Além das dificuldades para atrair apoio de partidos fora do campo da esquerda, o PT tem enfrentado discordâncias na comunicação da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O partido demitiu recentemente o marqueteiro Augusto Fonseca, que estava na condução dos trabalhos havia menos de três meses.
Fonseca foi escolhido por Lula e pela presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, por indicação do ex-ministro Franklin Martins. O marqueteiro já tinha atuado ao lado de Duda Mendonça na campanha vitoriosa de Lula em 2002. Além disso, trabalhou nas campanhas presidenciais de Aécio Neves (PSDB), em 2014, e de Ciro Gomes (PDT) em 2018.
Até então, além de Fonseca e Franklin Martins, a estratégia de comunicação contava ainda com os trabalhos do secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto. O trio, no entanto, entrou em rota de colisão depois das polêmicas falas de Lula sobre temas como aborto e nas críticas contra a classe média e a elite brasileira.
A disputa entre os setores do partido vinha sendo alvo de críticas por parte de lideranças petistas que questionaram a falta de uma unidade na disseminação de ideias e pautas e o vaivém nas declarações do próprio ex-presidente. “Estamos discutindo a estrutura de comunicação tanto do partido como da campanha. Vamos tomar medidas que acharmos necessárias para ajustar, mas isso não é um problema relevante”, afirmou Gleisi.
Nesta segunda-feira (25), o PT anunciou a contratação da empresa Leiaute, do marqueteiro Sidônio Palmeira, para assumir o posto deixado por Fonseca. Palmeira cuidou da campanha vitoriosa à reeleição do petista Rui Costa a governador da Bahia em 2018 e, no segundo turno, atuou como consultor da campanha presidencial de Fernando Haddad. No entanto, integrantes do partido avaliam que a estratégia de comunicação também precisa ser revista.
Se a proposta inicial for mantida, o PT deve desembolsar cerca de R$ 44,5 milhões para o marqueteiro redesenhar a estratégia de comunicação da campanha de Lula. Do total, R$ 31,8 milhões seriam empregados para o primeiro turno e R$ 12,7 milhões para o segundo.
A desorganização do setor foi alvo de críticas até por parte do escritor Paulo Coelho, simpatizante da campanha de Lula. De acordo com ele, o ex-presidente “precisa entender – e rapidamente – que deve reformular toda sua maneira de se comunicar com o eleitor. Não basta trocar os marqueteiros, precisa trocar o conceito”. A publicação foi feita nas redes do escritor, que logo em seguida apagou a postagem.
Aliados criticam comunicação do PT e de Lula nas redes sociais
Além dos embates entre os responsáveis pela articulação, líderes do partido criticam a estratégia de comunicação adotada pelo partido e pelo ex-presidente nas redes sociais. Integrantes do PT admitem que o principal adversário de Lula, o presidente Jair Bolsonaro (PL), sabe se comunicar melhor com os eleitores na internet.
Na avaliação de petistas, havia um visível abismo nas redes sociais, onde as páginas do PT e seus parlamentares não reproduziam postagens de Lula por não serem previamente avisados sobre essas publicações. "Nossa comunicação estava voltada para o tempo analógico, enquanto o bolsonarismo nada de braçada na comunicação das redes sociais", avalia reservadamente um integrante da bancada petista.
Na semana passada, por exemplo, a pré-campanha de Lula anunciou a criação de um perfil no TikTok, no intuito de ampliar a comunicação com os jovens. Na rede, onde os vídeos curtos costumam chamar atenção, Bolsonaro já acumula mais de 1,3 milhão de seguidores.
Como parte da nova estratégia, Lula reforçou o discurso na tentativa de atrair o eleitorado mais jovem. “Se a juventude não se mobilizar com 18 anos, não tiver vontade, fica muito difícil mudar o país. Se você quer mudar a sua cidade, você tem que participar, tirar o título de eleitor e participar da democracia do país”, afirmou o petista.
Inserções de Lula na propaganda partidária do PT também são criticadas
Outro ponto de divergência entre a cúpula petista diz respeito às inserções feitas por Lula na propaganda partidária do PT. Na avalição dos petistas, as peças, produzidas pela empresa de Augusto Fonseca, não passavam "emoção" e mostrava o ex-presidente Lula de forma "fria".
Nas inserções, a frase escolhida para encerrar os vídeos de Lula é: "Se a gente quiser, a gente pode". Contudo, o entorno do ex-presidente avalia que o texto é uma versão menos enfática do mote "Sim, nós podemos", popularizado pelo ex-presidente americano Barack Obama em sua vitoriosa campanha à Casa Branca, em 2008.
Publicamente, o PT agradeceu pelos trabalhos feitos pela empresa de Fonseca. "O PT reconhece a qualidade dos serviços prestados pela MPB na criação e produção das inserções partidárias de rádio e TV e agradece a dedicação e o empenho de seus dirigentes e profissionais neste período", escreveu o partido em nota.
Crise de comunicação atrasa estratégia de Lula para atrair eleitores evangélicos
Como forma de atrair o eleitorado evangélico, o ex-presidente Lula havia recomendado que o PT criasse um podcast para tratar de pautas religiosas. A medida seria uma das estratégias do petista no intuito de diminuir a preferência desse segmento do eleitorado pelo presidente Bolsonaro.
A crise na comunicação do PT, no entanto, atrasou o projeto que seria lançado em março e teria apresentação do pastor Paulo Marcelo. O objetivo era adaptar a comunicação das campanhas aos valores religiosos.
Questionados pela reportagem, integrantes do PT não souberam afirmar se o projeto será deixado de lado ou retomado após a reorganização da comunicação do partido. De acordo com essas lideranças, o martelo será batido até 7 de maio, data em que o partido pretende oficializar a pré-candidatura de Lula.
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