As últimas pesquisas eleitorais animaram a coordenação da pré-candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL). Os indicadores que apontam uma desaceleração da rejeição do chefe do Executivo federal no Nordeste, Sudeste e entre mulheres são alguns dos dados que mais empolgaram integrantes da campanha. Outros índices satisfatórios são a redução da margem entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e dos eleitores indecisos, além dos que mensuram a percepção econômica da população.
A coordenação da campanha presidencial analisa todas as pesquisas eleitorais divulgadas pelos mais diferentes institutos. E embora haja um clima de desconfiança sobre resultados gerais, principalmente os que se referem às pesquisas estimuladas sobre intenção de voto para presidente da República, havia algum nível de preocupação entre alguns integrantes do núcleo eleitoral sobre a estagnação ou alta dos níveis de rejeição de Bolsonaro.
Uma parcela dos integrantes dos núcleos político e eleitoral de Bolsonaro relativiza ou até desdenha dos resultados de pesquisas, a exemplo do próprio presidente. Porém, outros membros costumam ter uma análise mais sóbria e entendem as pesquisas como um retrato do momento. Alguns dessa "ala" chegaram até a temer a possibilidade de vitória de Lula em primeiro turno, como apontaram algumas pesquisas estimuladas.
Por esses motivos, os resultados das pesquisas divulgadas esta semana pelos institutos Genial/Quaest, Paraná Pesquisas e PoderData foram comemorados pelas diferentes "alas" e pensamentos sobre as pesquisas eleitorais, principalmente na comparação entre os dados de junho e julho. A avaliação no governo é de que todas elas "asseguram" Bolsonaro no segundo turno e mantêm vivas e realistas as chances de reeleição.
Bolsonaro diminui rejeição entre mulheres
Um dos pontos que mais animou o "núcleo duro" de Bolsonaro é a percepção acerca do voto feminino. Isso porque os indicadores apresentaram uma melhora mesmo após a abertura de uma investigação no Ministério Público Federal para apurar supostos assédios sexuais e morais cometidos pelo economista Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal.
O núcleo político fez o possível para atuar rápido e evitar maiores danos à campanha presidencial junto às mulheres e apoiou a economista Daniella Marques, indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para a Caixa. A meta é que ela atue para dissolver a crise institucional no banco e ajude na campanha.
Os resultados registrados pelas pesquisas vieram acima do esperado por coordenadores, afirmam interlocutores. Segundo a Genial/Quaest, a rejeição de Bolsonaro entre as mulheres desacelerou de 50% em junho para 49% em julho. Os que aprovam o governo subiu de 21% para 24%. Esses números também se materializam nas intenções entre as eleitoras. Lula tinha 50% dos votos entre as mulheres e passou para 46%. Bolsonaro saltou de 22% para 27%.
Outro instituto que também captou dados semelhantes foi o Paraná Pesquisas. A desaprovação do presidente entre as mulheres caiu de 58,7% em junho para 55,9% em julho, enquanto o índice de aprovação subiu de 37,8% para 38,7%. Os resultados permitiram Bolsonaro saltar de 30,4% das intenções de voto entre o eleitorado feminino para 31,3%, enquanto Lula desacelerou de 43,5% para 42,2%.
O cientista político Jonatas Varella, diretor de processamento de dados da Quaest, entende que há fundamentos para o ânimo da campanha presidencial, inclusive no que diz respeito ao voto entre as mulheres. "O crescimento dele talvez não foi maior pelos escândalos tanto da Caixa quanto da prisão do [ex-ministro da Educação] Milton Ribeiro. Isso acabou deixando o Bolsonaro crescendo menos do que poderia crescer neste primeiro momento de sinalização de proatividade", analisa.
Crescimento de Bolsonaro no Nordeste e no Sudeste
A referência do diretor da Quaest sobre a maior "proatividade" da campanha é reconhecida pela coordenação eleitoral de Bolsonaro. "As pessoas entendem que tem esforço do governo para mudar a situação, o que é o mais importante. Esses dados da Quaest mostram que estamos no caminho certo para tentar reverter a situação. Dá para reverter e reeleger o presidente", afirma um interlocutor da campanha.
Por essa percepção, a melhora dos índices de Bolsonaro nas regiões Nordeste e Sudeste animou os coordenadores eleitorais. Afinal, são as duas com o maior número de eleitores e onde a campanha de Lula também concentra esforços para a consolidação de votos. Juntas, somam cerca de 109,1 milhões de eleitores.
