Os líderes partidários que apoiam Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniram nesta semana para debater erros e acertos dos primeiros dias de campanha e preparar a estratégia para a entrevista ao vivo do ex-presidente no Jornal Nacional (JN), da TV Globo. Na avaliação interna, o presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu dominar a pauta com o discurso religioso e o ex-presidente acabou cometendo gafes ao falar sobre mulheres durante um comício de São Paulo.
O comitê de campanha, porém, acredita que Lula pode se redimir caso se saia bem na sabatina do JN nesta quinta-feira (25), às 20h30. Ele será entrevistado por 40 minutos pelos jornalistas Willian Bonner e Renata Vasconcelos, e inevitavelmente terá de responder sobre corrupção em seu governo e a condenação na Operação Lava Jato.
Até o momento, a estratégia para alcançar o eleitorado evangélico ainda gera divergências dentro do núcleo de campanha. Por um lado, alguns estrategistas defendem que Lula não deve encampar pautas de costumes, enquanto outra ala defende o contrário.
De acordo com a última pesquisa Datafolha, a intenção de voto em Bolsonaro entre os evangélicos no primeiro turno subiu de 43% em julho para 49% na pesquisa feita entre os dias 16 e 18 de agosto. Lula oscilou de 33% para 32%, dentro da margem de erro. Para tentar frear o avanço do presidente nesse segmento, a campanha petista ampliou os discursos de Lula para o público religioso.
"Tem muita fake news religiosa correndo por esse mundo, tem demônio sendo chamado de Deus e gente honesta sendo chamada de demônio, porque tem gente que não está tratando da igreja para gostar da fé e da espiritualidade, está fazendo da igreja um palanque político ou uma empresa para ganhar dinheiro", afirmou.
Apesar disso, alguns líderes da campanha avaliam que o ex-presidente pode estar sendo levado para uma armadilha. Este grupo acredita que Lula não pode deixar a campanha ser pautada pela agenda religiosa em detrimento da agenda econômica. Segundo esses assessores, Bolsonaro tentar levar a campanha para a agenda de costumes para não ser questionado pelos números da economia.
Declarações de improviso preocupam campanha de Lula
Os discursos de improviso de Lula também têm preocupado articuladores políticos da campanha. Nos últimos dias, um vídeo onde o ex-presidente comete uma gafe ao condenar a violência contra as mulheres circulou em diversas redes de apoiadores de Bolsonaro. Numa parte do discurso, o petista afirmou: "quer bater em mulher, vá bater noutro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil".
A repercussão fez com que a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, fosse às redes sociais para defender Lula. "Ninguém dúvida do compromisso histórico de Lula com as mulheres. No seu governo tivemos os maiores avanços. Criou o Ministério da Mulher, sancionou a Lei Maria da Penha e inúmeros programas tiveram titularidade para as mulheres. É a prática que conta, e não uma frase mal colocada”, afirmou.
Agora, integrantes do núcleo de campanha defendem que o ex-presidente pare de falar de improviso e aposte em discursos previamente combinados com os articuladores. Para tentar convencer o petista, os aliados pretendem citar outras gafes já cometidas em falas de improviso. Entra elas, citam o discurso em que Lula afirmou que "não era candidato de uma facção religiosa" ou então quando disse que Bolsonaro "não gosta de gente, ele gosta de policial" e até quando defendeu a discussão do aborto.
Para os que pregam um alinhamento dos discursos de Lula, a principal argumentação é de que frases "mal construídas" ganham espaço nas redes dominadas pelos aliados de Bolsonaro. Apesar disso, Lula resiste ao movimento e pretende manter seus discursos "espontâneos" na campanha.
Proposta de regulação da agroindústria vira impasse dentro campanha
Outro tema que gerou divergência dentro da campanha de Lula foi a proposta de regulação da agroindústria, incluída no plano de governo do PT. Até então, Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa petista, vinha trabalhando para fazer uma aproximação de Lula com o agronegócio, segmento que atualmente é mais próximo de Bolsonaro.
Até então, o plano de governo afirmava que "é imprescindível agregar valor à produção agrícola, com regulação e a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial". Integrantes do setor viram a mensagem como uma possível interferência do ex-presidente no mercado.
Além de Alckmin, o empresário Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura do governo Michel Temer (MDB), também tem atuado para aproximar Lula dos empresários do agronegócio.
Durante discurso na Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o ministro da Agricultura, Marcos Montes, chegou a criticar a proposta de Lula. "Será que a regulação da produção agrícola quer dizer incentivar novamente os movimentos sociais, como movimento social distorcido do MST, que acabou graças ao Bolsonaro. Não tem mais invasão de terras; o Brasil vive em paz", disse Montes.
Após as críticas do setor, a campanha de Lula declarou que a referência à regulação da produção agrícola foi um equívoco e suprimiu o termo do plano de governo. Agora, o texto diz apenas que "é imprescindível agregar valor à produção agrícola com a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial".
Lula se prepara para sabatina no JN e para debate na Band TV
Com menos agendas públicas nesta semana, o ex-presidente tem se concentrado nos treinamentos para a sabatina desta quinta no Jornal Nacional, da TV Globo, e para o primeiro debate da Band TV, previsto para domingo (28). Questionada pela Gazeta do Povo, a campanha petista não confirmou a agenda para o debate, mas integrantes do PT já dão como certa a presença do candidato.
O ex-presidente vem se preparando para possíveis temas que serão abordados nos dois eventos. Entre eles o combate à corrupção, citando as anulações das condenações na Lava Jato. Os articuladores acreditam que os adversários vão explorar que Lula não foi inocentado, mas que os processos voltaram para a primeira instância e acabaram arquivados por causa de decisões do Supremo Tribunal Federal.
Além disso, esperam que o ex-presidente seja pressionado para apresentar propostas mais concretas para temas econômicos como as mudanças na reforma trabalhista e a revogação da lei do teto de gastos. O petista já defendeu tais alterações, mas sem detalhar quais serão as propostas de seu eventual governo.
Metodologia das pesquisas citadas
O Datafolha entrevistou 5.744 eleitores entre os dias 16 e 18 de agosto em 281 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-09404/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 27 e 28 de julho em 183 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no TSE com o protocolo BR-01192/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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