Após críticas a bancos, presidente Jair Bolsonaro (PL) busca reaproximação com o sistema financeiro.| Foto: Alan Santos/PR
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A reunião entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e representantes do setor financeiro na sede da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) faz parte de uma estratégia traçada pelo comitê da campanha do chefe do Executivo federal para distensionar a relação com o sistema financeiro e reposicioná-lo como um candidato liberal, assim como em 2018.

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É admitido na campanha que a gestão Bolsonaro se distanciou do mercado financeiro ao longo do mandato, mas um diagnóstico do núcleo político feito ao longo das últimas semanas é que uma reaproximação com os bancos seria necessária para buscar apoio e reafirmar a candidatura como defensora da agenda liberal.

Um slogan utilizado pela candidatura é "liberdade e fé", e o plano de governo de Bolsonaro vai enfatizar diversos aspectos da agenda liberal econômica. Por isso, resgatar a relação com os bancos é tido como estratégico, principalmente às vésperas do lançamento do programa Caixa Pra Elas, uma iniciativa da Caixa Econômica Federal voltada ao público feminino por meio de ações de empreendedorismo e educação financeira.

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Sem a distensão na relação entre Bolsonaro e bancos, o comitê da campanha teme fortalecer outros presidenciáveis, sobretudo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A leitura interna é que o PT ocupou o vácuo político da relação desgastada entre o governo e o sistema financeiro para captar apoio junto aos agentes econômicos.

Ainda que muitos integrantes dos núcleos político e econômico da campanha de Bolsonaro entendam que Lula possa encontrar dificuldades em convencer a maioria dos agentes do mercado a apoiar sua candidatura, a análise é de que não se pode menosprezar o adversário e correr o risco de perder votos e o apoio de banqueiros e investidores para o petista e candidatos da terceira via.

Para a campanha, o apoio do sistema financeiro é ainda mais imprescindível em meio às estratégias para ampliar o capital político de Bolsonaro pela vinculação ao Auxílio Brasil. Na última semana, o presidente sancionou uma lei que libera a concessão de crédito consignado a beneficiários do Auxílio Brasil e do Benefício de Prestação Continuada (BPC, pago a pobres idosos ou com deficiência), e o núcleo político acredita que os bancos possam dar vazão ao programa social entre os eleitores.

A presidentes e demais representantes de bancos, Bolsonaro fez um apelo para que as instituições reduzam os juros ao crédito consignado concedido aos beneficiários do BPC. "Faço apelo para vocês: vai entrar o pessoal do BPC no empréstimo consignado. Isso é garantia, desconto em folha. Se puderem reduzir o máximo possível, porque ainda estamos no final da turbulência para que todos nós possamos cada vez mais mostrar que o Brasil não é mais um país do futuro, é do presente. Os números estão ai, números fantásticos. Feitos por quem? Pelo nosso governo, por vocês também", disse.

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Que avaliação faz a campanha de Bolsonaro após reunião com bancos

A reunião entre Bolsonaro e os bancos foi comemorada pelo comitê da campanha. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), um dos principais coordenadores eleitorais da candidatura do pai, usou o Twitter para celebrar. "Presidente Jair Bolsonaro aplaudido de pé agora na Febraban. E os aplausos foram por longo tempo. Ficou bem claro quem defende a democracia: Bolsonaro!", declarou.

O próprio Bolsonaro também comemorou. "Fui aplaudido na Febraban. Foi feita uma live e, no final, foi um minuto de palmas. Quase todos se levantaram e bateram palmas na Febraban, que assinou aquele manifesto [a favor da democracia]", afirmou em entrevista ao Flow Podcast na noite de segunda.

Apesar da deixar clara sua contrariedade aos signatários dos manifestos da Fiesp e da Universidade de São Paulo (USP), que classificou como "cara de pau" e "sem caráter", Bolsonaro evitou tensionar a relação com os bancos. Manteve suas críticas às cartas a favor da democracia, mas minimizou suas queixas aos bancos.

"Não vou acusar banqueiro agora, banqueiros são essenciais como qualquer atividade no Brasil", disse Bolsonaro ao Flow Podcast. O presidente disse, porém, que os bancos "levaram uma paulada com o Pix" e afirmou que foi seu governo o autor do meio de pagamento eletrônico instantâneo, que, segundo ele, levou a uma perda de R$ 20 bilhões aos bancos.

Há duas semanas, Bolsonaro fez a mesma crítica e ainda associou a assinatura da Febraban ao manifesto a favor da democracia da Fiesp, ao considerar o pagamento instantâneo como perda do "monopólio dos bancos", que, segundo ele, "estão perdendo o poder".

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Interlocutores da campanha, porém, insistem que os comentários sobre o modelo de pagamento fazem parte de sua retórica política-eleitoral e que a relação está sendo apaziguada. A análise é de que a fala de Bolsonaro sobre não "acusar banqueiro" é uma demonstração de que o presidente está disposto a retomar o relacionamento com o mercado.

Como ocorreu o desgaste entre Bolsonaro e o sistema financeiro

A reunião entre Bolsonaro e representantes do sistema financeiro sugere uma disposição do próprio presidente em atuar como interlocutor com os bancos, dizem assessores da campanha. A campanha reconhece que o próprio mercado pedia uma interlocução maior com o governo e, agora, tentam resolver isso.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já teve uma relação mais próxima com o mercado financeiro. Há quatro anos, quando era o "Posto Ipiranga" de Bolsonaro, ele atuou como avalista do então presidenciável junto ao mercado. Porém, interlocutores da candidatura presidencial admitem que relação se desgastou ao longo do mandato e, hoje, não é classificada como a ideal.

