Aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocaram na conta das centrais sindicais o fato de as manifestações convocadas para o Dia do Trabalho terem tido um público abaixo do esperado. O ato realizado no domingo (1º), em São Paulo, contou com a presença do ex-presidente e a expectativa do PT era de que o evento marcasse o início da pré-campanha petista.
Reservadamente, lideranças petistas admitem que o número de manifestantes ficou abaixo do que estava sendo esperado pelos organizadores. No entanto, avaliam que o público é resultado da perda do poder de mobilização dos trabalhadores por parte das centrais sindicais.
"As centrais, que organizaram as manifestações do Dia do Trabalho, foram perdendo o poder de mobilização nos últimos anos. A gente vem percebendo isso desde as mobilizações que foram convocadas nos últimos anos pelo impeachment do Bolsonaro", avalia um integrante da bancada petista.
Na mesma linha, outro integrante de cúpula petista ameniza a falta de público afirmando que a mobilização dos trabalhadores ficou reduzida nos últimos anos devido à interrupção dos atos de forma presencial por conta da pandemia de Covid-19. "Depois de dois anos sem atos presenciais por conta da pandemia, a gente já sentia que a mobilização dos trabalhadores não seria a mesma. A reforma trabalhista acabou com o trabalho dos sindicatos, e isso reflete no resultado da busca por direitos trabalhistas por parte das centrais sindicais", defende o petista.
Em 2017, ano em que a reforma trabalhista foi aprovada pelo Congresso Nacional e que acabou com o imposto sindical e reduziu o poder dos sindicatos, as centrais sindicais chegaram a sortear pelo menos 19 automóveis durante as manifestações do dia 1º de maio. Os custos do evento chegavam a cerca de R$ 1,5 milhão e os sorteios eram uma forma de atrair sindicalistas e militantes para esses atos.
Já no ano seguinte, com a reforma trabalhista em vigor, a manifestação custou cerca de R$ 700 mil e não houve sorteios para os presentes.
Lula dribla legislação eleitoral durante atos do Dia do Trabalho
Oficialmente, Lula vai ter a pré-candidatura lançada no próximo sábado, dia 7, em um evento fechado em São Paulo. Apesar disso, aliados do petista vinham defendendo que os atos do Dia do Trabalho seriam o começo da pré-campanha de Lula.
A expectativa era de que o ex-presidente discursasse no evento por volta das 13 horas, mas com a falta de público Lula só falou no final da tarde depois da apresentação da cantora Daniela Mercury. Mesmo com o tom de campanha do evento, o petista afirmou que estava preocupado com eventual punição da Justiça Eleitoral por propaganda antecipada.
"Eu fiquei um pouco atrás [dos dirigentes] porque eu não posso falar de eleição. Eu ainda não sou candidato, só dia 7 eu vou ser pré-candidato. Mas se preparem porque alguém melhor do que esse presidente [Bolsonaro] vai ganhar as eleições", discursou Lula.
De acordo com a legislação eleitoral, pré-candidatos não podem fazer pedido explícito de voto antes do início da campanha, o que ocorrerá somente em 16 de agosto. Apesar disso, Lula aproveitou o discurso para apresentar algumas de suas propostas de governo, entre elas mudanças na reforma trabalhista.
"Vamos ter que sentar numa mesa e regulamentar a vida das pessoas que trabalham com aplicativo, dizer que não podem ser tratados como se fossem escravos, que precisam ter direito a um programa social, assistência médica, seguro para quando bater o carro, a moto ou a bicicleta e descanso semanal remunerado porque a escravidão acabou", disse Lula.
PT quer manter mobilização das centrais sindicais na campanha de Lula
Apesar da falta de público nas manifestações do dia do trabalhador, a cúpula do PT espera contar como a mobilização das centrais sindicais durante a campanha de Lula. Os movimentos já sinalizaram que pretendem criar ao menos 5 mil comitês de campanha para o ex-presidente em diversas cidades do país.
Um encontro com o ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo de Lula, deve ocorrer nas próximas semanas, no intuito de amarrar a estratégia pelo país. De acordo com integrantes do PT, a medida é uma forma de "retomar o trabalho de base da militância petista".
"Temos a tarefa de eleger novamente o presidente Lula, com todo respeito aos demais candidatos, mas a única candidatura que tem condições de derrotar Bolsonaro é o Lula. E ele não vai estar sozinho nessa tarefa, nós estaremos ao seu lado para reconstruir o Brasil", afirmou o presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre.
Ciro Gomes diz que atos do Dia do Trabalho fracassaram
Tentando viabilizar sua candidatura pelo PDT, o ex-ministro Ciro Gomes afirmou que os atos do Dia do Trabalho fracassaram de forma constrangedora em todo o país. Além das manifestações pró-Lula das centrais sindicais, o feriado de 1º de maio contou com atos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com o pedetista, Bolsonaro não tem a mínima condição de deixar que o debate flua na direção do que realmente interessa para a população, como inflação, renda e desemprego. Do outro lado, avaliou, durante a manifestação, Lula foi “vomitar obviedades que alienam o povo”, além de ofertar uma "memória afetiva mentirosa".
"O nosso povo de fato não se engajou ainda, o nosso povo não foi [para os atos] porque não está sentindo nenhum entusiasmo com essa falsíssima estelionatária polarização em que os dois disputam quem vai administrar a tragédia de um modelo econômico que só privilegia rico e que manda para os pobres as migalhas. (…) Uma lição da rua: a eleição está em aberto", disse o pedetista.
Tradicionalmente, o PDT participava das manifestações convocadas pelas centrais sindicais em São Paulo. Neste ano, no entanto, a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), ligada ao partido de Ciro Gomes, rompeu com as demais entidades de trabalhadores depois da sinalização de apoio ao ex-presidente Lula.
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