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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)| Foto: André Coelho/EFE

A tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de atrair o voto útil dos eleitores do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e da senadora Simone Tebet (MDB) para vencer a eleição já no primeiro turno tem provocado divisões entre pedetistas e emedebistas. A estratégia pode levar Lula a vencer a eleição já no primeiro turno. Mas, por outro lado, cria uma ameaça para o caso de haver segundo turno: ele perder apoios importantes. O voto útil é um fenômeno eleitoral que ocorre quando o eleitor não vota no candidato que queria para escolher uma segunda opção que tem mais chances de vencer.

Dentro do PDT, por exemplo, uma ala do partido já desembarcou da candidatura de Ciro Gomes e passou a defender publicamente o voto útil em Lula. Nos últimos dias, ao menos 17 integrantes pedetistas assinaram um manifesto para que a cúpula do partido reconsidere a candidatura do ex-ministro e embarque na candidatura de Lula.

No manifesto, o grupo lamenta que o “ímpar” Ciro Gomes seja “incapaz” de enxergar que votar e apoiar Lula não se trata de “voto útil”, mas de uma “necessidade histórica” de derrotar o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas. Para essa ala, a estratégia de Ciro Gomes em criticar o ex-presidente petista “expondo por vezes vocabulário chulo”, já faz com que parte considerável da militância do partido já admita votar nulo e até mesmo apoiar a reeleição de Bolsonaro.

O movimento, no entanto, tem provocado um racha entre os nomes que apoiam Ciro Gomes dentro do partido. A avaliação de integrantes da cúpula é de que o pedetista conta com adesão de boa parte da militância do partido e uma desistência da candidatura dele neste momento poderia provocar uma crise interna ainda maior.

Publicamente, Ciro Gomes tem subido o tom contra o movimento de Lula em busca do voto útil. Nas redes, o pedetista passou a publicar vídeos dizendo que o movimento pelo voto útil visava destruir os sonhos dos eleitores.

Aliado de Ciro, o presidente do PDT em São Paulo, Antônio Neto, afirma que o manifesto é assinado por um “amontoado de ex-pedetistas” que não têm credibilidade para representar os anseios da legenda. “São pessoas sem espaço, sem representatividade e sem voz. Estão fazendo o trabalho sujo pelo PT, que tem essa prática de tentar corromper o partido internamente", afirmou.

Integrantes da cúpula do PDT avaliam que o movimento de Lula pelo voto útil pode afastar o apoio de Ciro Gomes e de outros pedetistas em um segundo turno. Apesar disso, aliados de Lula já trabalham internamente junto aos demais integrantes do PDT para buscar um apoio formal da sigla em um possível segundo turno.

Integrantes do PT acreditam que o "caminho" adotado por Ciro Gomes na disputa ao subir o tom das críticas contra Lula afastou o pedetista das lideranças do próprio partido. Até o momento, nomes do PDT como dos candidatos ao governo Weverton Rocha (MA) e Rodrigo Neves (RJ) e de Carlos Eduardo (RN), que disputa o Senado, estão entre os mais cortejados pelos petistas.

A avaliação interna de lideranças petistas é que, em um eventual segundo turno, a pressão dos pedetistas que apoiam Lula teria força para que a cúpula do PDT formalizasse o apoio ao PT. "Sempre estive ao lado de Lula, mesmo quando todos seguiam na direção contrária. Se Lula for presidente, nós iremos trabalhar juntos pelo Maranhão. Serei o governador da união, do trabalho e da transformação. O mais importante é cuidar das pessoas”, disse Weverton Rocha.

Tebet diz que busca de Lula pelo voto útil pode inviabilizar apoio

Assim como no PDT, a ofensiva do ex-presidente Lula em relação aos eleitores da senadora Simone Tebet pode levar o MDB para uma neutralidade no segundo turno. A manobra é vista como uma saída alternativa para que o partido não se comprometa publicamente nem com o petista tampouco com o presidente Bolsonaro.

Parte do MDB já defendia o apoio formal ao nome de Lula ainda na fase da pré-campanha eleitoral. Contudo, a ala não tinha voto suficientes para inviabilizar a candidatura de Simone Tebet dentro da Executiva nacional do partido. "Cada dia é mais útil o voto útil para eliminar o inútil", defendeu o senador Renan Calheiros (AL), um dos aliados de Lula dentro do MDB.

Apesar disso, a senadora Simone Tebet já tem defendido publicamente que a ofensiva de Lula pode inviabilizar um acordo formal no segundo turno. "Lamento, também, porque no segundo turno nós sabemos que é preciso fazer composições. Fica sempre cada vez mais distante fazer essas composições quando a gente percebe que ambos os lados jogam de todas as formas, sem nenhum critério, apenas visando a questão eleitoral", disse a candidata no fim de semana durante uma agenda em Brasília.

Assim como Simone Tebet, outros emedebistas já sinalizam que a postura do PT neste primeiro turno pode inviabilizar o eventual apoio formal do MDB em um segundo turno. Na avaliação dessa ala, a nova bancada do partido deve ser composta por uma maioria contrária ao petista.

Além de avaliar negativamente a estratégia de Lula pelo voto útil, aliados de Simone Tebet dizem que uma neutralidade no segundo turno pode beneficiar a senadora. Na avaliação de emedebistas, ela teria dificuldades em apoiar Lula por causa da rejeição do petista em Mato Grosso do Sul, seu estado. 

Mato Grosso do Sul tem uma forte influência do agronegócio e apoia, em grande parte, o presidente Bolsonaro. A expectativa dos aliados de Tebet é de que senadora sairá maior politicamente dessa disputa e um apoio ao nome de Lula poderia resultar em perda de capital político em seu reduto eleitoral.

Campanha de Lula acredita que 2.º turno seria "arriscado"

Questionados sobre os possíveis rachas dentro dos partidos diante da ofensiva pelo voto útil, aliados de Lula afirmam que o petista sempre trabalhou em todas as campanhas para encerrar a disputa eleitoral no primeiro turno. Além disso, a avaliação é que estender a campanha, pautada pela polarização, por mais 30 dias, será “desgastante e arriscado”.

Na segunda-feira (19), um levantamento do instituto FSB mostrou um crescimento de Lula acima da margem de erro, de dois pontos percentuais, em relação ao levantamento anterior. O petista saltou de 41% para 44%, enquanto Bolsonaro repetiu os 35% da rodada anterior. Já Ciro e Tebet recuaram dois pontos porcentuais no período. O pedetista caiu de 9% para 7%; a emedebista recuou de 7% para 5%.

Apesar disso, o movimento ainda não é suficiente para que Lula vença em primeiro turno. Considerando-se apenas os votos válidos, Lula teria 47% em primeiro turno. Como a margem de erro da FSB, Lula teria pelo menos 45% e do máximo 49% dos votos válidos. Para um candidato precisa ao menos de 50% dos votos válidos mais um. Mas a tendência de alta de Lula indica que, se ele conseguir ao menos parte dos votos que iriam para Ciro e Simone Tebet, pode vencer a eleição já no primeiro turno.

Metodologia de pesquisa citada na reportagem 

O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, dois mil eleitores entre os dias 16 e 18 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-07560/2022.

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