O indulto ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e a defesa da liberdade de expressão impactaram positivamente nas agendas política e eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, o desejo da pré-campanha é "virar a página" e passar a dar mais ênfase às agendas econômica e social.
Os aliados que defendem uma atenção maior às pautas econômicas e sociais nos discursos e agendas de Bolsonaro pelo país reconhecem que aspectos da chamada "agenda ideológica" devem ser defendidos e permanecerão, mas com menor foco. A análise feita por aliados da base governista — os quais incluem caciques do Centrão — é de que o governo já conquistou os votos possíveis com a defesa do indulto. Aliados de Silveira também entendem a pauta tende a perder força.
Desde a semana passada, coordenadores eleitorais de Bolsonaro e seus aliados mais próximos começaram a defender uma mudança gradual da agenda, com inserções pontuais nas redes sociais e falas sobre assuntos relacionados à economia. Agora, a tendência é de que isso seja intensificado, afirmam parlamentares e interlocutores governistas à Gazeta do Povo.
A expectativa é de que Bolsonaro e governistas intensifiquem as falas sobre o Auxílio Brasil e os feitos adotados para atenuar os impactos da pandemia da Covid-19 e da guerra na Ucrânia sobre o bolso das famílias brasileiras. É consenso entre interlocutores e aliados que a reeleição só será conquistada com uma comunicação eficaz e exaustiva na linha de "como o governo evitou o pior".
"Se a economia melhorar, aí, ninguém ganha do presidente. Mas, para não dependermos apenas disso, o governo vai se esforçar para informar a população de que, se a economia não 'explodiu', foi porque veio a pandemia e a guerra, e que o pior foi evitado com o Auxílio Brasil e o auxílio emergencial", explica um interlocutor do governo. "É esse o debate que vai definir a eleição", acrescenta.
Que acenos Bolsonaro faz à agenda econômica e qual é o papel de Guedes
Pouco a pouco, Bolsonaro tem reinserido a agenda econômica como uma prioridade. Na última terça-feira (26), o presidente publicou em suas redes sociais um vídeo em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fala sobre os esforços do governo para atenuar os impactos da pandemia na economia.
"Ministro Paulo Guedes expõe fatos sobre o desempenho econômico destaque do Brasil durante e após a crise mundial da Covid, resultado alcançado graças à nossa decisão de priorizar não só o combate ao vírus, mas também ao desemprego causado pelo irresponsável 'fecha tudo'", comentou Bolsonaro no vídeo publicado.
O vídeo contém uma fala de Guedes durante evento virtual organizado pelo Center for Strategic & International Studies (CSIS), think tank norte-americano. O chefe da equipe econômica fala que os gastos brasileiros passaram de 19% do Produto Interno Bruto (PIB) para 26,5%, mas voltaram a 18,7%. Ele também comenta que o Brasil protegeu "integralmente" 68 milhões de brasileiros. "Digitalizamos seus dados e transferimos renda de US$ 120 por mês por dois anos consecutivos", destacou.
O destaque dado a Guedes foi comemorado na equipe econômica e por empresários aliados. Havia um sentimento de que o chefe da equipe estava politicamente escanteado desde a discussão sobre a redução do preço dos combustíveis — que resultou em mais atritos com o ministro e uma demissão na presidência da Petrobras.
A participação de Guedes no ato organizado em Brasília no domingo (1º) era, inclusive, algo previsto pelo governo. Organizadores foram avisados de que ele subiria no trio elétrico para falar sobre os feitos do governo desde a pandemia, mas o planejamento foi abortado após uma avaliação jurídica de como a fala poderia ser interpretada.
O chefe da equipe econômica atua junto com o ministro da Cidadania, Ronaldo Bento, para apresentar à população a linha de crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil, que ainda não está em vigor pois depende da definição de regras. Os dois ministérios trabalham os toques finais para apresentar a medida, que faz parte de um programa bilionário de estímulo ao consumo e à geração de empregos que o governo lançou ainda em março.
Na quarta-feira (27), Bolsonaro voltou às redes para falar sobre desembolsos do governo com o pagamento dos auxílios emergencial e Brasil. Ele destacou que foram beneficiadas 118,7 milhões de pessoas com R$ 354,6 bilhões repassados ao longo de dois anos. E que, desde novembro de 2021, o Auxílio Brasil já repassou R$ 30,9 bilhões a 18 milhões de família, a um benefício médio mensal de R$ 409,81.
Governo inclui reajustes, contratações de servidores e família na agenda da economia
A sugestão feita por aliados de Bolsonaro é que o presidente não restrinja suas defesas à pauta econômica apenas nas redes sociais, o incorpore mais ao discurso do dia a dia e o intensifique. A recomendação é feita não apenas para o Auxílio Brasil, mas também para a geração de empregos e contratações de servidores.
Nesta segunda-feira (2), por exemplo, Bolsonaro disse a apoiadores que serão abertas 1 mil novas vagas para a Polícia Federal (PF) e outras 1 mil vagas para a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O presidente aproveitou a conversa com os apoiadores para rebater e provocar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), provável adversário nas urnas em outubro.
Chamou o petista de "cara de pau" por culpá-lo pela alta da inflação e destacou que a alta dos preços vem do "fique em casa e a economia a gente vê depois", quando os estados restringiram o funcionamento da atividade econômica. Também provocou a fala crítica feita pelo ex-presidente a policiais. "Eu estou resolvendo a questão da PF e da PRF porque são até lucrativas para nós. Apreensões, combate à corrupção. Por isso um cara de nove dedos falou que eu não gosto de gente, eu só gosto de polícia", disse.
