A coordenação eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalha para finalizar o novo plano de governo até o início da segunda quinzena de julho, às vésperas do período de convenções partidárias, que ocorre entre 20 de julho e 5 de agosto. A meta é ter toda a proposta concluída e revisada antes do prazo para apresentá-la até a convenção partidária do PL, prevista para 22 de julho.
O plano de governo é coordenado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que tem recebido sugestões de integrantes do governo e de caciques políticos. A elaboração do programa, porém, é construída com o apoio de membros do "núcleo duro" de Bolsonaro, que inclui o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o general Braga Netto, o ex-ministro da Defesa que deve ser escolhido pelo presidente como seu vice.
Mesmo ex-integrantes do governo também auxiliam na elaboração do plano de governo, a exemplo do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Recentemente, Flávio recebeu sugestões das áreas de segurança, defesa nacional e meio ambiente do militar e também de Braga Netto.
O pré-candidato a vice da chapa contribui "em tudo" na formação do plano de governo, asseguram interlocutores do Palácio do Planalto. Braga Netto é apontado como um dos principais nomes na formação do programa. O secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flávio Rocha, e os ministros da Secretaria de Governo, Célio Faria Júnior, e das Comunicações, Fábio Faria, também auxiliam.
As áreas que devem ganhar destaque no plano de Bolsonaro
O plano de governo é o documento responsável por apresentar as propostas e visões de um candidato. É dito no Planalto que o programa para uma segunda gestão de Bolsonaro trará princípios muito alinhados ao plano apresentado em 2018. A exemplo das privatizações, da responsabilidade fiscal e da defesa por uma reforma tributária.
A agora presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, apresentou sugestões a Flávio Bolsonaro para o plano de governo quando ainda era secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, segundo afirmam interlocutores da coordenação de campanha.
A pauta moral, ética e de costumes é outra que tende a seguir uma linha já adotada pelo governo. Interlocutores não descartam a defesa de princípios muito semelhantes aos apresentados no plano de governo de 2018, como o enfrentamento à ideologia de gênero e a defesa à vida, em uma clara oposição ao aborto — pauta que ganhou força junto à base eleitoral e política mais ideológica de Bolsonaro.
Diferentemente do plano de governo apresentado em 2018, que não trouxe detalhamentos para a agenda ambiental, são esperadas propostas no programa deste ano que vão de encontro à defesa do desenvolvimento sustentável propagado pelo governo. A atual política ambiental propõe soluções que remunere quem cuida de florestas nativas e ajuda a reduzir a emissão de gases poluentes, por exemplo.
O governo também deve manter o destaque para a agenda do combate à corrupção, a despeito de críticas e acusações feitas pela oposição de um suposto esquema de corrupção envolvendo o Ministério da Educação. São esperadas referências ao sistema de compliance implementado nos ministérios e ações da Controladoria-Geral da União (CGU) em enfrentamento a denúncias e suspeitas.
Bolsonaro dará a palavra final no plano de governo
Uma vez concluído, o plano de governo será analisado por Bolsonaro e seu núcleo duro. A palavra final e a aprovação do documento que será registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ficará a cargo do presidente da República. Ele quer a segurança de que o programa apresentará propostas em um tom considerado adequado.
A meta de Bolsonaro é apresentar um plano de governo objetivo e de fácil compreensão ao eleitor, como em 2018. Por isso, interlocutores do Planalto e da coordenação eleitoral afirmam que o programa vai ter as digitais do presidente, não de profissionais de marketing político.
Segundo a TV Bandeirantes, desentendimentos entre os marqueteiros Sérgio Lima e Duda Lima, que atuam na elaboração de peças publicitárias e nas inserções eleitorais em rede nacional de rádio e televisão, estariam impondo dificuldades para a consolidação do plano de governo a ser registrado no TSE. A Band informou que Sérgio seria a favor de Bolsonaro manter uma linha mais ideológica e apostar em mais temas da pauta de costumes. Já Duda seria mais pragmático.
A Gazeta do Povo foi informada por interlocutores que, de fato, o relacionamento profissional entre os dois marqueteiros não é tão próximo e isso tem ocasionado conflitos. Porém, fontes palacianas e da base governista no Congresso afirmam que a relação não afeta o plano de governo.
Por conta das sugestões e ideias colhidas por Flávio, a coordenação da campanha ainda não tem um programa fechado. O senador está concentrado na montagem do plano, mas precisou dividir os esforços nos últimos dias com a articulação política a favor da aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria auxílios a caminhoneiros e amplia benefícios a programas sociais.
O que explica as "rusgas" entre os marqueteiros
A ausência de um "supermarqueteiro", como é natural em candidaturas presidenciais e nas principais campanhas majoritárias, é apontado como o principal fator de "ruídos" e divergências, avaliam interlocutores.
Na pré-campanha presidencial à reeleição, Bolsonaro é o "marqueteiro-chefe" e, com o núcleo político dando as cartas, cada um dos marqueteiros tenta convencer a coordenação eleitoral de suas propostas para a comunicação. A disputa por espaço e ideias entre os profissionais de marketing gera, por consequência, eventuais atritos.
As divergências sobre a estratégia de comunicação não são uma novidade na pré-campanha de Bolsonaro. Interlocutores da coordenação eleitoral minimizam os ruídos e ponderam que o debate de ideias é positivo e complementar às diretrizes do presidente da República, que tem a palavra final.
As "rusgas" entre os marqueteiros Sérgio Lima e Duda Lima, como dizem interlocutores da pré-campanha, são perceptíveis nos bastidores. Porém, o atrito entre os dois não é visto como intenso, sendo classificado por integrantes da coordenação eleitoral como "ciúmes" e "briga por espaço" gerada pela ausência de um "supermarqueteiro".
O relacionamento entre Duda e Sérgio não é classificado como desarmônico, até porque eles têm uma visão semelhante sobre a importância dada pela pré-campanha em romper a "bolha" da base eleitoral mais ideológica a fim de atingir outros nichos do eleitorado. Entre ambos há apenas divergências e ponderações sobre como fazer isso.
Marqueteiro de confiança do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, Duda é tido como um profissional mais experiente em campanhas gerais e tem um perfil mais próximo do marketing político profissional. Sérgio tem menos experiência, mas é mais próximo da família Bolsonaro e tenta incorporar mais o personalismo do presidente. Ele foi o marqueteiro do Aliança pelo Brasil, partido que o presidente e sua base política mais ideológica tentaram criar.
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