade operativa dos Órgãos de Segurança Pública (OSP) e atuou com foco na redução dos índices de criminalidade no estado.
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