A campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avalia que a declaração de apoio do ex-juiz Sergio Moro ao presidente Jair Bolsonaro (PL) pode acabar beneficiando o ex-presidente por causa das contradições que essa reaproximação carrega. O ex-juiz foi um dos conselheiros de Bolsonaro no debate do último domingo (16), na Band.
Moro pediu demissão do Ministério da Justiça, em abril de 2020, acusando o presidente de tentar interferir em investigações da Polícia Federal. Desde então, o ex-ministro fez diversas críticas e ataques a Bolsonaro, principalmente nas redes sociais. Por isso, uma das estratégias de Lula é resgatar antigas falas de Moro contra o candidato à reeleição, como quando o chamou de "mentiroso", na tentativa de descredibilizar o apoio do ex-ministro.
De acordo com aliados de Lula, a campanha também vai usar a aliança para reforçar o discurso de que o ex-presidente foi alvo de perseguição política durante a Lava Jato. A alegação é de que o ex-juiz atuou para tirar o petista da disputa presidencial de 2018, o que teria culminado na eleição de Bolsonaro. Após eleito, o presidente convidou Moro para assumir o Ministério da Justiça.
Os estrategistas da campanha ainda avaliam qual será o papel de Moro na campanha de Bolsonaro daqui para frente. Mas o plano é reforçar que o ex-juiz foi considerado parcial pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos julgamentos contra Lula na Lava Jato.
"Se a intenção era criar constrangimento, o efeito foi contrário. Vejo ele [Moro] como uma pessoa que foi derrotada", disse Lula ao ser questionado sobre a presença de Moro no último debate, segundo relatou o jornal O Globo. Vice na chapa petista, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) também ironizou a reaproximação. "Acho que ele [Moro] é quem tem que explicar. Ele foi demitido", disse.
O ex-juiz da Lava Jato declarou apoio a Jair Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial, após se eleger senador pelo Paraná, dizendo que "Lula não é uma opção eleitoral".
Campanha de Lula vai explorar acusações de Moro contra Bolsonaro
Ao explorar as acusações feitas por Moro contra Bolsonaro, a campanha de Lula avalia que a reaproximação pode desgastar tanto a imagem do ex-ministro quanto a do candidato à reeleição. Moro deixou o governo acusando Bolsonaro de tentar interferir na PF para proteger a família e aliados de investigações.
"O presidente me disse mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contato pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, que ele pudesse colher relatórios de inteligência, seja diretor, seja superintendente. E realmente não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informação", disse o ex-ministro na ocasião.
Após as acusações, um inquérito foi aberto pela PF para apurar a suposta interferência, mas em março deste ano, o relatório final não atribuiu crimes nem ao presidente e nem ao ex-ministro. O documento de 99 páginas cita a falta de “prova consistente” contra Jair Bolsonaro.
Além desse episódio, Moro também chegou a chamar Bolsonaro de mentiroso nas redes sociais e disse que ele não era digno de ocupar a cadeira de presidente da República. "Assim como Lula, Bolsonaro mente. Nada do que ele fala deve ser levado a sério. Mentiu que era a favor da Lava Jato, mentiu que era contra o Centrão, mentiu sobre vacinas, mentiu sobre a Anvisa e o Barra Torres e agora mente sobre mim. Não é digno da Presidência", escreveu o ex-ministro.
Desde o último domingo, aliados do PT têm repercutido críticas de políticos de fora do campo da esquerda, como a feita pelo deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), que comparou Moro a Padre Kelmon, o ex-presidenciável do PTB. "Olha quem está como assessor de Bolsonaro no debate. Sérgio Kelmon", ironizou Frota.
João Amoêdo (Novo), que declarou apoio à candidatura de Lula neste segundo turno, afirmou em entrevista à GloboNews que a reaproximação de Moro com Bolsonaro beneficia Lula. Amoêdo citou a controversa mudança de partido do ex-juiz, que deixou o Podemos em março deste ano para tentar se lançar como candidato a presidente pelo União Brasil, e lembrou que Moro se tornou ministro de Bolsonaro depois de ter colaborado para que o ex-presidente petista fosse condenado na Justiça Federal.
"Por que se candidatar por um partido, depois mudar para outro, que não representa exatamente a cara mais limpa na política? Ele, inclusive, dá argumentos, que Lula não usou, para questionar se ele não teria tido um viés maior, porque ele imediatamente assumiu um cargo com Bolsonaro. E, agora, depois de ter feito críticas ao governo, voltar para a campanha de Bolsonaro. Isso afeta a imagem dele e favorece mais Lula do que Bolsonaro ao fazer isso", analisou Amoêdo, que foi candidato a presidente em 2018.
Ex-juiz disse que Bolsonaro "nunca defendeu combate à corrupção"
Na avaliação de membros da campanha de Lula, a estratégia de explorar as acusações feitas por Moro contra Bolsonaro visa mitigar possíveis ganhos do presidente na pauta de combate à corrupção. De acordo com os aliados de Lula, falas de Moro sobre as suspeitas de rachadinha, sobre os decretos de sigilos de 100 anos e até sobre o desmonte da Lava Jato podem reforçar o discurso da campanha petista.
"Bolsonaro enfim admitiu ontem que nunca defendeu o combate à corrupção e a Lava Jato. Era só mais um discurso do seu estelionato eleitoral", postou Moro no Twitter, em janeiro deste ano.
Os petistas acreditam que a campanha de Bolsonaro vai usar Moro para tentar crescer no eleitorado de centro. No entanto, avaliam que as acusações feitas pelo ex-juiz contra o atual presidente ainda estão na memória do eleitorado.
"Isso serve para mostrar que a trama montada por ele [Moro] não foi para investigar corrupção, foi para construir o projeto de poder liderado pelo Bolsonaro. O juiz que comandou a operação Lava Jato vai ser assessor do Bolsonaro", afirmou o deputado José Guimarães (PT-CE), articulador da campanha petista.
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