De olho no cenário eleitoral, líderes do Centrão, que integram o núcleo de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), ampliaram a pressão sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes. Na avaliação dessa ala, o Palácio do Planalto precisa dar respostas no curto prazo na área econômica no intuito de evitar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fature a disputa eleitoral ainda no primeiro turno.
Nesta semana, por exemplo, Bolsonaro admitiu que existe pressão dentro do governo sobre o ministro da Economia. De acordo com assessores palacianos, os líderes de partidos dos Centrão são os principais opositores ao nome de Paulo Guedes na Esplanada dos Ministérios.
"De vez em quando, alguns querem que eu troque ele [Guedes], entre outros, para resolver certos assuntos. Prefiro conversar com eles e, dentro daquela lealdade mútua que nós temos, mudarmos alguma coisa e prosseguir nessa luta", disse Bolsonaro em entrevista à TV Terra Viva.
Como forma de atender aos anseios do grupo político, Guedes anunciou o envio de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para compensar os estados que zerarem o ICMS sobre diesel e gás de cozinha. O anuncio foi feito ao lado do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), principal aliado do governo no Congresso.
Se aprovada, a PEC terá data de validade – ideia é manter essas regras em vigor até 31 de dezembro – e limitar o ressarcimento aos estados em um valor a ser fixado, entre R$ 25 bilhões e R$ 50 bilhões, segundo a elástica estimativa feita pelo ministro da Economia.
Até então, Guedes vinha resistindo em acatar alguma proposta que envolvesse subsídio para os combustíveis ou alimentos, por exemplo. No entanto, o chefe da pasta econômica recuou depois da pressão dos articuladores políticos e de Bolsonaro.
Antes de apresentar a PEC, Bolsonaro chegou a afirmar publicamente que esperava uma solução de Guedes para a alta dos combustíveis. "O Paulo Guedes espero que nos próximos dias resolva a questão dos combustíveis no tocante a impostos pelo Brasil", disse o presidente.
Bancadas temáticas querem mais concessões de Paulo Guedes
Além da pressão dentro do Palácio do Planalto, Paulo Guedes também vem sendo alvo de questionamentos de integrantes do Congresso que integram a base governista. Entre os principais descontentes estão nomes das bancadas ruralista e da segurança pública.
Reservadamente, lideranças avaliam que o ministro da Economia é resistente em dialogar com o Congresso e tenta conduzir as questões econômicas a despeito do cenário eleitoral.
Nesta semana, por exemplo, a chamada bancada da bala conseguiu aprovar uma convocação na Comissão de Segurança Pública para que Guedes explique a situação das propostas de reajuste e reestruturação de carreira a agentes de segurança federais.
Entre os ruralistas, a principal demanda é por mais recursos para o Plano Safra. Para conter o grupo, a Junta de Execução Orçamentária (JEO) do Planalto passou a discutir a possibilidade de realocação dos recursos no Orçamento para tentar atender o setor agrícola.
A avaliação interna é de que Guedes está "sacrificando" o governo por uma pauta liberal. Em meio ao desgaste, líderes do Centrão defendem o nome do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para ocupar o posto de Guedes. A empolgação vem depois que Campos Neto defendeu que a adoção de subsídios para itens como alimentos e energia poder ser uma "boa solução" para amenizar o "custo social" da inflação sobre a população pobre.
"Temos um grande custo social. Preços de alimentos estão subindo, preço de energia está subindo, e temos a parcela mais pobre da população com necessidade de alguma assistência. Transferir uma parte do choque positivo [alta de arrecadação] para resolver as questões sociais, via subsídios. Essa é uma solução boa, mas o problema é: uma vez que você cria os subsídios, há o risco de se tornar um gasto permanente", disse o presidente do BC.
Apesar da ofensiva de líderes do Congresso, Bolsonaro sinalizou nesta semana que Guedes deve seguir na pasta em caso de reeleição, mas ponderou que o ministro estaria "cansado". "Com toda a certeza, sim [Guedes fica no governo em um eventual segundo mandato]. Depende dele. Eu vejo ele de vez em quando cansado, o que é natural."
Internamente, Arthur Lira tenta reduzir a pressão dos congressistas contra Paulo Guedes. Aos parlamentares, o presidente da Câmara tem afirmado que não faz sentido trocar o ministro da Economia a poucos meses das eleições.
Inflação e preço dos combustíveis acendem alerta na campanha de Bolsonaro
A pressão contra Guedes e sua equipe vem em meio à estagnação de Bolsonaro nas pesquisas. Na avaliação de líderes do Centrão, a inflação sobre os alimentos e o preço dos combustíveis travaram o crescimento que Bolsonaro vinha registrando nos levantamentos desde o fim do ano passado.
De acordo com levantamento Datafolha de maio, 53% dos brasileiros dizem que a economia terá muita influência em sua escolha eleitoral. Outros 24% dizem que a economia terá "um pouco de influência", enquanto para 21% o tema não será determinante. Além disso, 52% avaliam que situação econômica brasileira piorou nos últimos meses.
Aliados do governo acreditam que as questões econômicas podem influenciar, inclusive, na eleição de deputados e senadores da base. "Enquanto o eleitorado vê que o cenário econômico se degradou, Lula abriu 21 pontos de vantagem sobre Bolsonaro", diz um líder do Centrão sobre o último levantamento Datafolha, que trouxe o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 48% das intenções de voto, ante 27% de Bolsonaro.
Para ampliar a viabilidade do presidente, os aliados do governo acreditam que a PEC dos combustíveis terá efeito imediato nas bombas e nas pesquisas de intenção de votos. Além disso, a proposta empareda os governadores e será usada para reforçar o discurso de Bolsonaro de que os estados têm culpa pela alta dos preços.
"[A PEC] vem em um momento de eleição? Vem. Mas não podemos deixar o Brasil virar uma panela de pressão. Essa PEC é para a proteção dos mais vulneráveis", defendeu Arthur Lira.
Contra vontade de Paulo Guedes, decreto de calamidade é estudado pelo governo
A PEC dos combustíveis apresentada nesta semana foi uma forma de Guedes tentar frear uma ala do governo que defende um decreto de estado de calamidade. O tema foi discutido em reunião na semana passada entre Bolsonaro, o ministro da Economia e outros integrantes do governo.
No encontro, Guedes afirmou que o decreto "seria um cheque em branco", pois daria poder ao governo para criar benefícios sociais em ano eleitoral, o que é vedado pela legislação. O Brasil esteve sob estado de calamidade entre março e dezembro de 2020 em razão da pandemia da Covid-19. Agora, a ala política avalia qual seria o argumento para um eventual novo decreto.
Nesta terça-feira (7), Bolsonaro disse que "não está enterrada" a possibilidade de decretar estado de calamidade. "É um botão que você pode apertar quando bem entender", disse em entrevista ao SBT.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 25 e 26 de maio em 181 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-05166/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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