A Stara, uma das maiores empresas de máquinas e implementos agrícolas do país, afirmou que, caso a vitória do ex-presidente Lula (PT) se confirme no dia 30 de outubro, a companhia deverá reduzir sua base orçamentária para o próximo ano em pelo menos 30%.| Foto: Dionnattan Goncalves/Stara/Divulgação
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A Stara, uma das maiores empresas de máquinas e implementos agrícolas do país, divulgou no dia 3 de outubro, um dia após o resultado do primeiro turno das eleições, um comunicado restrito aos fornecedores afirmando que, caso a vitória do ex-presidente Lula (PT) se confirme no dia 30 de outubro, a companhia deverá reduzir sua base orçamentária para o próximo ano em pelo menos 30%.

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A nota, assinada por Fabio Augusto Bocasanta, diretor administrativo financeiro da empresa, diz ainda que o resultado deverá afetar o poder de compra da companhia, além da sua produção, desencadeando uma queda significativa nos números da empresa.

A companhia tem com um dos sócios o empresário Gilson Lari Trennepohl, que está entre os dez principais doadores da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), com repasses de R$ 350 mil. O empresário é filiado ao União Brasil e vice-prefeito da cidade de Não-Me-Toque, no Rio Grande do Sul, onde está sediada a Stara. Trennepohl é alvo de um processo aberto recentemente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por "abuso de poder econômico" nos desfiles de 7 de setembro.

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Stara diz que comunicado foi restrito e nega coação

Na terça-feira (4), após a repercussão do comunicado, o atual diretor-presidente da Stara, Átila Stapelbroek Trennepohl, publicou um vídeo nas redes sociais da empresa confirmando a veracidade de documento, porém, minimizou o seu conteúdo, afirmando que a nota se trata apenas de um comunicado restrito aos fornecedores e negou qualquer tipo de coação.

“Primeiramente, eu gostaria de esclarecer que esse comunicado foi dedicado exclusivamente aos nossos fornecedores. A Stara é uma empresa que tem prática comum, todo segundo semestre, todos os anos, fazemos projeções para o próximo, ou seja, para 2023 nesse caso. E nós compartilhamos essas informações com os nossos fornecedores para que eles possam se preparar e organizar suas empresas da melhor forma possível. E nós planejamento um crescimento acima de 30% neste período de agosto que passou”, disse.

“E nós, devido a toda essa instabilidade econômica que estamos vivendo, estamos refazendo nossa projeção para 2023, o que é absolutamente natural dentro das empresas. Esse comunicado visa deixar claro essa informação para os nossos fornecedores. Com relação aos nossos queridos colaboradores, que fazem parte do nosso time, por favor, fiquem muito tranquilos. A Stara tem muito trabalho, tem muita coisa para fazermos, e vamos seguir firmes e fortes como sempre fizemos. Aos nossos clientes e às nossas concessionárias, continuem acreditando como fizeram nesses últimos 62 anos de história que Stara tem, de uma empresa muito séria e muito idônea”, afirmou o executivo, refutando qualquer possiblidade de demissões na companhia.

“Por favor, não acreditem em fake news, que falam que a Stara vai demitir 500, 1 mil, ou 1,5 mil, isso não é verdade, não é isso que a Stara passou para o mercado, e muito menos queremos coagir pessoas para votar no “A” ou votar no “B”. Somos uma empresa séria que tem responsabilidade com a nossa cadeia produtiva, com os nossos clientes e com os nossos colaboradores. Vamos seguir em frente, juntos, acreditando nessa nação e no agronegócio”, disse o presidente da empresa.

Empresário diz que produtores rurais estão inseguros

Em entrevista publicada pela Veja, Átila Trennepohl lembrou as propostas defendidas por Lula (PT) e afirmou que os produtores rurais estão inseguros com um eventual novo governo petista. Segundo ele, clientes estão condicionando a compra de máquinas agrícolas a uma vitória do presidente Jair Bolsonaro (PL).

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“Nós temos um candidato que já falou inúmeras vezes em canais de comunicação que quer buscar a taxação do agronegócio, que os agricultores são fascistas e direitistas e que vai apoiar muito forte o MST, ou seja, invasões de terra, e que quer revogar as leis trabalhistas. Todos esses aspectos fazem com que os agricultores e produtores rurais, que são 100% dos nossos clientes, tenham uma insegurança extremamente grande. Eles estão com receio e isso já está acontecendo. Com várias pesquisas eleitorais se fortalecendo, pessoas foram desistindo de negócios, clientes cancelando a compra e querendo fazer negócios com resultado baseado na eleição, ou seja, condicionando a compra da máquina se o candidato Bolsonaro ganhar”, disse o executivo.

MPT notifica empresa e investiga o caso

O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul e o Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região emitiram uma nota conjunta na terça-feira (4) afirmando que o comunicado da Stara pode ser enquadrado como prática de assédio eleitoral e abuso do poder econômico, passíveis de medidas judiciais.

A Procuradoria do Trabalho de Passo Fundo instaurou na terça-feira (4) um inquérito civil para investigar o caso. Além disso, o MPT solicitou esclarecimento à empresa, encaminhou uma notificação recomendatória sobre coação eleitoral e também entrou em contato com o sindicato da categoria para indagar se eles têm conhecimento de mais informações.

“O exercício do poder do empregador é limitado, entre outros elementos, pelos direitos fundamentais da pessoa humana, o que torna ilícita qualquer prática que tenda a excluir ou restringir a liberdade de voto dos trabalhadores”, diz a nota.

“Portanto, ameaças a trabalhadores para tentar coagir a escolha em favor de um ou mais candidatos ou candidatas podem ser configuradas como prática de assédio eleitoral e abuso do poder econômico do empregador, passíveis de medidas extrajudiciais e/ou judiciais na esfera trabalhista. Mais do que violações das normas que regem o trabalho, a concessão ou a promessa de benefício ou vantagem em troca do voto, bem como o uso de violência ou de coação para influenciar o voto são crimes eleitorais, previstos nos artigos 299 e 301 do Código Eleitoral”, diz o comunicado dos órgãos.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]