Segundo a Genial/Quaest, a rejeição do governo desacelerou de 57% em junho para 55% em julho no Nordeste, enquanto os que aprovam subiu de 17% para 20%. No Sudeste, a rejeição recuou de 46% para 43% e a aprovação cresceu de 26% para 28%.
O mesmo instituto aponta uma queda na intenção de votos de Lula nas duas regiões no primeiro turno. No Nordeste, a desaceleração foi de 68% para 59%, enquanto no Sudeste o recuo foi de 43% para 38%. Já a intenção de votos em Bolsonaro subiu de 15% para 22% no Nordeste e de 30% para 33% no Sudeste.
Porém, o instituto Paraná Pesquisas apresentou um "retrato" diferente. A desaprovação do governo no Nordeste subiu de 61,8% em junho para 63,2% em julho, enquanto a aprovação recuou de 35,1% para 33,9%. No Sudeste, porém, o cenário foi mais favorável, onde a desaprovação recuou de 53,1% para 51,2%. O índice entre os que aprovam o governo na região subiu de 43,2% para 44,6%.
O que chamou a atenção da campanha de Bolsonaro é que, nas intenções de voto em ambas as regiões pelo Paraná Pesquisas, os resultados se "invertem". No Nordeste, o índice de votos de Bolsonaro era de 24,3% em junho e subiu para 25,4% em julho. Enquanto no Sudeste o indicador recuou de 37,6% para 36,1% no mesmo período.
Por sua vez, Lula registrou crescimento nas duas regiões. O petista tinha 53,5% dos votos no Nordeste em junho e foi para 53,8% em julho. No Sudeste, o indicador subiu de 37,5% para 38,9%, aponta o Paraná Pesquisas.
Apesar dos números ainda mais favoráveis a Lula, o núcleo eleitoral segue confiante de que conseguirá frear o crescimento do petista com a aprovação da proposta de Emenda à Constituição (PEC) 1/2022, a chamada PEC dos Benefícios.
Quais os indícios de que a PEC dos Benefícios pode ajudar Bolsonaro
O núcleo de campanha toma por base as pesquisas eleitorais para prever um crescimento potencial futuro de Bolsonaro nas pesquisas. Um dos dados citados é o da Genial/Quaest, que apontava em junho o presidente como principal responsável pelo aumento dos preços dos combustíveis por 28% da população. Em julho, o índice recuou para 25%.
"As pessoas identificam que o presidente está se esforçando para resolver os problemas econômicos, como da alta dos combustíveis e da inflação", destaca um interlocutor da coordenação eleitoral. Embora acreditem que a tendência é de crescimento de Bolsonaro nas pesquisas, por ora, os coordenadores evitam dar prazo para que o presidente ultrapasse Lula nas pesquisas.
"Sendo bem sincero, não tem ninguém dando prazo. Está todo mundo lutando para aprovar a PEC [dos Benefícios] e chegar no segundo turno, para não perder no primeiro. Todos estão bem otimistas com as pesquisas. Aparentemente, estamos caminhando bem", sustenta um interlocutor do Palácio do Planalto.
Em maio, porém, o cenário era de maior entusiasmo. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse em entrevista à revista Veja que Bolsonaro ultrapassaria o adversário petista nas pesquisas entre o fim de julho e início de agosto. Havia até aquele período um entendimento de que Bolsonaro poderia ganhar no primeiro turno, não Lula.
"Vi uma pesquisa outro dia dizendo que, dos indecisos, mais da metade votaria no presidente se a inflação caísse e o emprego voltasse. E graças a Deus a inflação vai cair e o emprego vai voltar. É por isso que ele está crescendo", declarou Ciro há dois meses.
A análise do ministro da Casa Civil segue, porém, uma visão racional. Jonatas Varella, diretor da Quaest, reconhece que os ânimos do governo fazem sentido à medida em que melhora a percepção dos eleitores em relação aos esforços do Planalto e de sua base governista para conter o preço dos combustíveis e ampliar os recursos para programas sociais, como o Auxílio Brasil e o vale-gás.
"A gasolina teve, de fato, redução real e instantânea. E pela nossa pesquisa, é possível notar que 42% da população afirma que o governo está fazendo o que pode para impedir o aumento dos combustíveis. É um índice expressivo, que dá um sinal de que a população está ciente das realizações de Bolsonaro", diz Varella.
