Grupos de caminhoneiros iniciaram uma manifestação nas rodovias contra o resultado da eleição presidencial em ao menos oito estados na noite deste domingo (30). Os atos seguiam em pelo menos 11 estados e no Distrito Federal na manhã desta segunda-feira (31). Com, 60,34 milhões de votos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito presidente do Brasil pela terceira vez.
Segundo informações repassadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) à Gazeta do Povo, por volta das 10 horas, protestos de caminhoneiros ocorriam no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rondônia, Pará e no Distrito Federal.
Santa Catarina era o estado que concentrava a maior parte dos bloqueios por volta das 8 horas desta segunda, de acordo com o levantamento feito pela CBN. Atos eram realizados nas BRs 101 e 116. A via estava fechada nos dois sentidos da BR-101 no km 24, em Joinville, no km 116, em Itajaí, e no km 216 em Palhoça. Também havia um trecho com protesto e interrupção do tráfego no sentido PR-SC, km 5, em Garuva.
Já entre São Paulo e Rio de Janeiro, a BR-116 - a rodovia Presidente Dutra - estava bloqueada nos dois sentidos no km 281, em Barra Mansa (RJ).
Além disso, havia estradas bloqueadas em Goiás. Na BR-060, km 101, em Anápolis; BR-153, km 703, em Itumbiara; e BR-040, em Cristalina, nas proximidades do Distrito Federal.
Em contrapartida, a BR-020, na cidade de Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, foi liberada por volta das 2h30 desta segunda-feira (31) após protesto pelo resultado das eleições 2022. Caminhoneiros colocaram fogo em pneus e fecharam a estrada após a vitória de Lula, segundo informações do g1.
O que dizem os caminhoneiros
O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de Ourinhos (SP), Júnior Almeida, confirma que lideranças da categoria convocaram mobilizações em todo o país por insatisfação com o resultado das urnas. "Há indício de fraude, o resultado é suspeito, mas não vou entrar no mérito porque acho que é um assunto nebuloso para caminhoneiro falar", diz. "Mas a greve é geral, o país para de hoje [domingo] para amanhã [segunda-feira (31)]".
Conhecido como "Júnior de Ourinhos" pela categoria, o representante destaca que os caminhoneiros que estão paralisados desmobilizarão o movimento apenas se as eleições forem anuladas ou a pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL). "Se o Bolsonaro não me ligar, não acaba o movimento", afirma.
O caminhoneiro autônomo Janderson Maçaneiro, líder da categoria em Itajaí (SC), também considera o resultado eleitoral suspeito e sustenta que a mobilização está "ganhando corpo" para uma paralisação nacional. Porém, ele avalia que a mobilização é prematura e precisa ter um embasamento mais sólido de suposta fraude.
"Tem que ter pauta e fundamento para uma paralisação, até porque o Lula não vai assumir amanhã, vai assumir em janeiro. Daqui até janeiro o nosso presidente é Bolsonaro. Temos tempo para digerir, analisar os prós e contras para daí tomar decisão de ir para rua, fazer paralisação e tudo o mais", pondera.
O líder caminhoneiro sustenta, ainda, que a mobilização não é organizada apenas por caminhoneiros, e que conta com o apoio de parte da população. "É o povo que está na rua parando os caminhoneiros. Não são apenas os caminhoneiros que estão paralisando", sustenta.
Já o presidente da presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, que é conhecido como "Chorão", reconheceu a vitória de Lula nas urnas e avaliou que a economia do Brasil será prejudicada se a categoria decidir "parar o país".
"Não é o momento de parar esse país, precisamos estar alinhados e lutar pelo nosso segmento. [...] Vamos aceitar [o resultado das eleições]. Isso é democracia", defendeu em vídeo compartilhado nas redes sociais.
Qual a chance do ato escalar para uma greve de caminhoneiros
No domingo, o presidente da Abrava, Wallace Landim, o "Chorão", que liderou a greve dos caminhoneiros de 2018, avaliou que a paralisação convocada por algumas lideranças da categoria não tem capacidade de prosperar e ganhar uma força nacional.
"Existe, sim, uma parcela de caminhoneiros que é apoiadora do presidente [Bolsonaro] e está fazendo essa movimentação, mas não vejo como algo muito grande e com essa força toda, tanto que já tentamos fazer vários movimentos em prol do transporte, da categoria, e não tivemos êxito", diz.
O presidente da Abrava alertou, porém, para o risco de a manifestação ganhar força com o apoio de empresários do setor agropecuário com um locaute, prática conhecida como "greve de patrões", que é vedada. Ainda assim, ele considera que as empresas não vão perder oportunidades da safra em apoio a Bolsonaro.
"Estão insatisfeitos pela votação e pelo presidente eleito Lula ter vencido a eleição, mas a gente precisa respeitar e as autoridades terão que ser pouco mais firmes", destaca. "Eu entendo que nunca devemos lutar contra a democracia desse país, jamais vou fazer isso. É preciso respeitar as urnas. Está comprovado que não existe fraude, nem nada. E a gente precisa respeitar o desejo da maioria", complementa.
O presidente da Frente Parlamentar dos Caminhoneiros e Celetistas, Nereu Crispim (PSD-RS), informa que não participa e nem participará de "nenhum movimento de paralisação ou bloqueio de rodovias para protestar e questionar o resultado das eleições". Para ele, os caminhoneiros que participam das atuais manifestações "não representam a categoria".
"A categoria reconhece o resultado das eleições realizada no dia de hoje, que é fruto da democracia que, inclusive, essas categoria defendeu em sete de setembro de 2021 quando as instituições e o Estado de Direito foram severamente atacadas!", declarou Crispim em nota à imprensa.
O deputado sustenta que as pautas da categoria são a defesa do piso mínimo do frete, da mudança da política de preço dos combustíveis, a defesa por pontos de parada nas rodovias, a aposentadoria especial aos 25 anos e a unificação dos documentos fiscais, o Documento de Transporte Eletrônico (DT-e).
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