Ao ser questionado sobre os cuidados que os partidos políticos deveriam tomar na seleção de seus filiados para evitar que pessoas envolvidas com o crime organizado façam parte das legendas, o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que o crime organizado se infiltra em todas as fileiras, enfatizou o direto de defesa de políticos investigados por supostas ligações com grupos criminosos e reconheceu que tem gente que merece ser averiguada e “pode ser afastada”, como já aconteceu dentro do próprio PT, segundo ele. As declarações foram feitas nesta sexta-feira (19), durante sabatina promovida pelo Estadão em parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Haddad respondeu uma pergunta feita pelo jornalista Marcelo Godoy, do Estadão, sobre casos ocorridos dentro do próprio PT, que teve um deputado estadual afastado por suposta ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo e, mais recentemente, um vereador petista que também está sendo investigado por um suposto envolvimento com a organização.
“O que acontece com o partido do senhor ao lidar com esse tipo de situação? Que mecanismos o PT tem para impedir que o crime organizado se infiltre dentro de suas fileiras”, perguntou o jornalista.
“Olha, o crime organizado se infiltra em todas as fileiras”, respondeu Haddad, citando ainda casos ligados a políticos de outros partidos. “Você teve aqui o Paulo Preto, um dos maiores ladrões da história de São Paulo. Foi pego com R$ 100 milhões em conta no exterior”, disse o candidato, ao lembrar do ex-diretor da Dersa dos governos de Geraldo Alckmin (2005 e 2006) e José Serra (2007 a 2010), em São Paulo.
“Você tem os procedimentos, para depois de comprovado, pois todo mundo tem o direito de defesa que nem sempre é respeitado”, enfatizou Haddad. “Apesar de nós nos considerarmos uma democracia, nós temos o vício de não respeitar o direito de defesa da pessoa. Elas têm que ser julgadas e condenadas em última instância”, declarou o petista.
“Eu sempre respeito o direito de defesa. Tem gente que merece ser averiguada, sim, e pode ser afastada, como já aconteceu no PT e como já aconteceu em vários outros partidos. PSDB viveu isso. Agora no governo federal eu nem vou falar. A quantidade de gente...O ministro da Educação foi preso”, se referindo ao caso do ex-ministro Milton Ribeiro. “Em grandes associações, você sempre vai ter que vigiar”, concluiu o candidato.
Ex-contador de Lula também é investigado
Contador de confiança da família de Lula há mais de dez anos, João Muniz Leite é alvo de investigação do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) de São Paulo por suspeita de lavagem de dinheiro da organização criminosa PCC.
As investigações apontam que Muniz Leite e a esposa venceram 55 vezes em loterias federais e que o contador teria repassado um prêmio de R$ 40 milhões a um integrante do PCC, Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, para quem também prestava serviços contábeis.
A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que Cara Preta teria utilizado parte do dinheiro repassado por Muniz Leite para comprar a empresa UPBus, também responsável pelo transporte público em São Paulo.
Marcos Valério delata suposta relação entre PT e PCC
O empresário Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão por ser o operador financeiro do esquema do mensalão, delatou à Polícia Federal informações sobre uma suposta proximidade entre o PT e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). As informações foram divulgadas pela revista Veja em reportagem publicada em julho.
Valério disse à PF que soube de um esquema que consistia no repasse, ao PT, de dinheiro que o PCC lavava por meio de empresas de ônibus, bingos e de transporte clandestino. Ele afirmou ter tomado conhecimento do caso por meio de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT e que também foi envolvido no esquema do mensalão. Segundo Valério, Pereira afirmou a ele que o empresário Ronan Maria Pinto teria ameaçado tornar públicas as informações.
CPI do Narcotráfico
A expansão do narcotráfico e a suposta relação do PT com líderes do PCC poderão também ser alvo de duas CPIs (comissões parlamentares de inquérito) – uma no Senado e outra na Câmara – cujos trabalhos começariam ainda neste ano. Ambas carregam o título de “CPI do narcotráfico”. A do Senado, cujo escopo é menos político e mais voltado à questão da segurança pública, já está instaurada. Porém, como parte de um acordo recente com líderes de partidos costurado pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), suas atividades serão iniciadas somente após o período eleitoral. A outra, a da Câmara, ainda está em fase de recolhimento de assinaturas, mas o objetivo é instaurá-la antes das eleições.
Moraes ordena retirada de conteúdos que ligam PT ao PCC
No dia 17 de julho o agora presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, aceitou pedido de liminar do PT e determinou a retirada da internet de supostos conteúdos falsos contra a legenda e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Moraes apontou que os conteúdos se baseiam em três temas principais: ligação do PT com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), falas de Lula igualando pobres ao papel higiênico e a relação do PT com o nazismo e o fascismo.
"O sensacionalismo e a insensata disseminação de conteúdo inverídico com tamanha magnitude pode vir a comprometer a lisura do processo eleitoral, ferindo valores, princípios e garantias constitucionalmente asseguradas, notadamente a liberdade do voto e o exercício da cidadania", pontuou o ministro na decisão.
PT classifica conteúdo como fake news
No dia 18 de julho o Partido dos Trabalhadores (PT) publicou uma nota em seu site em que comentou a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Segundo a legenda, "os conteúdos a serem excluídos são notícias falsas que buscavam ligar o PT à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e também ao assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002". O PT classificou os conteúdos como "uma série de fake news contra o partido e o ex-presidente Lula".
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