As eleições para o governo do Ceará prometem uma disputa acirrada entre candidatos pró-Lula e pró-Bolsonaro. Até agora, dos nomes mais alinhados ao presidente nos estados do Nordeste, o deputado federal Capitão Wagner (União Brasil) é o único pré-candidato com chances reais de ameaçar o domínio da esquerda, segundo pesquisas eleitorais.
Levantamento do Paraná Pesquisas divulgado na segunda semana de maio mostra Capitão Wagner na frente em todos os cenários. No primeiro, o deputado tem 46,5% contra 24,2% da atual governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT). Já em uma eventual disputa contra o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), a vantagem de Wagner é menor, mas ainda bastante consistente – 43,4% frente a 29,8%.
Já a pesquisa divulgada pelo Portal Terra da Luz, feita pelo Instituto Invox Brasil na primeira semana de maio, apontou maior equilíbrio na disputa entre Capitão Wagner e Roberto Cláudio. No levantamento, o candidato do PDT aparece numericamente na frente, com 39% dos votos, contra 37% do deputado federal – ambos estão tecnicamente empatados, considerando a margem de erro de 2,45 pontos percentuais.
Contra os demais possíveis candidatos do PDT, Capitão Wagner segue na liderança: 48% a 23% contra Izolda Cela; 45% a 23% frente ao deputado federal Mauro Benevides Filho e 51% contra 13% ante o deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão.
Embora o PL, partido de Bolsonaro, ainda não tenha fechado apoio a Capitão Wagner no primeiro turno, o presidente já demonstrou simpatia ao pré-candidato e ambos estiveram juntos em eventos no estado. A agenda da segurança pública é um dos pontos em comum entre eles.
Como Capitão Wagner construiu sua carreira na política
Wagner Sousa Gomes é capitão da Reserva da Polícia Militar do Estado do Ceará e, em 2011, começou sua carreira política ao liderar um motim das forças de segurança do estado por seis dias.
O motim foi realizado próximo às festividades de Ano Novo, sendo que Fortaleza é um dos principais destinos do turismo nacional nessa época. Com o movimento da PM, uma onda de crimes foi registrada e a então presidente da República, Dilma Rousseff (PT), atendeu ao pedido do governador do Ceará, Cid Gomes (PDT), para enviar tropas da Força Nacional para socorrer o estado.
A liderança do motim da PM deu projeção a Capitão Wagner, que foi eleito vereador em Fortaleza em 2012, deputado estadual em 2014 e deputado federal em 2018, sendo o mais votado para esses cargos em todas as eleições.
“O sucesso de Wagner pode ser explicado pela base grande e mobilizada que ele construiu desde o primeiro motim e muito pelo discurso pautado nos problemas de segurança pública. Wagner conseguiu trazer, então, o mesmo eleitorado de Bolsonaro preocupado com as questões de segurança e corrupção, mas também outros eleitores que enxergam nele um homem sério, de família e que pode enfrentar a violência no estado”, aponta Guilherme Russo, cientista político e diretor de Inteligência e Insight na Quaest Consultoria e Pesquisa.
Capitão Wagner ainda tentou por duas vezes ser eleito prefeito de Fortaleza. Em 2016, contra Roberto Cláudio, foi derrotado no segundo turno por 90 mil votos. Quatro anos depois, mesmo perdendo, o resultado foi melhor: o deputado federal perdeu no segundo turno para José Sarto (PDT) por uma diferença de cerca de 40 mil votos.
Naquela disputa, Sarto contou não apenas com apoio massivo das lideranças do PDT como Ciro e Cid Gomes, mas também com o governador do Ceará na época, Camilo Santana (PT).
“O Capitão Wagner além de fazer parte de um grande partido agora, o União Brasil, já vem se testando em eleições municipais, inclusive na capital, tentando avaliar o seu crescimento eleitoral. Isso acabou garantindo a ele um crescimento gradual”, afirma Jorge Ramos Mizael, cientista político e diretor da Metapolítica Consultoria.
Entretanto, Capitão Wagner pode não contar com o apoio do partido de Bolsonaro desde o início da campanha. O diretório do PL no Ceará ainda discute se irá lançar candidatura própria com o ex-deputado Raimundo Gomes de Matos ou se irá apoiar o militar de reserva já no primeiro turno.