O diretor da Quaest destaca, ainda, que 45% da população sabe das ações para a redução do ICMS, que 46% tem conhecimento da criação do auxílio para os caminhoneiros, e que 61% sabe do aumento do Auxílio Brasil para R$ 600. "Praticamente metade do eleitorado sabe da prisão do Milton Ribeiro e dos escândalos na Caixa. Mas essa mesma metade também sabe de todas essas ações", diz Varella.
Apesar da valorização dos esforços do governo pela população, os dados da Quaest apontam uma desaceleração de 22% em junho para 21% entre os eleitores que apontam uma melhora na capacidade de pagar as contas nos últimos três meses. Porém, entre os que dizem que piorou, o índice recuou de 57% para 54%, o menor patamar desde a pesquisa realizada em março.
Outro dado observado com ânimo pelo núcleo de campanha é a mudança de humor entre os beneficiários do Auxílio Brasil. Segundo a última pesquisa Poder Data, a aprovação do governo entre os que recebem o recurso subiu de 42% para 46%. Já o índice entre os que desaprovam a gestão desacelerou de 56% para 49%.
Economia reflete na pesquisa espontânea, analisam coordenadores
A coordenação da campanha de Bolsonaro fica animada não apenas pela percepção de reconhecimento da população aos esforços do governo para conter os impactos na economia. Para interlocutores, esses indicadores também influenciam os índices das pesquisas espontâneas, quando os nomes dos presidenciáveis não são apresentados aos entrevistados.
Pela pesquisa Genial/Quaest, a intenção de votos de Bolsonaro saltou de 20% para 24%, enquanto o índice de Lula recuou de 32% para 31%. Outro indicador que animou a campanha foi a queda entre os indecisos, de 42% para 40%.
Um dos interlocutores da pré-campanha ouvidos pela Gazeta do Povo afirma que a coordenação eleitoral observa que o índice de indecisos ainda é alto e Bolsonaro pode tirar votos desse grupo de eleitores. A mesma fonte afirma que os coordenadores valorizam muito mais a pesquisa espontânea do que a estimulada.
"A estimulada é menosprezada pelo entorno do presidente. A espontânea é mais assertiva porque traz um retrato mais fiel sobre em quem a população de fato quer votar. E o que notamos é que tem um espaço para a campanha trabalhar", sustenta o interlocutor.
Pela pesquisa espontânea, a diferença entre Lula e Bolsonaro é de sete pontos percentuais, aponta a Quaest. Pela pesquisa estimulada, a diferença é de 14 pontos percentuais no cenário principal, onde o presidente da República aparece com 31% das intenções de voto e o petista com 45%.
O cientista político Jonatas Varella, diretor da Quaest, avalia que as melhoras recentes e os efeitos da PEC dos Benefícios, que ainda não atingiu todo o potencial político previsto por ele, podem ajudar Bolsonaro a reduzir a margem para Lula. Porém, ele avalia que a campanha ainda tem desafios a superar, como a rejeição.
"Ele segue sendo o candidato mais rejeitado, com 59%, e Lula com 41%. Bolsonaro tem alguns desafios de consolidar um eleitorado nas grandes regiões, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. E a economia continua sendo o principal problema do país. Então, por mais que as ações recentes do governo vão dar uma sensação de melhora, ele não vai conseguir em três meses resolver todos os problemas", pondera Varella.
Os levantamentos do Paraná Pesquisas não apontam, porém, o mesmo cenário na pesquisa espontânea. Nela, Bolsonaro subiu de 27,3% em junho para 27,7% em julho. Lula, por sua vez, avançou de 28,3% para 29,5%. Na pesquisa estimulada, contudo, ambos desaceleraram. Bolsonaro recuou de 35,3% para 35,1%, enquanto Lula foi de 41,4% para 41,1%.
Metodologia das pesquisas citadas
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores entre os dias 29 de junho e 2 de julho de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sob o protocolo BR-01763/2022.
Para os números de julho do levantamento feito pelo Paraná Pesquisas, foram entrevistadas pessoalmente 2.020 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 30 de junho e 5 de julho de 2022 em 162 municípios brasileiros, em 26 estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento foi contratado pela corretora BGC Liquidez e está registrado no TSE sob o protocolo BR-09408/2022.
Para os números de junho do Paraná Pesquisas, foram entrevistadas pessoalmente 2.020 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 26 e 30 de maio de 2022 em 164 municípios brasileiros, em 26 estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento foi contratado pela corretora BGC Liquidez e está registrado no TSE sob o protocolo BR-04618/2022.
Já o levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3 mil eleitores em 317 municípios das 27 unidades da federação entre os dias 3 e 5 de julho de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no TSE sob o número BR-06550/2022.
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