Em grandes associações, você sempre vai ter que vigiar, afirmou Fernando Haddad.| Foto: RICARDO STUCKERT/PT
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Ao ser questionado sobre os cuidados que os partidos políticos deveriam tomar na seleção de seus filiados para evitar que pessoas envolvidas com o crime organizado façam parte das legendas, o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou que o crime organizado se infiltra em todas as fileiras, enfatizou o direto de defesa de políticos investigados por supostas ligações com grupos criminosos e reconheceu que tem gente que merece ser averiguada e “pode ser afastada”, como já aconteceu dentro do próprio PT, segundo ele. As declarações foram feitas nesta sexta-feira (19), durante sabatina promovida pelo Estadão em parceria com a Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

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Haddad respondeu uma pergunta feita pelo jornalista Marcelo Godoy, do Estadão, sobre casos ocorridos dentro do próprio PT, que teve um deputado estadual afastado por suposta ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo e, mais recentemente, um vereador petista que também está sendo investigado por um suposto envolvimento com a organização.

“O que acontece com o partido do senhor ao lidar com esse tipo de situação? Que mecanismos o PT tem para impedir que o crime organizado se infiltre dentro de suas fileiras”, perguntou o jornalista.

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“Olha, o crime organizado se infiltra em todas as fileiras”, respondeu Haddad, citando ainda casos ligados a políticos de outros partidos. “Você teve aqui o Paulo Preto, um dos maiores ladrões da história de São Paulo. Foi pego com R$ 100 milhões em conta no exterior”, disse o candidato, ao lembrar do ex-diretor da Dersa dos governos de Geraldo Alckmin (2005 e 2006) e José Serra (2007 a 2010), em São Paulo.

“Você tem os procedimentos, para depois de comprovado, pois todo mundo tem o direito de defesa que nem sempre é respeitado”, enfatizou Haddad. “Apesar de nós nos considerarmos uma democracia, nós temos o vício de não respeitar o direito de defesa da pessoa. Elas têm que ser julgadas e condenadas em última instância”, declarou o petista.

“Eu sempre respeito o direito de defesa. Tem gente que merece ser averiguada, sim, e pode ser afastada, como já aconteceu no PT e como já aconteceu em vários outros partidos. PSDB viveu isso. Agora no governo federal eu nem vou falar. A quantidade de gente...O ministro da Educação foi preso”, se referindo ao caso do ex-ministro Milton Ribeiro. “Em grandes associações, você sempre vai ter que vigiar”, concluiu o candidato.

Ex-contador de Lula também é investigado

Contador de confiança da família de Lula há mais de dez anos, João Muniz Leite é alvo de investigação do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) de São Paulo por suspeita de lavagem de dinheiro da organização criminosa PCC.

As investigações apontam que Muniz Leite e a esposa venceram 55 vezes em loterias federais e que o contador teria repassado um prêmio de R$ 40 milhões a um integrante do PCC, Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, para quem também prestava serviços contábeis.

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A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que Cara Preta teria utilizado parte do dinheiro repassado por Muniz Leite para comprar a empresa UPBus, também responsável pelo transporte público em São Paulo.

Marcos Valério delata suposta relação entre PT e PCC

O empresário Marcos Valério, condenado a 37 anos de prisão por ser o operador financeiro do esquema do mensalão, delatou à Polícia Federal informações sobre uma suposta proximidade entre o PT e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). As informações foram divulgadas pela revista Veja em reportagem publicada em julho.

Valério disse à PF que soube de um esquema que consistia no repasse, ao PT, de dinheiro que o PCC lavava por meio de empresas de ônibus, bingos e de transporte clandestino. Ele afirmou ter tomado conhecimento do caso por meio de Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT e que também foi envolvido no esquema do mensalão. Segundo Valério, Pereira afirmou a ele que o empresário Ronan Maria Pinto teria ameaçado tornar públicas as informações.

CPI do Narcotráfico

A expansão do narcotráfico e a suposta relação do PT com líderes do PCC poderão também ser alvo de duas CPIs (comissões parlamentares de inquérito) – uma no Senado e outra na Câmara – cujos trabalhos começariam ainda neste ano. Ambas carregam o título de “CPI do narcotráfico”. A do Senado, cujo escopo é menos político e mais voltado à questão da segurança pública, já está instaurada. Porém, como parte de um acordo recente com líderes de partidos costurado pelo presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), suas atividades serão iniciadas somente após o período eleitoral. A outra, a da Câmara, ainda está em fase de recolhimento de assinaturas, mas o objetivo é instaurá-la antes das eleições.

Moraes ordena retirada de conteúdos que ligam PT ao PCC

No dia 17 de julho o agora presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, aceitou pedido de liminar do PT e determinou a retirada da internet de supostos conteúdos falsos contra a legenda e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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Moraes apontou que os conteúdos se baseiam em três temas principais: ligação do PT com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), falas de Lula igualando pobres ao papel higiênico e a relação do PT com o nazismo e o fascismo.

"O sensacionalismo e a insensata disseminação de conteúdo inverídico com tamanha magnitude pode vir a comprometer a lisura do processo eleitoral, ferindo valores, princípios e garantias constitucionalmente asseguradas, notadamente a liberdade do voto e o exercício da cidadania", pontuou o ministro na decisão.

PT classifica conteúdo como fake news

No dia 18 de julho o Partido dos Trabalhadores (PT) publicou uma nota em seu site em que comentou a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Segundo a legenda, "os conteúdos a serem excluídos são notícias falsas que buscavam ligar o PT à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e também ao assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002". O PT classificou os conteúdos como "uma série de fake news contra o partido e o ex-presidente Lula".

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]