A carta divulgada pelo ex-governador de São Paulo e pré-candidato à Presidência João Doria, neste final de semana, abriu uma nova crise dentro do PSDB e pode inviabilizar o acordo que vinha sendo costurado com MDB e Cidadania para a terceira via. No texto, o tucano acusa a cúpula do seu partido de tentativa de "golpe", diante das articulações para que pesquisas definam a candidatura única do grupo, que também conta com a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS).
"Apesar de termos vencido legitimamente as prévias [do PSDB], as tentativas de golpe continuaram acontecendo. As desculpas para isso são as mais estapafúrdias, como, por exemplo, a de que estaríamos mal colocados nas pesquisas de opinião pública e com altos índices de rejeição, cinco meses antes das eleições", escreveu o ex-governador paulista.
O movimento de Doria ocorreu dias depois de líderes de PSDB, MDB e Cidadania divulgarem a contratação de pesquisas para nortear a escolha de uma única candidatura do grupo. O levantamento está sendo realizado pelo Instituto Guimarães Pesquisa e Planejamento e deve levar em consideração tanto critérios de pesquisa quantitativa, quanto qualitativa. A expectativa é que os resultados e o nome do candidato escolhido sejam apresentados nesta quarta-feira (18).
Aliados e adversários de Doria, no entanto, sinalizam que os critérios definidos podem beneficiar o nome de Simone Tebet. A emedebista, inclusive, já vinha angariando apoio dentro do PSDB. No grupo, a avaliação era de que a senadora teria mais capacidade de agregar o apoio de outras lideranças, enquanto Doria é visto com mais resistências dentro de outros partidos.
Os critérios das pesquisas foram apresentados pelo MDB e acatados por PSDB e Cidadania. Doria tentou protagonizar as negociações, mas acabou isolado e viu alguns de seus aliados darem carta branca para que o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, ficasse à frente das negociações.
Executiva do PSDB se reúne para deliberar sobre carta de Doria
Diante da divulgação da carta, o presidente tucano Bruno Araújo convocou uma reunião da Executiva do partido para terça-feira (17). O entorno de Araújo avalia que o movimento de Doria pode implodir o partido assim como ocorreu quando este ameaçou se manter no cargo de governador de São Paulo no final de março.
Na ocasião, Doria sinalizou que poderia desistir da pré-candidatura ao Palácio do Planalto e se manter no governo paulista até o final do mandato. A manobra poderia inviabilizar a candidatura de Rodrigo Garcia, vice-governador que assumiu o mandato e que tentará a reeleição.
Agora, a avaliação dentro do PSDB é de que a manutenção da candidatura de Doria à Presidência pode atrapalhar o projeto de Garcia no Palácio dos Bandeirantes. O partido governa São Paulo há 28 anos e teme perder o estado se Garcia tiver que abrir palanque para Doria nas eleições deste ano. Desde então, lideranças que acompanham as negociações avaliam que Tebet ganhou força no PSDB em razão da resistência interna que o ex-governador enfrenta.
Publicamente, aliados de Doria afirmam que podem recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para garantir a candidatura ao Planalto levando em consideração sua vitória nas prévias. "A decisão final [sobre ser ou não candidato] será do João Doria, que foi eleito democraticamente nas prévias. Não vejo a menor possibilidade de ele renunciar", disse César Gontijo, tesoureiro do PSDB e aliado do ex-governador de São Paulo.
Adversário de Doria, Aécio afirma que cúpula do PSDB implodiu terceira via
Adversário de Doria dentro do PSDB, o deputado Aécio Neves (MG) acusou a cúpula do PSDB de implodir a construção de um acordo com a terceira via. Para o mineiro, o presidente do partido, Bruno Araújo, parece atuar como "advogado" do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia.
"O Doria sempre foi o bode que precisava ser retirado da sala para viabilizar a candidatura de Rodrigo Garcia [ao governo de São Paulo]", disse Neves ao jornal Folha de S. Paulo.
A cúpula do partido nega as acusações de "golpe" levantadas por Doria. Araújo já avisou que não aceita o argumento de Doria e que as prévias não consultaram os filiados sobre coligação com outros partidos, ou seja, não podem impedir que o PSDB se junte a outras forças partidárias.
Além disso, o presidente tucano também tem defendido que o diálogo com o MDB foi iniciado junto com o próprio Doria e que agora, "na prorrogação do segundo tempo, ele não quer aceitar as regras do jogo, questionando o resultado da pesquisa antes mesmo de ser divulgado".
MDB não descarta chapa pura com Simone Tebet
Alheia à crise no PSDB, a senadora Simone Tebet manteve sua série de agendas como pré-candidata do MDB. Dentro da cúpula emedebista, a avaliação é de que a pré-candidatura dela será mantida mesmo com o desembarque do PSDB.
A estratégia de manter uma chapa pura seria uma forma de pacificar o partido diante da disputa entre as alas que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nas últimas semanas, por exemplo, Tebet costurou alianças em diretórios do MDB que pretendem apoiar Lula nas eleições deste ano.
A medida visa evitar um embarque formal do MDB na coligação do presidente Bolsonaro neste ano. Isso porque, nos cálculos da cúpula emedebista, sem a candidatura de Tebet, o grupo pró-Lula no MDB conseguiria apenas 30% dos votos na convenção da sigla. Já o atual presidente seria apoiado por 70% dos diretórios. Os cálculos foram feitos com base no quadro de delegados e na leitura do cenário político em cada região.
No Nordeste, onde Lula concentra o seu apoio, o MDB conta com 107 votos, ou 25% do total da convenção. O Sudeste também tem 107 votos; o Sul, 94; o Norte, 75; e o Centro-Oeste, 44 votos. Com isso, Tebet trabalha para manter sua candidatura mesmo que tenha que dividir palanque com aliados de Bolsonaro e de Lula em alguns estados. "A grande maioria do MDB, hoje, está comprometida com a pré-candidatura da Simone Tebet", afirmou o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP).
Tebet disse nesta segunda-feira (16) que seguirá em campanha mesmo na hipótese de Doria judicializar o resultado das pesquisas encomendadas pela terceira via caso saia derrotado. “Nós aceitamos as regras do jogo e amanhã temos o resultado dela. Se porventura o meu nome for indicado, eu serei pré-candidata pelo meu partido, independente de outros partidos se somarem conosco ou não”, afirmou em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
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