Faltando cerca de sete meses para o primeiro turno das eleições, pré-candidatos ao Palácio do Planalto já começam a definir suas alianças e possíveis nomes para vice na corrida presidencial. Neste cenário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende oficializar seu nome na disputa no começo de abril, logo depois do prazo final da janela partidária.
A expectativa do partido do petista é lançar a candidatura em um evento em São Paulo já com a indicação do ex-governador Geraldo Alckmin como vice de Lula. Alckmin está com filiação acertada com o PSB e deve oficializar sua entrada na sigla nos próximos dias. Até lá, Lula pretende consolidar também o apoio do PSol, sigla da esquerda que ainda apresenta entraves para fechar uma aliança com o PT.
Crítico da composição de Lula com Alckmin, o PSol elencou uma série de exigências consideradas relevantes para a militância de esquerda como forma de estar na coligação petista. Entre as demandas, os integrantes do PSol defendem a revogação do teto de gastos, da reforma trabalhista e a taxação de grandes fortunas. Até o momento, Lula já sinalizou que pretende alterar a lei do teto de gastos e da reforma trabalhista caso seja eleito.
Paralelamente, Lula pretende negociar com o PSol para que a sigla retire a pré-candidatura de Guilherme Boulos para o governo de São Paulo. O objetivo do petista é angariar o máximo de apoio para a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad na disputa estadual.
"Vamos buscar até o último minuto uma convergência entre os partidos de esquerda para a disputa estadual, desde que o acordo não anule o PSol", argumenta Boulos. Nos bastidores, líderes do PT admitem que Lula deve indicar apoio ao nome de Boulos na disputa pela prefeitura de São Paulo na disputa de 2024.
Nesta estratégia, Boulos sairia neste ano como candidato para a Câmara dos Deputados, fortalecendo a bancada da legenda. Em 2020, Boulos chegou ao segundo turno da disputa municipal da capital paulista, mas acabou sendo derrotado por Bruno Covas (PSDB).
O PT pretende ainda consolidar a criação de uma federação com outros partidos de esquerda como o PV e o PCdoB. O PSB chegou a discutir a entrada no grupo, mas acabou desistindo depois de entraves com a cúpula petista.
Bolsonaro busca vice enquanto tenta manter aliança com o Republicanos
Filiado ao PL, o presidente Jair Bolsonaro deve indicar um nome aliado para a vaga de vice na chapa presidencial. Até o momento, o ministro da Defesa, Braga Netto, é o nome mais cotado para o posto. Para isso, o chefe da pasta precisa deixar o cargo até 1º de abril.
O nome da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vinha sendo apontado pelos partidos do Centrão como uma opção para o posto. A ministra, que é deputada federal licenciada, vai trocar o União Brasil pelo PP, sigla que pleiteia a indicação de vice na chapa de Bolsonaro.
Apesar disso, Tereza Cristina pretende disputar uma cadeira no Senado pelo Mato Grosso do Sul. De acordo com aliados da ministra, a eleição para o Congresso é um projeto pessoal e que ela só abriria mão caso houvesse um pedido de Bolsonaro.
Até o momento, Bolsonaro já conta com acordo para ter, além do PL, o apoio do PP e do PTB na coligação de reeleição. Aliado do governo do presidente desde o início do mandato, o Republicanos vive um racha sobre a participação na coligação deste ano. Para amarrar o apoio do partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, Bolsonaro pretende contemplar líderes do Republicanos com alguns ministérios durante a reforma ministerial, prevista para ocorrer no próximo mês.
Até o momento, Bolsonaro já confirmou que oito ministros irão deixar o governo para disputar cargos eletivos neste ano. De acordo com integrantes do Planalto, o Republicanos deve manter a gerência do ministério da Cidadania, que atualmente está com João Roma, além da indicação para o ministério da Mulher, da ministra Damares Alves.
Terceira via vive impasse sobre unificação de nomes para corrida presidencial
Na chamada terceira via, pré-candidatos como o ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro (Podemos), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e a senadora Simone Tebet (MDB) vivem um impasse sobre a unificação das candidaturas do grupo. Até o momento, os três nomes ainda patinam nas pesquisas e passam por resistências dentro de suas siglas diante do cenário de polarização entre Lula e Bolsonaro.
Nesta sexta-feira (11), um levantamento do instituto Ipespe trouxe o ex-presidente Lula na liderança com 43% das intenções de voto, seguido do presidente Bolsonaro, com 28%. O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) está empatado com o ex-juiz Sergio Moro em terceiro, ambos com 8%. Na sequência aparece Doria, com 3%, seguido por Tebet, que somou 1%.
