O presidente da República Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, abriu, na noite desta segunda-feira (22), a série de entrevistas com os principais presidenciáveis, que serão realizadas ao longo desta semana no Jornal Nacional (JN), da TV Globo.
Durante 40 minutos de entrevista sob a condução de William Bonner e Renata Vasconcellos, Bolsonaro respondeu perguntas sobre a confiança do sistema eleitoral, a situação da economia, o desmatamento na Amazônia, a relação com o Centrão, promessas não cumpridas e a forma como seu governo enfrentou a pandemia da Covid-19. Garantiu ainda não haver casos de corrupção em seu governo.
O candidato aproveitou parte da entrevista para falar sobre alguns avanços econômicos da sua gestão, como a queda na taxa de desemprego e da inflação, a criação do Auxílio Brasil e do PIX, e o auxílio emergencial, que socorreu milhares de famílias durante a crise sanitária.
Veja a seguir mais detalhes sobre os principais temas abordados por Bolsonaro:
Atritos com o STF e segurança das urnas eletrônicas
Bolsonaro disse que, com suas críticas ao sistema eleitoral, pretende ter mais transparência nas eleições. “Se você pode botar uma tranca a mais na sua casa para evitar que ela seja assaltada, você vai fazer ou não? Então esse é o objetivo do que eu tenho falado sobre o Tribunal Superior Eleitoral”.
Afirmou também que em 2018 houve uma denúncia de fraude no processo eleitoral e que a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber determinou que fosse aberto inquérito pela Polícia Federal para apurar. Disse que, na apuração, o TSE informou à PF que hackers ficaram por 8 meses dentro do sistema do tribunal, e que após pedido dos logs (registros) pela Polícia Federal o TSE demorou 7 meses para informar que os logs haviam sido apagados.
“Estamos tentando evitar que dúvidas pairem por ocasião das eleições deste ano”, declarou.
Bolsonaro já havia mencionado as acusações contra o sistema eleitoral em reunião que o presidente da República promoveu com embaixadores em julho. Após a reunião com embaixadores, o TSE rebateu as falas de Bolsonaro (clique para ler). Sobre riscos à segurança das urnas em decorrência da invasão hacker, o órgão disse que em "nenhum momento as urnas eletrônicas são conectadas à internet, nem possuem placa que dê acesso a outro tipo de conexão em rede".
Sobre declaração de que os logs foram apagados – arquivos que registram todo percurso do hacker dentro dos sistemas, na invasão de 2018, foram perdidos pela empresa terceirizada –, o TSE diz que isso não representou risco à integridade das eleições, porque os códigos dos programas passaram por “sucessivas verificações e testes, aptos a identificar qualquer alteração ou manipulação”. “Nada de anormal ocorreu”, disse o tribunal em nota divulgada no ano passado. “É possível afirmar, com margem de certeza, que a invasão investigada não teve qualquer impacto sobre o resultado das eleições”, diz outro trecho do comunicado da Corte.
Alexandre de Moraes
Questionado sobre falas supostamente antidemocráticas, Bolsonaro disse que vem sendo perseguido por um ministro do STF em um inquérito ilegal, em referência a Alexandre de Moraes e ao inquérito 4781, conhecido como “inquérito das fake news”. Sobre sua relação com Moraes, no entanto, disse que “hoje em dia, pelo que tudo indica, está pacificada. Espero que seja uma página virada”.
Manifestações supostamente anticonstitucionais de apoiadores
Bolsonaro afirmou que as manifestações favoráveis ao seu governo são pacíficas “sem qualquer ruído” e que não leva a sério pedidos de manifestantes por fechamento do Congresso Nacional. “É liberdade de expressão deles, eu não levo por esse lado. Para mim isso faz parte da democracia. Não posso é eu ameaçar fechar o Congresso ou o STF”.
Respeito ao resultado das urnas
Após pedido de Bonner para que Bolsonaro assumisse um “compromisso eloquente de que vai respeitar o resultado das urnas seja ele qual for”, Bolsonaro respondeu:
“Seja qual for o resultado, eleições limpas devem e têm que ser respeitadas. Limpas e transparentes têm que ser respeitadas”. Após ênfase por parte do jornalista de que “está atestado que as eleições brasileiras são limpas e transparentes” e novo questionamento por parte de Bonner, o presidente disse que: “serão respeitados os resultados das urnas desde que as eleições sejam limpas e transparentes”.
Pandemia
Após questionamento de Renata Vasconcellos quanto a supostas falhas durante a gestão da pandemia pelo governo federal, Bolsonaro disse que o governo comprou vacinas e que todos os que desejaram puderam se vacinar. Afirmou também que em contratos, a exemplo do da Pfizer, não havia garantia da entrega das vacinas.
Sobre o tratamento precoce, disse que houve trabalho da grande mídia para desestimulá-lo.
Após pergunta da jornalista sobre possível desestímulo à vacinação contra a Covid-19 por parte do presidente, Bolsonaro disse que no contrato da Pfizer constava que a empresa não se responsabilizava por efeitos colaterais.
Bolsonaro declarou, ainda, que fazer lockdown extenso foi um erro. Questionado sobre ter ou não se arrependido de ter dito frases polêmicas durante a pandemia, disse que lamentava as mortes.
