Passada a euforia da filiação ao Podemos, a pré-candidatura presidencial do ex-juiz Sergio Moro ainda não mobilizou o meio político a ponto de romper a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Membros do Congresso ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que, da forma como o tabuleiro político está posto, é pouco provável que Moro ou qualquer outro nome da terceira via consiga atrair o apoio de forças políticas que já estão comprometidas, ou mesmo sinalizadas, com Lula ou Bolsonaro.
"Hoje não há espaço para uma terceira candidatura", disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), presidente da "bancada da bala" na Câmara e apoiador de Bolsonaro. O parlamentar vê Moro na "prateleira de cima" da política, ao lado de Lula e Bolsonaro, mas sem condição de abalar o favoritismo de ambos, evidenciado pela primeira pesquisa de intenção de voto do ano, realizada pelo Instituto Quaest. "Ele [Moro] deve bater entre 15% e 17% [nas eleições]. Mas a esquerda já se fechou em torno de Lula, e a direita se fechou em torno de Bolsonaro. É uma disputa muito segmentada", afirmou.
Moro ganhou notoriedade ao conduzir os julgamentos da Lava Jato na 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, em que condenou, entre outras figuras de peso, o próprio Lula. Deixou a magistratura ao fim de 2018 para atuar na equipe de transição de Bolsonaro e, depois, como ministro da Justiça e Segurança Pública.
Em abril de 2020, rompeu com o presidente, após acusá-lo de interferir na Polícia Federal com o intuito de proteger os filhos, que eram alvo de investigações de corrupção. Moro filiou-se ao Podemos em novembro e, embora não crave ser candidato, é tratado pelo partido como seu nome para a Presidência da República. Por conta de sua trajetória, ele se tornou alvo das críticas de petistas e bolsonaristas.
O líder do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (RS), opina que o ex-juiz terá dificuldade em expor à sociedade que é diferente de Bolsonaro. "Ele avalizou a política de Bolsonaro. Foi conivente em questões como a destruição da Amazônia e o enfraquecimento das instituições", apontou.
União Brasil ó que demonstra mais entusiasmo com Moro
O Podemos tem, atualmente, nove senadores e 11 deputados federais. O partido buscou se identificar com a operação Lava Jato – tanto que filiou, além de Moro, o ex-procurador Deltan Dallagnol. No Congresso, a legenda oscila entre a adesão ao governismo e a contestação a algumas diretrizes do governo, mas não a ponto de aproximar seus integrantes da oposição formal, composta por legendas como PT, Psol e PCdoB.
A chegada de Moro ao Podemos e sua possível participação como candidato na próxima disputa presidencial motivaram poucas demonstrações públicas de elogio de membros de outros partidos. Na busca de viabilizar sua candidatura ao Planalto, Moro e a presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, negociam o apoio do União Brasil, nova legenda resultante da fusão entre PSL e DEM.
O ex-juiz e o futuro presidente do União Brasil, deputado Luciano Bivar (PE), se encontraram na semana passada em João Pessoa, na Paraíba, no aniversário do também deputado Julian Lemos (PSL-PB). Chegaram a posar juntos para fotos, mas não deram declarações públicas. Bivar é cotado para ocupar a chapa de Moro como candidato a vice-presidente.
Pacote anticrime foi fonte de embates no Congresso
Como ministro, Moro viveu seu principal momento de interlocução com o Congresso durante a tramitação do pacote anticrime. O conjunto de proposições legislativas avançou na Câmara e no Senado do início ao fim de 2019. O resultado foi a aprovação de um texto que, embora tenha recebido elogios públicos de Moro, passou por significativa desidratação na comparação com a proposta inicial.
As discussões em torno do pacote levaram Moro a ter um dos seus primeiros embates públicos na condição de ministro. Ele e o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), divergiram por conta da prioridade dada ao pacote. Moro cobrou de Maia foco no texto, enquanto o deputado dava preferência à tramitação da reforma da previdência.
A contestação irritou Maia, que chamou Moro de "funcionário do presidente Bolsonaro" e disse que o pacote anticrime proposto pelo ex-juiz era, na verdade, um "copia e cola" de uma iniciativa elaborada pelo antecessor de Moro na Justiça, Alexandre de Moraes, atual ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O pacote de Moro motivou críticas de esquerda e direita. Os parlamentares vinculados à esquerda contestaram ações como o excludente de ilicitude, que poderia dificultar a aplicação de punições a policiais que matassem em serviço. Já os de direita reclamaram de concessões feitas por Moro e de tópicos aprovados que não estavam no projeto original, como o juiz de garantias, que possibilita uma revisão do processo legal.
Para o deputado José Nelto (Podemos-GO), a tramitação do pacote anticrime indicou que Moro tinha disposição para dialogar com o Congresso. "Ele sempre foi acessível. Tive mais de 40 audiências com ele, e ele discutia todos os assuntos. O pacote anticrime só não passou como ele queria porque o governo não quis colaborar", afirmou.
O deputado acrescentou que o momento de seu partido e de Moro é o de diálogo com diferentes forças, o que inclui mesmo siglas que contêm nomes lançados para a Presidência, como PSDB, MDB e Cidadania. "É um processo de amadurecimento. Mas verificamos que a cada momento o projeto vai ganhando apoio", disse.
Metodologia da pesquisa citada
A pesquisa do Instituto Quaest, encomendada pelo Banco Genial, foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-00075/2022. O levantamento ouviu 2 mil eleitores entre os dias 6 e 9 de janeiro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos; e o nível de confiança é de 95%.
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