No Podemos, o principal entrave enfrentado por Moro diz respeito ao uso do fundo eleitoral para custear a candidatura presidencial do ex-juiz. A bancada de deputados defende que a maior parte do montante, de cerca de R$ 230 milhões, da sigla seja empregado na renovação dos seus mandatos.
Além disso, o ex-juiz enfrenta dificuldades para construir palanques estaduais, como em São Paulo, onde o deputado estadual Arthur do Val acabou retirando sua pré-candidatura ao governo paulista depois da divulgação do áudio em que ele diz que refugiadas ucranianas “são fáceis porque são pobres”. O episódio acabou resultando na saída de do Val do partido do ex-juiz.
Assim como Moro, o governador de São Paulo, João Doria, também enfrenta resistências dentro do ninho tucano por conta do fundo eleitoral. Parte dos deputados do partido defende que o fundo da sigla seja usado para eleição de nomes para o Congresso, diante do desempenho de Doria nas pesquisas. Como forma de se contrapor à candidatura, deputados do partido defendem que o pré-candidato banque a campanha com recursos próprios.
Apesar disso, aliados do governador paulista acreditam que a pré-candidatura possa ganhar musculatura a partir do próximo mês, quando Doria vai deixar o Palácio dos Bandeirantes para rodar o país em pré-campanha. O objetivo de Doria é explorar a campanha de vacinação contra a Covid e os índices da economia paulista para dar visibilidade para a candidatura.
Na esteira do grupo, a cúpula do MDB tem apostado nos baixos índices de rejeição de Simone Tebet para alavancar a candidatura emedebista. A estratégia é dar visibilidade para o nome de Tebet até o período de registro das candidaturas, previsto para ocorrer em junho.
“É a hora de os candidatos se apresentarem. Eu mesma sou muito pouco conhecida, mas em compensação tenho o menor índice de rejeição entre todos os pré-candidatos [à Presidência]. Lá na frente vamos ver se vamos nos unir ou não. Eu estou convicta que eu tenho condições de ser essa candidatura da convergência do centro democrático”, disse Simone durante evento da XP Investimentos.
PDT tenta atrair Datena para vice na chapa de Ciro Gomes
Como forma de manter a candidatura de Ciro Gomes, a cúpula do PDT busca filiar o apresentador José Luís Datena para indica-lo como vice na chapa do partido. “Reiterei o convite para ele vir para o PDT. Ele tem forte apelo popular e ajudaria em qualquer caminho”, avaliou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
O apresentador da TV Band já ensaiou diversas vezes entrar para a política, mas sempre acabou recuando da disputa. Em janeiro, afirmou que seria candidato ao Senado, mas ainda não havia definido sua filiação. Até então, Datena estava filiado ao PSL, mas decidiu deixar o partido depois da fusão com o DEM para criação do União Brasil.
Paralelamente, o PDT tenta atrair a ex-senadora Marina Silva para a campanha, junto com o partido Rede Sustentabilidade. Marina chegou a ser cotada para vice na chapa do pedetista, mas acabou declinando do convite. Os aliados de Ciro Gomes desejam quem ela ocupe um posto na estrutura de campanha.
Sem Pacheco, Kassab busca alternativa para ter um nome na corrida presidencial
Cortejado por Lula, o presidente do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab ainda busca uma alternativa para a disputa ao Planalto neste ano. O cacique chegou a trabalhar para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), entrasse na corrida presidencial, mas o mineiro acabou recuando da pré-candidatura.
O objetivo de Kassab é evitar uma debandada de deputados do partido, que se dividem entre o apoio ao nome de Lula e de Bolsonaro na disputa. Com candidatura própria, o PSD ofereceria uma neutralidade na disputa do primeiro turno. Além disso, o presidente do partido pretende liberar os seus diretórios para construção de alianças de acordo com os interesses estaduais.
Como alternativa ao nome de Pacheco, Kassab tenta atrair o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB). O gaúcho foi derrotado por Doria nas prévias tucanas e tem se movimentado contra a candidatura do governador paulista.
Leite, que está nos Estados Unidos, pretende se reunir com Gilberto Kassab na próxima semana para uma tentativa de acordo. "O convite já foi feito e o prazo para a filiação é o fim da janela partidária, [1º de abril], porque ele terá que renunciar ao governo do Rio Grande do Sul", afirma o líder do PSD no Senado, Nelsinho Trad (MS).
O encontro entre Kassab e Leite deve ocorrer na próxima terça-feira (15), em Porto Alegre. Nesta data, o presidente do PSD estará na capital gaúcha para a filiação da secretária extraordinária de Relações Federativas do governo Leite, Ana Amélia Lemos.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O levantamento do instituto Ipespe, encomendado pela XP Investimentos, ouviu, por telefone, 1mil eleitores entre os dias 7 e 9 de março. A pesquisa tem margem de erro de 3,2 pontos percentuais para mais. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-03573/2022.
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