A situação da economia
Em pergunta sobre o não cumprimento de promessas na área econômica, Bolsonaro disse:
“As promessas foram frustradas pela pandemia, por uma seca enorme que tivemos no ano passado e também pelo conflito entre Ucrânia e Rússia. Se você pegar os dados de hoje, você vê o Brasil talvez como o único país no mundo com deflação. Um país que vai ter uma inflação menor do que Inglaterra e Estados Unidades. Você vê também que a taxa de desemprego tem caído no Brasil. Os números do Brasil são fantásticos levando em conta o resto do mundo. Se fosse apenas o Brasil com esse problema eu seria o responsável”.
Em seguida, insistiu no papel das reformas estruturais na área econômica. “A grande vacina a favor da economia em 2019 foram as reformas, como por exemplo a da previdência, a lei da reforma econômica, a modernização das normas regulamentadores”, disse.
Meio ambiente
Questionado sobre falas do ex-ministro do meio Ambiente Ricardo Salles sobre “passar a boiada”, interpretado por alguns como a enfraquecer leis ambientais e o aumento da taxa de desmatamento durante seu governo, disse se preocupar com a população que mora na Amazônia, e que essa é a primeira preocupação. Disse, também, que não se dá o mesmo peso a incêndios no Brasil quanto em outros países, sobretudo europeus.
Sobre suposto enfraquecimento da fiscalização ambiental e suposta mensagem de incentivo por parte de Bolsonaro a quem desmata ou ao garimpo ilegal, disse que há abusos na fiscalização por parte do Ibama. “Tem locais na Amazônia que é permitido [o desmatamento] para o cultivo”.
Relação com Centrão
Sobre a aproximação do governo de Bolsonaro com o chamado “Centrão” no Congresso Nacional, disse que não poderia deixar de lado esse bloco, porque se tratam de 300 parlamentares de partidos de centro, e que sem eles não poderia governar.
“São 513 deputados e 300 são de partidos de centro, pejorativamente chamados de Centrão. O lado de lá, os 200 que sobram, o pessoal do PT, PCdoB, Psol, Rede, não dá para você conversar com eles. Os partidos de centro fazem parte da base do governo para que possamos avançar em reformas”.
Ministério da Educação
A respeito das várias mudanças no comando do Ministério da Educação (MEC), o presidente disse que “muitas vezes depois que a pessoa chega, a gente vê que ela não leva jeito para aquilo”. Em seguida, Bolsonaro se referiu ex-ministro Milton Ribeiro, suspeito de envolvimento em corrupção no MEC. “Não tinha nada contra ele. Se tiver hoje em dia é outra história. Até aquele momento não tinha nada”
Sobre o suposto envolvimento de dois pastores na suspeita de corrupção, disse que não havia problemas em haver pastores no gabinete. “Agora, se ele faz besteira... Agora, nós começamos a investigar o caso dos pastores, não foi a PF. Nós começamos a investigar com a CGU”.
Perguntado sobre a saída de diversos ministros da Educação, disse que “as pessoas se revelam quando chegam” e que o ideal era não ter rotatividade.
Interferência na Polícia Federal
Bolsonaro disse que quem o acusou de interferência na PF foi o ex-ministro Sergio Moro e que a prova estaria na reunião entre ministros, que acabou sendo divulgada por ordem do STF. “Entreguei a fita. Não acharam nada. Eu, quando entrego o minsitério para alguém, eu dou para aquela pessoa agir. A PF, com a saída do Sergio Moro, melhorou muito”, disse. Afirmou, por fim, que ninguém consegue comandar a Polícia Federal e que não houve interferência.
Declarações finais
“Peguei o Brasil numa situação crítica na questão ética, moral e econômica. Começamos a trabalhar, fizemos muitas reformas em 2019. Infelizmente tivemos a Covid, depois tivemos a guerra lá fora, tivemos uma seca enorme. E nós fizemos todo o possível para que a população brasileira sofresse o menos possível. Hoje você nota, o preço da gasolina caiu assustadoramente. Nada de canetada, foi um trabalho nosso junto ao parlamento brasileiro.
Conseguimos R$ 600 de Auxílio Brasil para 20 milhões de pessoas, as mais pobres, conseguimos a transposição do Rio São Francisco que estava parado desde 2012, levando água para o Nordeste. Nós pacificamos o MST titulando terras pelo Brasil e 90% dessas titulações foram para as mulheres. Criamos o PIX tirando dinheiro de banqueiros fazendo com que a população pudesse se transformar muitos em pequenos empresários. Um PIX sem qualquer taxação em cima. Anistiamos 99% da dívida de um milhão de jovens junto ao Fies”, disse o presidente, encerrando a fala devido ao término do tempo disponível para as declarações finais.
Outros presidenciáveis no Jornal Nacional
Além de Bolsonaro, outros três candidatos à presidência da República serão entrevistados no Jornal Nacional nesta semana – Ciro Gomes (PDT) estará no telejornal nesta terça-feira (23), Lula (PT) na quinta-feira (25) e Simone Tebet (MDB) na sexta-feira (26).
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