Em 2020, Guedes disse que a Febraban é uma "casa de lobby" e acusou a entidade de ter atuado para derrubá-lo do cargo. "A Febraban é uma casa de 'lobby'. Muito justo o lobby, mas está escrito assim na testa: ‘lobby bancário’. Para todo mundo entender do que se trata, inclusive financiando estudos que não têm nada a ver com a atividade de defesa das transações bancárias, financiando ministro gastador para ver se fura teto, para ver se derruba o outro lado. Tem que falar a verdade", disse Guedes.

Em 2021, Guedes acusou a Febraban de ter atuado para alterar o tom de um manifesto a favor da democracia para atacar o governo. "A informação que eu tenho é a seguinte. É que havia um manifesto de defesa da democracia, e que aí não haveria problema nenhum, e que alguém na Febraban teria mudado isso para em vez de ser uma defesa da democracia, ser o que seria um ataque ao governo. Aí, a própria Fiesp teria dito: 'então eu não vou fazer esse manifesto'. E o manifesto parece que está até suspenso por causa disso, não estão chegando a um acordo", disse o chefe da equipe econômica.

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Os dois episódios envolvendo Guedes são usados como exemplos que levaram ao desgaste entre o ministro e os bancos. Outros motivos são elencados, como a defesa do chefe da equipe econômica de um imposto sobre transações digitais e o aumento por medida provisória (MP) da alíquota da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) paga pelos bancos de 20% para 21%, em abril.

É reconhecido na campanha, porém, que o próprio Guedes atuou para conseguir a agenda de Bolsonaro na Febraban. Também é destacado que o ministro participou da reunião entre o presidente e os banqueiros e que, na última semana, esteve na Expert XP, evento voltado para o setor financeiro. Ambos os eventos são apontados como parte da força-tarefa para melhorar a relação entre o governo e os bancos.

Também é citado que, além de Bolsonaro e Guedes, outros no núcleo político da campanha atuam nos bastidores para retomar o relacionamento com os bancos. Um deles é o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do PP e um dos coordenadores eleitorais, que também fez críticas recentes às instituições financeiras. Ele esteve presente na reunião entre Bolsonaro e banqueiros.

Nogueira também citou o Pix para criticar a assinatura da Febraban às cartas a favor da democracia. "Eles podem assinar manifestos contra porque estão livres da perseguição, sim, mas o Banco Central independente coloca em prática o Pix, que por ano transferiu mais de R$ 30 bilhões, 40 bilhões de reais de tarifas que os bancos ganhavam a cada transferência bancária e hoje é de graça", disse.

O que dizem os bancos sobre o crédito consignado para Auxílio Brasil e BPC

A reunião entre Bolsonaro e representantes do mercado financeiro também foi bem avaliada por representantes do setor. O sentimento é de que ela esfria os ânimos e possibilita um diálogo melhor ao longo das eleições. Porém, o apelo do presidente para que os bancos reduzam os juros do crédito consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil e do BPC pode não ter funcionado – a começar, porque alguns dos maiores bancos não pretendem oferecer esse tipo de empréstimo.

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O Itaú Unibanco disse, em nota enviada à Gazeta do Povo, que não oferece crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil "e não tem perspectiva de vir a oferecer". O banco, por outro lado, já faz empréstimos desse tipo a quem recebe o BPC e outros benefícios do INSS.

O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr, descartou a concessão de uma linha de crédito consignado para beneficiários de programas sociais. Para ele, trata-se de um benefício transitório, o que confere um crédito de maior risco a juros elevados aos mais vulneráveis.

"Não se trata de uma aposentadoria ou pensão, mas um benefício a pessoas que estão em dificuldades. Portanto, o Bradesco não vai operar nessa carteira. Estamos falando de pessoas vulneráveis", declarou o executivo em um evento de apresentação dos resultados do banco. "Este é um momento de maior dificuldade. Tivemos que ajustar nossos modelos de crédito. A Selic (taxa básica de juros) não é mais 2%, mas quase 14%. Esse ajuste exclui pessoas que poderiam ter crédito", complementou.

Em nota, o BMG informou que não irá operar a modalidade. O Santander comunica que não oferece o crédito às famílias do Auxílio Brasil, mas informa que, para beneficiários do BPC, as condições são as mesmas para os aposentados, de até 2,14%. "O cliente pode dividir o empréstimo em até 84 meses e o valor mínimo para solicitar a linha de crédito é de R$ 600", diz.

O Banco do Brasil, que já oferece crédito a quem recebe o BPC, disse à Gazeta do Povo que ainda analisa a possibilidade de operar a linha aos beneficiários do Auxílio Brasil. "No BB, os beneficiários do INSS, correntistas e não correntistas, que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) podem contratar empréstimo consignado, sendo necessário possuir margem consignável disponível. O cliente pode parcelar seu empréstimo em até 84 meses e as parcelas são descontadas diretamente no benefício do INSS", informou o banco.

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A Caixa Econômica Federal é a principal exceção até agora. O banco estatal informou que vai operar com uma linha de crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil e que as contratações do empréstimo terão início após a regulamentação das condições da operação. "As taxas de juros serão informadas quando iniciarem as contratações. A Caixa orienta aos seus clientes sobre a importância de se utilizar o crédito de forma consciente, adequando o valor das parcelas ao seu orçamento e planejamento financeiro familiar", comunica.

O Agi (antigo Agibank) confirmou "Valor Econômico" que trabalhará com o serviço. "O Agi já oferece crédito consignado para beneficiários do INSS e agora passa a oferecer também para beneficiários do Auxílio Brasil. A sanção dessa medida representa a possibilidade de acesso ao crédito a milhões de brasileiros que precisam do recurso para realizar algum projeto específico ou até mesmo para as demandas básicas do dia a dia", informou o banco, em nota.