O ex-vice-prefeito de Fortaleza Gaudêncio Lucena (PL) encabeça o grupo que defende o apoio do PL e de Bolsonaro a Wagner desde o início da campanha. Já o grupo liderado pelo presidente estadual do PL e prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, mais ligado ao "Centrão", apoia a candidatura própria com Raimundo Matos.
Um dos motivos que pesam para o PL do Ceará não apoiar a campanha de Wagner é a pré-candidatura de Luciano Bivar a presidente pelo União Brasil.
Incertezas dentro e fora do PDT
O PDT ainda não definiu quem será o representante do partido nas eleições, fator que pode prejudicar não apenas o tempo de exposição do escolhido, mas também possíveis alianças com outros partidos de esquerda.
“Se por um lado o Capitão Wagner está em plena campanha como candidato do presidente Jair Bolsonaro, o PDT ainda patina em confirmar um nome que vai concorrer. Iniciar a comunicação, construção de imagem, o que dá vantagem ao Capitão Wagner”, pontua Mizael.
Outra questão central para uma possível aliança entre os partidos de esquerda é a relação estremecida entre Lula e o também candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT).
“Também existe o desgaste da aliança PT e PDT no Estado. O embate Lula e Ciro fica cada vez mais duro, até por conta da condução midiática do Ciro, com ele cada vez mais agressivo com o Lula e isso também dificulta a construção de uma aliança estadual, como havia sido consolidada nos últimos anos”, prossegue Mizael.
No início do mês de maio, Ciro chegou a mencionar em entrevista à Rádio Jangadeiro que caso entenda necessário pode medir forças com o PT nas eleições para o governo do Ceará.
“É bom que todo mundo saiba que esse acordo vai acontecer se o interesse do Ceará estiver acima. Se for com negócio de conchavo, picaretagem, eu topo enfrentar o PT também. Eu não vou me submeter a um lado corrupto do PT que também existe no Ceará”, afirmou Ciro.
Prova da importância da coalisão entre esses partidos é que na disputa para a vaga ao Senado Federal, o ex-governador do Ceará Camilo Santana (PT) aparece com vantagem na disputa frente a Marcelo Mendes (Pros) e Pastor Paixão (PTB), segundo o Paraná Pesquisas. No levantamento, Santana conta com 66,8% dos votos frente a 3% de Mendes e 2,7% de Paixão.
“Essas decisões são feitas pelas elites dos partidos, e envolvem compromissos, cálculos de cenários nos quais ambos partidos podem sair pior. Se o PT quiser ter um candidato a governador, isso requer muito dinheiro, além de criar uma competição grande por votos e recrudescer ainda mais a disputa PDT-PT na eleição presidencial”, analisa Russo.
Outro indicador que demonstra o potencial da esquerda no Ceará é o levantamento do Paraná Pesquisas que constata a liderança de Lula na corrida presidencial no Estado. O petista soma 44,4% dos votos contra 25,8% de Bolsonaro e 14,4% de Ciro, vencendo em todos os grupos de gênero, etários, acadêmicos e econômicos.
“Está bem claro que quanto maior a 'nacionalização' da eleição estadual, melhor para o candidato apoiado por Lula e pior para Capitão Wagner, dada à alta rejeição do presidente no estado. Por outro lado, a nacionalização pode ser um problema, porque o candidato ou a candidata de centro-esquerda terá de ter cuidado durante a campanha para não 'entrar demais' na provável briga entre Lula e Ciro que deve dividir o voto na eleição presidencial”, explica Russo.
Metodologias das pesquisas citadas
O Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 eleitores no Ceará, em 60 municípios, entre os dias 1 e 6 de maio de 2022. A amostra foi segmentada por gênero, faixa etária, grau de escolaridade e nível econômico. O nível de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro estimada em 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob os protocolos CE-06551/2022 e BR-01705/2022 e foi feita com recursos próprios.
A pesquisa do instituto Invox foi contratada pela Platinum Comunicação, empresa mantenedora do Portal Terra da Luz, e registrada no TSE com o número CE-09324/2022. Os pesquisadores foram a campo entre os dias 22 e 25 de abril e entrevistaram 1.602 eleitores em 58 municípios, incluindo Fortaleza. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de 2,45 pontos percentuais para mais ou para menos.
Uma versão anterior deste texto informava que nas eleições municipais de Fortaleza em 2016, Capitão Wagner havia pedido no primeiro turno. Na verdade, ele perdeu no segundo turno, com uma diferença de 90 mil votos. Na eleição seguinte, em 2020, perdeu também em segundo turno, mas com uma diferença menor, de 40 mil votos.
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