Candidatos negros e pardos superam a quantidade de brancos nas eleições deste ano. Mulheres também se destacam, mas com mais dificuldades.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
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Uma eleição geral com menos candidatos, mas mais diversa. Assim pode ser definido o pleito de 2022 na comparação com os de 2018 e 2014, quando a quantidade de candidatos que se autodeclaram pretos ou pardos era menor do que se observa agora.

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Os dados estão sendo divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde o começo da noite de segunda-feira (15), quando se encerrou o prazo para o registro das candidaturas, e ainda podem ter alguma alteração nas próximas semanas conforme ocorra a consolidação e aprovação (ou não) dos registros.

Entre as estatísticas reveladas até esta quarta-feira (17) chama a atenção a quantidade de candidatos pretos ou pardos participantes desta eleição, com 49,59% dos postulantes – 5,35% a mais do que em 2014, quando começou a declaração racial. São pouco mais de 14 mil pessoas, sendo mais da metade deles para o cargo de deputado estadual de partidos com as mais diferentes ideologias. Outros 48,85% dos candidatos, ou 13,8 mil pessoas, se autodeclaram brancos.

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Entre os candidatos pretos e pardos, há uma clara diversidade de ideais. Entre os autodeclarados pardos, por exemplo, o maior porcentual de candidatos está nos partidos de direita e centro-direita: no PL, o qual o presidente Jair Bolsonaro é filiado, são 564 pessoas, ou 5,58%, seguido pelo Republicanos (5,55%) e pelo União Brasil (5,37%).

Já entre os negros, predomina a presença na esquerda com o Psol (8,48%), PT (7,24%), PDT (5,93%) e PSB (5,44%). O conservador Republicanos também é o escolhido por alguns dos candidatos pretos, com 158 pessoas (4%).

Helcimara Telles, cientista política e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), explica que o crescimento dos candidatos que se autodeclaram pretos e pardos é, além de um reflexo da população brasileira, também por causa da determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) que obriga os partidos a distribuírem recursos do Fundo Eleitoral proporcionalmente para candidatos negros e brancos.

“Isso estimula a participação dessas minorias políticas, tanto mulheres como negros, quilombolas, indígenas e, inclusive, de LGBTQIA+. No entanto, o aumento significativo de negros como candidatos não significa que as taxas de sucesso [de efetivamente ser eleito] sejam iguais aos candidatos brancos, corresponde quase à metade”, diz.

A única vez que a candidatura de negros e pardos ultrapassou a de brancos foi em 2020, quando os brasileiros escolheram prefeitos e vereadores. Na época, foram 50,02% contra 48,04% de candidatos autodeclarados brancos.

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Os pretos e pardos somam, ainda, quase metade dos candidatos a deputado federal (47,44%), mais da metade dos postulantes às assembleias legislativas estaduais (51,57%), e a três em cada 10 concorrentes ao Senado. Com exceção deste último cargo, os outros dois tiveram um leve aumento de dois a cinco pontos porcentuais na comparação com 2018.

Também chama a atenção a quantidade de pessoas que não se autodeclaram ou preferiram não divulgar sua cor ou raça: 156 pessoas, ou 0,55%, contra apenas um da eleição de 2018 – o candidato ao Senado Paulo Roque (Novo), que não se elegeu e agora se declara branco para concorrer a uma vaga de deputado federal pelo Distrito Federal.

Na eleição geral de 2014, não havia a opção de não informar ou não divulgar a cor ou raça.

O difícil protagonismo feminino

A eleição deste ano apresenta também uma inclusão cada vez maior das mulheres, um movimento que vem crescendo nos últimos pleitos nacionais e municipais, mas que ainda esbarra em questões estruturais e culturais.

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As mulheres são 33% dos postulantes a cargos majoritários em 2022, somando 9.437 candidatas – sendo quatro na corrida presidencial, além de cinco candidatas a vice. É um crescimento médio de 1% a cada eleição desde 2014.

Juliana Fratini, cientista política, autora do livro "Ideologia: uma para viver" e organizadora do movimento “Mulheres na Política”, explica que muito disso se deve a uma mudança de postura das instituições jurídicas, principalmente do TSE, que passou a incentivar a inserção feminina na política através de campanhas inclusivas.

“Também dos movimentos populares de 2018 de apoio às candidaturas femininas, como o Vamos Juntas, o Elas no Poder, o grupo Mulheres do Brasil, entre outros pelo país. Mas, também dos partidos, que hoje são obrigados a disponibilizar 30% do Fundo Eleitoral para candidaturas femininas e ações ao longo do ano”, conta ressaltando que, apesar do crescimento de candidaturas, ainda há muito que se avançar principalmente no efetivo acesso das correligionárias a estes recursos.

E, mesmo assim, não significa que haverá um crescimento igualmente expressivo de mulheres eleitas aos cargos eletivos. Helcimara Telles lembra que, embora também se tenha avançado nas políticas igualitárias de gênero, as mulheres ainda esbarram na dificuldade de se elegerem nas disputas proporcionais – mais do que homens negros.

“A taxa de sucesso das mulheres é muito mais baixa do que dos candidatos pretos. Ser um candidato preto homem viabiliza muito mais um assento no Congresso ou em outros postos legislativos do que uma mulher branca. São problemas estruturais na questão de gênero da política brasileira”, analisa.

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Também se observa um crescimento na quantidade de candidatos indígenas, com 176 postulantes aos cargos de deputado estadual e federal. Na eleição geral de 2018 eram 133 candidatos, e apenas 85 em 2014.

Qual a chance de haver uma renovação nos cargos em disputa

Os dados do TSE mostram que apenas 1,3 mil candidatos tentam a reeleição neste ano, dos mais de 28 mil que devem concorrer a cargos do Executivo e Legislativo. Embora o tribunal não aponte quantos são novatos, a quantidade é praticamente a mesma das eleições gerais de 2018.

Para a presidente da Abrapel, dificilmente haverá uma grande renovação neste ano, principalmente para os cargos legislativos em que os “puxadores de votos” devem continuar recebendo mais verbas dos partidos.

“A política este ano está bastante disputada, com muitos recursos financeiros no mercado eleitoral não só do Fundo Eleitoral, mas também partidário e do orçamento secreto. Isso acaba beneficiando políticos candidatos à reeleição, os mais profissionais e mais antigos”, analisa Helcimara. Ela destaca o caso do União Brasil, que surgiu a partir da fusão do PSL com o DEM, e que detém a maior parcela de recursos, com R$ 782 milhões.

Isso se explica pela própria experiência dos candidatos: mais da metade (15,6 mil) tem entre 40 e 60 anos. Os deputados estaduais são os que mais pretendem seguir no cargo, com 807 candidaturas à reeleição, seguidos pelos federais, com 456. Outros 20 governadores e 15 senadores também tentarão renovar o mandato nas urnas neste ano.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]