A proposta às polícias é um gesto que ele faz para atender uma categoria-chave para seu eleitorado e, também, faz parte do aceno que o governo tem feito de mitigar o desconforto de servidores públicos após o governo sinalizar com um reajuste de 5% a todos os servidores. Em entrevista na sexta-feira (29), Bolsonaro defendeu o índice.
"Parece que desagrada a todo mundo. Alguns falam, então dá zero. Não pode fazer isso aí, tem muita gente que se for nessa linha, 5% interessa a eles. Nós dois últimos meses a inflação passou de 3%, o negócio está pegando pesado para todo mundo", declarou em entrevista à rádio Metrópole FM, de Cuiabá (MT).
O reajuste acenado pelo governo a servidores mostra uma concessão feita por Guedes à ala política. Interlocutores da equipe econômica sustentam que ele está mais disposto a dialogar com o núcleo político do governo e superar as diferenças e a queda de braço gerada ainda no debate interno que elevou o Auxílio Brasil para R$ 400.
A geração de empregos e acenos à família são apostas que o governo vai adotar. A ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que auxilia a estratégia eleitoral de Bolsonaro, vai encampar o discurso de geração de emprego e renda nos bairros e centros-administrativos onde moram os brasileiros, em especial as chefes de família que residem em áreas mais pobres.
A ex-ministra, que pode ser um nome para o Senado ou como vice de Bolsonaro, vai circular no país e está com um discurso pronto para unir as agendas social, econômica e da família. "Nós queremos que essa mulher e esse homem de baixa renda trabalhem na sua região. Querem diminuir o seu tempo de trabalho e translado de um local para o o outro. É o discurso que a ministra vai levar ao Brasil", diz um interlocutor.
Tal como Guedes, a participação da Damares no ato em Brasília também era previsto pelo governo e havia sido informado a organizadores. Porém, ela acompanhou as recomendações feitas ao chefe da equipe econômica e a Bolsonaro e não subiu no trio elétrico.
Aliados defendem foco em Auxílio Brasil e obras pelo Brasil
O deputado federal Zé Vitor (PL-MG), vice-líder do partido, na Câmara, é um dos entusiastas na aposta das agendas econômica e social. Para ele, o indulto concedido a Daniel Silveira foi importante para reconectar o governo com a base mais "raiz" do eleitor de Bolsonaro. Porém, ele entende que essa agenda pouco contribui para a busca de eleitores "moderados" e indecisos.
"Um discurso com os feitos da infraestrutura pelo ministério então chefiado Tarcísio [de Freitas, pré-candidato ao governo de São Paulo] é mais empolgante do que um discurso como esse relacionado ao Daniel", defende. "Os "garotos-propagandas" do presidente precisam ser o Tarcísio e a Tereza [Cristina, ex-ministra da Agricultura e pré-candidata ao Senado]", acrescenta.
O parlamentar é um dos que defende que Bolsonaro incorpore a pauta econômica em seus discursos e que o governo invista na comunicação institucional para explicar tudo o que foi feito na agenda econômica à população. "As redes sociais são um fenômeno, mas os jornais impresso, as rádios e as emissoras de TV também têm seu peso. É preciso melhorar a informação sobre o que o presidente tem feito e, também, junto disso, relembrar aquilo que foi feito em governos anteriores do PT", analisa.
"A comunicação nesse momento é fundamental para mostrar os bons resultados que o governo federal alcançou agora e para mostrar sem nenhum retoque quem é o Lula de verdade. Quando as pessoas entenderem o mega esquema de corrupção que existia naquela época, quando entenderam a irresponsabilidade com o dinheiro público, vão começar a pensar muito bem. Ou então vamos legitimar a eleição de um ladrão sem dúvida nenhuma e não podemos correr o risco de retroagir", complementa Zé Vitor.
Outro aceno feito por Bolsonaro vai na linha de mostrar os esforços do governo para atenuar os impactos da guerra na Ucrânia. Na abertura da 87ª edição da maior feira de pecuária zebuína do mundo, a ExpoZebu, em Uberaba (MG), o presidente disse que a Rússia enviou navios com fertilizantes para o Brasil e que o setor da agropecuária vai cumprir o pedido da Organização Mundial do Comércio (OMC) de ampliar a oferta de alimentos.
O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido, é outro que defende a agenda econômica. Aliado da base mais "raiz" de Bolsonaro, ele entende que a defesa do indulto e da liberdade de expressão teve sua importância para a estratégia política e eleitoral, mas concorda que é importante ampliar o discurso.
"É preciso estimular a economia e mostrar os benefícios na economia, que são amplos, apesar da pandemia e da guerra", destaca. "Tem que saber bem a diferença do que é o Auxílio Brasil, que não é apenas o dobro do Bolsa Família, que era R$ 193 e passou para R$ 400. Quando se oferece o Auxílio Brasil se oferece oportunidade de estudo e de emprego. É diferente do outro, que deixava as famílias à mercê da esquerda", complementa.
O parlamentar faz referência aos R$ 200 extras que beneficiários do Auxílio Brasil ganham por mês durante dois anos caso arrumem emprego, uma prova, na opinião de Nunes, da diferença de metodologia de como o governo Bolsonaro trata o auxílio social. "E defender o programa é importante, porque estamos falando de distribuição de renda com responsabilidade. Faz o dinheiro circular e gerar empregos na economia", analisa.
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