A campanha do PT já mensura quais serão os possíveis ganhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante das cartas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Até o momento, o ex-presidente ainda não assinou nenhum dos dois manifestos. Mas a expectativa é de que a adesão ocorra nos próximos dias.
Nos cálculos de aliados do ex-presidente, a campanha do PT pode se beneficiar do movimento diante das críticas públicas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) às cartas. Na última terça-feira (2), Bolsonaro afirmou que os textos são políticos. "Não preciso dizer se sou democrático ou não. Não precisa de carta. Comprovo que sou democrata pelo que fiz", disse Bolsonaro em entrevista ao SBT.
Petistas avaliam que a resistência e as declarações de Bolsonaro afastam o eleitor moderado e que Lula pode se beneficiar do chamado voto útil na reta final da campanha. Diante dos discursos de Bolsonaro, a campanha do PT acredita que pode levar eleitores de outros candidatos a votarem no petista já no primeiro turno da disputa.
A estratégia vai de encontro com o movimento petista para reduzir número de candidaturas a presidente e ampliar o arco de alianças com o maior número de partidos. O PT quer passar a imagem de que Lula conta com o apoio de um grande leque de correntes democráticas.
Até o momento, o manifesto da USP já conta com a adesão de mais de 700 mil pessoas, entre elas presidenciáveis como Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), e Luiz Felipe d'Avila (Novo). Nesta semana, o ex-governador e vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), assinou o documento como médico, profissão que exerce fora da política.
Agora, aliados de Lula avaliam qual o melhor momento para que o petista também endosse o documento. O tema será avaliado pelo núcleo de campanha até o final desta semana, quando Lula voltar para São Paulo depois de uma série de viagens a estados do Nordeste.
Até o momento, Lula disse apenas que ficou "feliz" com a iniciativa das cartas e que ele é favorável a qualquer movimento que defenda a democracia. "Estou convencido que todos os brasileiros precisam brigar muito para que a gente mantenha a consolidação do processo democrático desse país", afirmou.
Campanha usa cartas da USP e Fiesp para aproximar Lula de empresários
Em outra frente, aliados de Lula comemoraram a adesão de diversos empresários ao manifesto da USP. Entre os nomes que assinaram o texto estão o de Roberto Setubal e Cândido Bracher (Itaú Unibanco), representantes da indústria como Walter Schalka (Suzano) e de empresas de bens de consumo como Pedro Passos e Guilherme Leal (Natura).
A confirmação de que Geraldo Alckmin também assinou o manifesto ocorreu no mesmo dia em que o vice na chapa de Lula se reuniu com diversos empresários do setor de saúde em São Paulo. O ex-governador é um dos principais articuladores da campanha petista com o mercado financeiro. "Precisamos salvar a democracia e aperfeiçoá-la", disse Alckmin ao público presente na sede do Sindicato dos Hospitais.
Para integrantes do PT, as sinalizações de Lula e de Alckmin vão na contramão das declarações de Bolsonaro e podem amenizar as resistências que parte dos empresários ainda demonstrava em relação à chapa do petista. Na avaliação do entorno de Lula, Bolsonaro está se afastando do meio empresarial.
"Esse manifesto aí foi assinado por banqueiros, artistas, e tem mais uma classe aí. Alguns empresários, mamíferos", ironizou Bolsonaro nesta semana. O presidente também cancelou sua participação em um jantar com empresários do Grupo Esfera, que estava previsto para próxima semana. O grupo tem realizado jantares com todos os candidatos à Presidência da República.
Lula deve ampliar falas em defesa da democracia
Em contraponto aos discursos de Bolsonaro, a campanha petista espera que Lula passe a fazer mais declarações em defesa da democracia. O ex-presidente participa na próxima terça-feira (9) da sabatina da Fiesp e deve assinar a carta pró-democracia da entidade. Nomes como Felipe D'Avila (Novo), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) já assinaram ao texto.
Durante a sabatina da Fiesp é esperado que Lula volte a falar sobre a defesa da democracia de forma mais contundente. Além disso, espera-se que o petista referende seu apoio ao texto como forma de se contrapor ao presidente Bolsonaro.
A carta da Fiesp foi encabeçada pelo presidente da instituição, o empresário Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, que foi vice-presidente nos dois governos de Lula. Gomes tem sinalizado que o documento da entidade não é um ato político contra Bolsonaro, mas uma defesa da democracia e do fortalecimento das instituições democráticas brasileiras.
O manifesto da Fiesp deve ser lançado em 11 de agosto, dia em que Bolsonaro deveria participar da sabatina da entidade. Contudo, o chefe do Palácio do Planalto cancelou sua participação. Na mesma data, a carta da USP será lida pelo ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello. Ainda não há confirmação da participação de Lula nos atos, mas a agenda do ex-presidente segue aberta para esse dia.
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