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Bolsonaro evangélicos
Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo: presidente participará de marchas para Jesus em São Paulo e no Rio de Janeiro| Foto: Isac Nóbrega/PR

A investigação contra os pastores Gilmar Santos, Arilton Moura e Milton Ribeiro, que é ex-ministro da Educação, não abalou a relação entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e os evangélicos. Interlocutores do Palácio do Planalto, líderes religiosos e lideranças da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) no Congresso apontam não haver risco algum de a base evangélica romper com o governo federal.

O governo não está desesperado nem preocupado com a investigação da Polícia Federal, mas o núcleo político teme que o caso contamine a imagem de pastores e evangélicos em geral. O Planalto entende que o segmento evangélico tende a permanecer na mira da oposição e criar um desgaste não desejado por Bolsonaro e coordenadores políticos, analisam interlocutores palacianos.

A coordenação política de Bolsonaro teve conhecimento de que alguns pastores ficaram preocupados com a prisão de Ribeiro e dos outros pastores. Para líderes religiosos e o Planalto, o episódio pode ser usado pela oposição para desconstruir os evangélicos, uma base importante de apoio ao presidente.

Mas o Planalto não pensa em construir uma estratégia específica para sair em defesa de sua base evangélica por entender que não precisa forçar nada no sentido de evitar ruídos ruídos ou desgastes com os evangélicos. A ideia é manter a estratégia atual de defender que a PF investigue o caso e evitar ataques aos evangélicos.

Por esse motivo, embora não acredite na instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o Ministério da Educação (MEC), o governo atua contra sua abertura por entender que uma CPI poderia gerar ataques e ofensas da oposição a todo um segmento religioso e até a fé de evangélicos para acusar três pastores.

Bolsonaro vai manter agendas com evangélicos

A relação entre Bolsonaro e evangélicos não mudará em nada. O núcleo político do presidente afirma que ele vai manter um movimento natural de prestigiar a base evangélica por meio de viagens e participações em eventos a convites de líderes religiosos. É dito, por exemplo, que ele irá às marchas para Jesus em São Paulo, marcada para 9 de julho, e no Rio de Janeiro, prevista para 13 de agosto.

A participação de Bolsonaro em ambas as marchas já estava prevista antes da investigação contra Milton Ribeiro e os outros pastores. Interlocutores palacianos reforçam que não há nenhuma estratégia em discussão para evitar supostos ou possíveis ruídos na relação entre o presidente e a base evangélica. A tendência é manter com naturalidade o relacionamento construído, o que inclui as viagens.

Além de Bolsonaro, também é esperado que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos), mantenham suas agendas de viagem. As duas assumiram papéis-chave na pré-campanha presidencial com participações em eventos, como a presença na Marcha para Jesus em maio.

Os papéis desempenhados por Michelle e Damares são importantes para consolidar votos a Bolsonaro entre evangélicos e conservadores. As duas tomaram conhecimento por lideranças de que uma parcela significativa de evangélicos não está disposta a votar no presidente e não descartam se abster nas eleições, fato que preocupa a coordenação eleitoral do governo.

Na prática, a interlocução encampada pelas duas vai na linha discursiva de que, "se não votar no Bolsonaro, os evangélicos vão entregar o Brasil para a esquerda mais uma vez". Onde vão, Michelle e Damares têm sido bem recebidas. Líderes evangélicos se identificam principalmente com a ex-ministra, vista como "muito carismática" e com grande poder de convencimento.

A filiação de Damares ao Republicanos, por sinal, foi importante para reaproximar Bolsonaro da Igreja Universal e de outros segmentos da igreja evangélica, a exemplo da Igreja Internacional da Graça de Deus e da Igreja Mundial do Poder de Deus. Também é dito que ela ajuda Bolsonaro a consolidar votos e apoio junto à Assembleia de Deus, a maior do país.

O que dizem lideranças evangélicas sobre a relação com Bolsonaro

O pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, diz à Gazeta do Povo que o caso envolvendo Milton Ribeiro e os outros dois pastores não muda em nada a relação entre Bolsonaro e a base evangélica. "Não muda nem 0,1%, nada, não atingiu o presidente em nada no mundo evangélico", afirma.

