O candidato à Presidência da República Ciro Gomes (PDT) disse nesta quarta-feira (21) que o Brasil vive uma situação de “fascismo de direita e de esquerda”, ao se referir à polarização eleitoral entre os seus concorrentes Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), respectivamente. Ele disse ainda que o petista tem um “gabinete do ódio”. As afirmações foram dadas durante uma sabatina do jornal O Estado de São Paulo em parceria com a Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap).
Segundo Ciro, a "pretensão" de Lula em terminar a eleição ainda no primeiro turno visa “aniquilar alternativas” em um eleitorado que, de acordo com ele, não aceita a polarização. A fala ocorre num momento em que o petista passou a investir em uma estratégia para conquistar o voto útil e tentar vencer a eleição para presidente ainda no primeiro turno. Ciro caiu dois pontos última pesquisa eleitoral BTG/FSB, divulgada na segunda-feira (19), ficando com 7% das intenções de voto – numericamente à frente de Simone Tebet (MDB), mas tecnicamente empatado com a candidata, que tinha 5% neste levantamento (veja metodologia mais abaixo).
“Um de cada três eleitores que hoje dizem declarar voto em Lula, o fazem por uma razão pragmática: é o cara que vai tirar o Bolsonaro [do poder]. A razão não é o Lula, nem a proposta do Lula e nem o dia seguinte. É o voto Caetano Veloso, é o voto Tico Santa Cruz”, em referência aos dois artistas que, recentemente, declararam ser seus apoiadores, mas que vão dar o “voto útil” ao candidato petista já no primeiro turno.
Ciro Gomes também afirmou que Lula criou o que seria um “gabinete do ódio”, ao publicar falas antigas suas supostamente elogiando ações do governo Bolsonaro há cerca de três anos, como a transferência de líderes de grupos narcotraficantes para presídios federais, entre outros.
“Isso é o que o gabinete do ódio que Lula financia ao custo de muito dinheiro roubado tem produzido no Brasil, com clareza. Isso é uma fake news grave, nunca fiz elogio nenhum a Bolsonaro”, respondeu após ser questionado se seria uma espécie de “linha auxiliar” da campanha do candidato à reeleição.
Apoio no segundo turno
Em um determinado momento da sabatina, Ciro Gomes foi questionado sobre quem vai apoiar no segundo turno caso não alcance a quantidade necessária de votos no primeiro. Lembrando da viagem à Paris em 2018, o candidato diz que votou naquele ano, mas preferiu não apoiar Bolsonaro e nem Fernando Haddad (PT).
“Eu estava aqui na votação, eu não fui pra Paris no dia da votação. O que eu não fiz, porque é meu direito de cidadão, é fazer campanha junto de bandido. Isso eu não faço, não há a menor chance”, disse, parecendo incomodado com o questionamento.
A afirmação foi feita logo após ele ser questionado sobre o encontro promovido pelo ex-presidente Lula com os ex-presidenciáveis Henrique Meirelles (União Brasil), Marina Silva (Rede), Guilherme Boulos (PSL), entre outros, em busca de apoio ao voto útil para encerrar a votação em primeiro turno. Ciro disse que “alguém está sendo enganado”, já que o encontro reuniu o “responsável pela criação da lei do teto de gastos” e o “grande líder das esquerdas puras do Brasil”, respectivamente, o que não faria sentido.
“Eu vou ao segundo turno para salvar o Brasil dessa tragédia, e só Deus e o povo brasileiro, às 17h30 do dia 2 [de outubro], me tirarão a determinação de vencer essas eleições”, afirmou.
Teto de gastos será revogado
Logo na sequência, Ciro afirmou que a lei do teto de gastos será revogada se ele for eleito à Presidência da República. A norma, que prevê um limite no aumento de gastos do governo, deixará de existir em meio ao conjunto de reformas que promete fazer logo nos seis primeiros meses de mandato, com o que seria uma pressão popular sobre o Congresso, que precisaria aprovar as mudanças pretendidas.
“O Congresso vai ser induzido a votar porque estou anunciando antes, se for eleito. Então, terei sido eleito eu e as ideias. Portanto, o Congresso estará informado de que o povo brasileiro ‘revolucionariamente’ me elegeu com esse pacote de ideias em que o teto de gastos está lá como impertinência absolutamente ‘atécnica’ (sic), aberrante e absolutamente violenta que não existe em nenhum lugar do mundo nem na literatura. [O instrumento fiscal será] a minha biografia, o único homem público brasileiro que nunca praticou um dia sequer de déficit público”, disse citando cargos que ocupou, como prefeito de Fortaleza (1989-1990), governador do Ceará (1991-1994), Ministro da Fazenda (1994-1995) e Ministro da Integração Nacional (2003-2006).
A solução para isso, de acordo com ele, é propor uma lei ordinária que discipline e coloque todos os gastos sob o mesmo teto, sem exclusões como ocorre hoje em dia. É um modelo semelhante ao dos Estados Unidos, onde eventuais desequilíbrios são discutidos por toda a sociedade.
"Identidade de gênero é agenda do George Soros", diz Ciro
Outro tema que Ciro Gomes acreditar não ser da atribuição do presidente é a identidade de gênero, embora reconheça que há um desequilíbrio na sociedade entre homens e mulheres, preconceito por raça e homofobia. Para ele, o cerne destas discussões está na desigualdade econômica do país, mas que acabou sendo levantado pelas esquerdas como uma questão isolada e sem ligação com a miséria e a falta de oportunidades.
“Quem está financiando essas agendas no Brasil é o ‘Open Society’ do George Soros. O Psol é financiado pelo George Soros, aí faz esse discursinho [de minorias] e vai se aliar com o Meirelles, é uma coisa constrangedora”, disse em referência ao ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central que nesta semana anunciou apoio à candidatura de Lula.
O filantropo bilionário George Soros é conhecido por apoiar causas políticas progressistas, com doações através de sua própria fundação – a Open Society, que Ciro citou na sabatina. No Brasil, segundo levantamento da Gazeta do Povo, a fundação já ajudou a financiar várias organizações, como o Instituto Sou da Paz, Instituto Igarapé e Conectas. Soros também já teceu críticas às políticas ambientais no presidente Jair Bolsonaro, dizendo que ele não consegue impedir o desmatamento florestal.
"Ninguém é a favor do aborto", diz Ciro
Ao ser questionado sobre a discussão da legalização do aborto se for eleito, Ciro Gomes disse que essa não deve ser uma atribuição do presidente da República e que não é algo a ser debatido nesta fase da campanha eleitoral.
De acordo com ele, o tema só reaparece para discussão a cada quatro anos em um período que há outras questões mais importantes a serem debatidas pelos candidatos.
“Quem é que pode ser a favor da tragédia do aborto? Ninguém é a favor do aborto. O aborto é uma tragédia de saúde, emocional, feminina. [...] As pessoas são contra o apenamento do aborto”, afirmou efusivamente, chamando a discussão sobre o tema de “guerra híbrida” da esquerda.
Para Ciro, o Congresso se absteve de efetivamente discutir esse assunto e que precisou o Supremo Tribunal Federal (STF) interceder em determinadas questões – e que isso já resolve. O candidato diz que o presidente não tem que interferir neste assunto, em um país em que as pessoas seguem seus próprios preceitos religiosos.
Metodologia da pesquisa BTG/FSB
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-07560/2022.
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