A prisão de Roberto Jefferson (PTB) no último domingo (23) teve o efeito de uma bomba nas campanhas eleitorais do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ex-deputado petebista foi detido após xingar e ofender a ministra Cármen Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e resistir à prisão atirando contra policiais federais que foram cumprir a ordem judicial. Enquanto aliados de Bolsonaro tentam desassociar a imagem do candidato à reeleição à de Jefferson, o entorno do PT busca explorar o episódio como mais um caso de violência política.
Integrantes do núcleo de campanha de Bolsonaro avaliam que a prisão de Jefferson, que é um aliado do presidente no campo da direita, pode afastar o candidato do eleitor de centro e indeciso nessa reta final do segundo turno. Nas últimas semanas, Bolsonaro vinha adotando um tom moderado em seu discurso e pedindo desculpas por palavrões e expressões usadas ao longo dos últimos anos.
O candidato à reeleição aproveitou a prisão de Jefferson para estabelecer uma certa distância do petebista. "Nós não somos amigos, nós não temos relacionamento, e tratamento para pessoas que são corruptas ou agem dessa maneira como Roberto Jefferson agiu, xingando uma mulher e também recebendo à bala policiais, o tratamento que será dispensado pelo governo Jair Bolsonaro será de bandido", afirmou.
Além de Bolsonaro, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, se apressou em desmentir que Jefferson atuasse como um dos coordenadores da campanha à reeleição. "Nunca foi coordenador, até porque ele era pré-candidato [à Presidência], teve a candidatura indeferida", disse Faria, em uma live ao lado de Bolsonaro.
De acordo com membros da campanha, a estratégia de manter Bolsonaro longe do ex-deputado do PTB veio por parte de integrantes do Centrão. Mais cedo, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), integrante da base ideológica, chegou a afirmar que o presidente mandaria até mesmo as Forças Armadas para proteger “o nosso Roberto Jefferson”. A medida, no entanto, foi rechaçada por integrantes da campanha.
Ministro age para mitigar desgaste de Bolsonaro junto aos policiais
Além de um possível revés junto aos eleitores de centro, a campanha de Bolsonaro teme ainda um desgaste junto aos policiais, categoria próxima do presidente. Para mitigar possíveis danos, aliados do Planalto defendem que o presidente precisa fazer acenos para a categoria nessa reta final.
“Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policiais é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio”, afirmou Bolsonaro em um vídeo publicado logo após a prisão de Jefferson.
Torres é integrante da Polícia Federal e tem interlocução com grande parte da categoria. Após a prisão, o ministro prestou solidariedade aos agentes feridos pelo ex-deputado, chamou Jefferson de infrator e parabenizou a corporação pelo excelente trabalho.
Bolsonaro repetiu, durante entrevista à TV Record, que pediu ao ministro para que o político fosse tratado como bandido. "Ato contínuo determinei que ele fosse para o Rio de Janeiro conversar com os dois policiais e ver a situação de saúde dos policiais que sofreram ferimentos por parte de Roberto Jefferson".
A campanha de Bolsonaro passou a vincular Jefferson e Lula, a quem o presidente acusou de querer "tirar proveito" do episódio. Na sabatina da Record, Bolsonaro citou as antigas as relações do ex-deputado com o PT e relembrou o escândalo do mensalão, que estourou em 2005, e teve Jefferson como delator. O ex-presidente do PTB chegou a ser condenado à prisão pelo Supremo Tribunal Federal e cumpriu pena em presídio.
"Nós não passamos pano para ninguém, diferentemente do Lula, que, quando Roberto Jefferson delatou o mensalão, delatou inclusive José Dirceu, o Lula simplesmente passou pano para tudo isso", disse Bolsonaro.
Lula expõe agendas e fotos de Jefferson ao lado de Bolsonaro
A campanha de Lula vai denunciar a ligação do presidente com Roberto Jefferson na reta final do segundo turno. Desde a tarde do último domingo (23), aliados do PT tem explorado imagens do petebista ao lado de Bolsonaro nas redes sociais.
Antes da prisão de Jefferson, o presidente chegou a dizer em uma live que não tinha fotos ao lado do petebista. Contudo, o perfil do ex-deputado conta com ao menos duas fotos dele com Bolsonaro. As imagens foram feitas em agendas no Palácio do Planalto nos últimos anos.
Responsável pela comunicação da campanha do PT na internet, o deputado André Janones (Avante-MG) tem repercutido a relação de Bolsonaro com o ex-deputado em diversas redes sociais. "Primeiro tentaram defender Roberto Jefferson após ele tentar matar os policiais. Porém, dominamos a narrativa e fizemos eles recuarem. Estamos no controle da pauta a sete dias da eleição", disse Janones.
Além das redes sociais, a campanha de Lula vai explorar o tema na propaganda eleitoral do rádio e da TV. Nesta segunda-feira (24), por exemplo, o PT trouxe a prisão de Roberto Jefferson como mais um caso de violência política.
“A violência bolsonarista chegou a níveis alarmantes, eles invadem igrejas, agridem padres, criam caos em lugares sagrados. Roberto Jefferson, um dos principais aliados de Bolsonaro condenado por corrupção, atirou na Polícia Federal”, diz a propaganda. Na TV a peça termina com uma imagem de Jefferson ao lado do atual presidente.
Bolsonaro está com vergonha de Jefferson, diz Lula
Dentro da campanha do PT a avaliação é de que a prisão de Roberto Jefferson desgasta Bolsonaro junto ao eleitorado de centro e divide a sua própria base. Para se contrapor ao atual presidente, Lula cita o caso para defender que apenas com a sua eleição será possível o "Brasil voltar à normalidade".
Em entrevista ao Podcast DL Show, o ex-presidente acusou Bolsonaro de usar o ministro da Justiça para defender Jefferson. "Bolsonaro é muito agressivo. Ele teve a petulância de mandar o ministro da Justiça lá para proteger um cidadão que tinha se recusado a se entregar para a PF, que cumpria o mandado de um juiz. Ou seja, é um absurdo", disse.
Na mesma entrevista, o candidato do PT ironizou o fato de Bolsonaro tentar se distanciar do ex-deputado. "[Bolsonaro] agora está com vergonha [do ex-aliado]. Agora [ele] vai dizer: 'eu nem conheço, aquela fotografia é que ele passou perto de mim e tiraram'. Não, ele só não é cabo eleitoral do presidente, como é sócio e defensor do presidente, de todas as malandragens", completou Lula.
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