Os candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) protagonizaram o debate presidencial da TV Globo na noite desta quinta-feira (29). Houve diversas trocas de acusações e ofensas entre eles, mas não em um confronto olho no olho entre os dois. Foi o o último antes da realização do primeiro turno das eleições presidenciais, que ocorre no próximo domingo (2).
Lula e Bolsonaro conseguiram concentrar as atenções mesmo sem terem feito perguntas diretas um ao outro. As regras do debate impediram que Lula questionasse Bolsonaro. Já o presidente optou por chamar nomes como Padre Kelmon (PTB) e Felipe D'Ávila (Novo) quando teve a oportunidade de confrontar o candidato do PT. Lula e Bolsonaro são os líderes da corrida presidencial, de acordo com a última pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta.
A troca de ataques entre Lula e Bolsonaro foi possível por conta de uma série de pedidos de resposta elaborados pelos candidatos e concedidos pela organizadora do encontro. Os pedidos foram motivados por falas diretas de Lula e Bolsonaro e também por citações de outros candidatos, que focaram nos dois principais candidatos à sucessão no Palácio do Planalto. Na parte inicial do debate, os "direitos de resposta ao direito de resposta" requisitados por Lula e Bolsonaro chegaram a incomodar o também candidato Ciro Gomes (PDT), que ironicamente disse que pediria para deixar os estúdios da Globo.
As acusações entre Lula e Bolsonaro reviveram escândalos mais antigos, como mensalão e a Lava Jato, e alguns mais atuais, como o "orçamento secreto" e atuação do governo durante a pandemia de Covid-19. Houve ainda espaço para citações às acusações de "rachadinhas" e aos pedidos de sigilo de decretos assinados pela atual gestão do presidente da República.
Lula chamou Bolsonaro de "cara de pau" pelo fato de o presidente ter perguntado à candidata Simone Tebet (MDB) sobre um suposto envolvimento do petista no assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel, ocorrido em 2002. Antes, Bolsonaro havia chamado Lula de "mentiroso", "presidiário" e "traidor da pátria".
A atuação do candidato Padre Kelmon (PTB) foi também um fator que ajudou na ampliação da temperatura do debate. O petebista direcionou a maior parte de suas falas a atacar Lula, o que permitiu a concessão ao petista de direito de resposta. Kelmon e Bolsonaro também interagiram diretamente por algumas ocasiões durante o debate, o que permitiu ao presidente defender suas realizações – e atacar Lula.
Em um confronto direto, a temperatura entre Lula e Kelmon subiu tanto que ambos tiveram seus microfones desligados, mas prosseguiram discutindo. O ex-presidente chamou o petebista de "candidato laranja". Kelmon foi inicialmente lançado na disputa atual como vice-presidente na chapa de Roberto Jefferson, mas acabou alçado à candidatura maior após o impedimento legal do ex-parlamentar.
Lula se defende sobre corrupção e promete retomada de ações de sua gestão
O ex-presidente Lula passou grande parte do debate respondendo sobre acusações de corrupção que foram apresentadas por praticamente todos os candidatos que o confrontaram.
O petista repetiu argumentos citados em outras ocasiões, como a que seu governo foi destaque na criação de atos de transparência pública, com medidas como a criação da Lei de Acesso à Informação e a transformação da Controladoria-Geral da União (CGU) em ministério.
Disse também que as condenações sobre ele resultantes da Operação Lava Jato foram todas anuladas pelo Judiciário e que ele é, hoje, um homem livre. Lula voltou a dizer que foi absolvido em 26 processos dentro do Brasil e pela Suprema Corte – o que é uma meia verdade, conforme a Gazeta do Povo já demonstrou.
O ex-presidente elencou realizações das gestões do PT, como os programas educacionais ProUni, Fies e Ciências sem Fronteiras, para dizer que a população teria "saudade" de seu governo e, por isso, estaria disposta a concedê-lo um novo mandato. Lula presidiu o Brasil entre 2003 e 2010 e depois emplacou sua sucessora, Dilma Rousseff, que foi presidente de 2010 a 2016.
Em resposta a uma pergunta de Simone Tebet, Lula disse que planeja adequar o Brasil aos parâmetros ambientais de combate ao aquecimento global e que vetará ações de desmatamento e garimpo ilegal. O ex-presidente alegou que o país tem, hoje, terras suficientes para que o agronegócio se desenvolva sem precisar desmatar mais as florestas.
Bolsonaro diz que seu governo não tem corrupção e repete defesa de costumes
Jair Bolsonaro afirmou, durante mais de uma ocasião na realização do debate, que seu primeiro mandato está chegando ao fim e não se notabilizou por nenhum escândalo de corrupção. Ele declarou que a aproximação do governo com o Centrão do Congresso é inevitável em nome da governabilidade, mas negou que tenha dado um ministério de "porteira fechada" ao bloco de parlamentares, como o que teria ocorrido em anos anteriores.
Bolsonaro disse ainda não ter conexão com o chamado "orçamento secreto", mecanismo de distribuição de verbas do orçamento federal a obras indicadas por deputados e senadores. Ele declarou que a criação e a gestão do mecanismo é de responsabilidade do Congresso – e ironizou as candidatas e senadoras Tebet e Soraya Thronicke (União Brasil), dizendo que elas teriam competência para combater o "orçamento secreto" no Legislativo.
O presidente também valorizou o que ele chamou de "moralização" no setor cultural, com a revisão de parâmetros da Lei Rouanet – que, segundo ele, estava privilegiando artistas que não precisavam de leis de incentivo de grande escala. Ele agradeceu o trabalho do ex-secretário de Cultura Mário Frias, que atualmente é candidato a deputado federal por São Paulo.
Ao longo do debate e em suas considerações finais, Bolsonaro apostou no discurso relacionado à agenda de costumes. Falou que seu governo respeita a família, combate o aborto e a legalização das drogas e "respeita a todos". Ele encerrou a participação no debate com o slogan "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", que o acompanha desde a campanha de 2018.
Metodologia da pesquisa citada
O Datafolha entrevistou 6,8 mil eleitores entre os dias 27 e 29 de setembro em 332 municípios do país. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e pela TV Globo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-09479/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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