Sobretudo diante da estratégia de oposicionistas em atacar os pastores e o governo, Malafaia entende até que os desdobramentos favorecem Bolsonaro. "Isso tudo fortalece o presidente junto aos evangélicos, que irá aos eventos. Ele não vai deixar brecha para Lula e ninguém, ele vai a tudo que é marcha, a vários eventos. Isso ele vai continuar", destaca.

O líder evangélico confirma a presença de Bolsonaro nas marchas para Jesus em São Paulo e no Rio de Janeiro e sustenta que o presidente não tem envolvimento com os pastores. Malafaia também ressalta que, ainda na época das primeiras denúncias feitas pela imprensa sobre as suspeitas envolvendo Milton Ribeiro e os pastores, ele e outras lideranças evangélicas pediram uma investigação "profunda" e o afastamento do ex-ministro do MEC.

"Não fomos coniventes com nada. Se tem erro, que prove", destaca Malafaia. "Cada um é responsável pelos seus atos. Os pastores estão envolvidos em algo errado? Que paguem, não estamos contra, não somos igual o PT, que bota lixo para debaixo do tapete. Nós queremos transparência, falamos lá atrás. Então, não tem nenhum problema, não nos afeta em nada e a vida continua", acrescenta.

O pastor ressalta, porém, sua crítica de que a prisão do ex-ministro do MEC foi feita sem nenhuma prova e sem o aval do Ministério Público Federal (MPF). "Um juiz pode contrariar o Ministério Público? Claro, desde que tenham provas robustas. Mas o que fizeram foi uma atitude política e vergonhosa para atingir o Bolsonaro", critica.

Sobre a CPI do MEC articulada pela oposição, Malafaia defende que, caso fosse aberta, fossem investigados denúncias e supostos esquemas de corrupção durante as gestões petistas, como defende o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ). "E se tiver corrupção, doa a quem doer, se é bolsonarista, petista, corrupção não tem lado, é contra o povo e o Brasil. Agora, querer comparar governo Bolsonaro a Lula? Isso é piada. Só o acordo de devolução de dinheiro roubado [na operação Lava Jato] foi de R$ 22 bilhões", destaca.

O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), vice-líder do governo no Congresso e líder da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, diz que a investigação não gera risco de lideranças evangélicas romperem com o governo pela decisão de não defender o ex-ministro.

"Não há nenhuma chance disso acontecer, porque o ex-ministro não foi indicado nem por líderes evangélicos, nem pela frente evangélica [do Congresso]", afirma Feliciano à Gazeta do Povo. "Estamos muito tranquilos quanto ao que houve. Aguardamos os desdobramentos", complementa o vice-líder do governo.

Como líderes evangélicos vão se posicionar em relação a Milton Ribeiro

Outro líder evangélico, que pediu para não ser identificado, analisa que a tendência é que grandes lideranças nacionais do segmento religiosos se silenciem ou "rifem" Milton Ribeiro e os outros pastores. A leitura feita entre bispos e pastores é que o ex-ministro do MEC errou, a começar pela decisão de não ter se licenciado da função pastoral.

"Eu acho que tem dois problemas aí. O primeiro é que o Milton deveria ter se licenciado. Quando a pessoa é pastor, especialmente de igrejas históricas, como a dele, que é a Presbiteriana, quando vai exercer uma função que não é pastoral, geralmente a pessoa se licencia do cargo. Deveria ter se licenciado da função de pastor, pois, agora, o problema ia ser muito menor do ponto de vista entre os evangélicos", destaca a fonte consultada.

O outro problema identificado pelo líder evangélico é o fato do ex-ministro ter estreitado as relações com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura. "Sinceramente, acho que ele não ganhou dinheiro, nem teve a intenção de se enriquecer ilicitamente. Mas foi, no mínimo, inocente. Esses pastores já atuavam como lobistas em outros governos, pelo que é dito", aponta.

Por entenderem que o ex-ministro cometeu erros, líderes evangélicos dizem que a relação com Bolsonaro não fica abalada e entendem o governo agir com distanciamento e defendendo o andamento das investigações. "A igreja vai rifar o Milton, não o Bolsonaro. O máximo que pode ocorrer é a Igreja Presbiteriana protegê-lo, até por questão de ética. O restante não fará isso", diz a fonte.

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