Os presidentes do MDB, Baleia Rossi, do União Brasil, Luciano Bivar, e do PSDB, Bruno Araújo| Foto: Divulgação
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Se, diante do público, cada um dos pré-candidatos da chamada “terceira via” tem tentado se mostrar o mais preparado para furar a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa eleitoral deste ano, nos bastidores, seus respectivos partidos disputam por quais critérios será escolhido o nome único desse grupo, que passou a se chamar “centro democrático”.

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Ainda não há consenso entre União Brasil, MDB, PSDB e Cidadania sobre o que, afinal, irá pesar mais na definição do candidato a presidente, aglutinando o apoio de todos, e que será anunciado no dia 18 de maio, como prometido por seus dirigentes. E como internamente cada um dos partidos está dividido, suas alas também defendem fatores distintos.

Maior partido do grupo, o União Brasil é um exemplo disso. O partido deverá lançar nesta quinta-feira (14) o nome de seu presidente, Luciano Bivar, como pré-candidato. Mas a ala que ainda defende a candidatura do ex-juiz Sergio Moro insiste no discurso de que ele é quem tem mais intenção de votos, uma vez que, desde o lançamento de seu nome, em novembro, ainda pelo Podemos, alcançava a terceira posição.

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Ela se manteve neste patamar mesmo na pesquisa da Quaest realizada após o anúncio, do dia 31 de março, de que ele desistiu provisoriamente da disputa presidencial em favor de um acordo em torno de um nome único dos partidos. Nos dois cenários em que teve o nome testado, ele permaneceu em terceiro, com 6% (quando todos os demais candidatos da terceira via estão presentes) ou 7% (quando fica apenas o ex-governador de São Paulo João Doria, do PSDB) – a metodologia da pesquisa está descrita ao final desta reportagem.

“Para não micar a história do campo democrático, a única opção que tem é o Moro, se não vai micar. Ninguém vai tracionar, não tem tempo de tracionar [as intenções de votos dos demais]. O Moro pode ter todas as limitações, mas ainda tem a grife de ter enfrentado Bolsonaro e Lula, o que ninguém mais tem”, disse à reportagem um de seus apoiadores na União Brasil, pedindo para não ser identificado, uma vez que quem concentra as negociações é o presidente do partido, Luciano Bivar.

O próprio Moro ressaltou sua força nas pesquisas como fator relevante no último dia 9, durante uma sabatina na Brazil Conference, nos Estados Unidos. “É especialmente importante que o candidato do centro seja um candidato competitivo. O que nós tínhamos visto e estávamos vendo nas pesquisas é que meu nome estava lá em terceiro lugar, depois de Lula e de Bolsonaro. Então, acho que na formação desse centro democrático, eu tenho uma participação importante”, disse.

Por outro lado, mesmo dentro do União Brasil, a ala oriunda do DEM que rejeita Moro cola nele a pecha de candidato “antipolítica”, por seu histórico de combate à corrupção que, na avaliação de vários políticos, teria sido abusiva e se transformado em perseguição à classe.

A avaliação é que Moro também não tem habilidade e maturidade política – requisitos fundamentais para um presidente da República – o que teria ficado evidenciado na sua tortuosa mudança de partido. A insistência em dizer, dentro da União Brasil, que ainda está na disputa presidencial, sem dialogar internamente antes, para convencer e “pedir a bênção” dos caciques, só agrava o problema. Suas chances hoje são praticamente nulas.

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Sem Moro, sobraria como candidato da União Luciano Bivar. Nesta terça, o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), disse que a bancada na Câmara já aprovou seu nome por unanimidade e que, nesta quinta, a direção do partido vai referendar a escolha.

O problema para Bivar se tornar o candidato único da terceira via, ganhando apoio dos demais partidos, é que seu nome é pouco conhecido – nem aparece nas pesquisas. No MDB, por exemplo, os políticos que apoiam a senadora Simone Tebet (MS) entendem que o caminho mais viável seria lançar Bivar a vice-presidente, algo que ele mesmo sempre almejou, ao lado de Moro ou não. Como o União é o maior partido do “centro democrático”, seria praticamente impossível deixá-lo de fora da chapa presidencial.

Habilidade política pode pesar mais do que pesquisas

O requisito da habilidade política, por sua vez, é colocado como critério importante dentro do Cidadania, que também abriu mão da candidatura do senador Alessandro Vieira (SE) ao fechar uma federação com o PSDB.

O deputado Daniel Coelho (PE) diz que, por causa da aliança, o Cidadania não vai contestar a pré-candidatura de João Doria, definida nas prévias internas do PSDB no ano passado e reafirmada no dia 31 de março, quando ele deixou o governo paulista. Mas para Coelho, o fator predominante para a escolha do candidato único do centro democrático deve ser a capacidade de unir os partidos.

“O critério é quem mais agregar, quem conseguir juntar esses partidos. Não é pesquisa. Quem conseguir ter apoio dos demais partidos vai dar o sinal de habilidade política. É uma coisa concreta, porque deverá juntar diversos interesses, inclusive em vários estados”, diz o deputado.

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Nessa avaliação, a intenção de voto das pesquisas perde força porque, até o momento, nenhum dos pré-candidatos da terceira via ainda demonstrou crescimento a ponto de ameaçar tirar Bolsonaro do segundo turno contra Lula. Todos empatam tecnicamente com quem está atrás, dada a pequena diferença entre suas pontuações. “Se tivesse candidato com mais de 15%, 20%, tudo bem. Mas entre 2% e 6%, não representa nada. É tudo na margem de erro”, diz Coelho.

Ele acredita que, se os partidos conseguirem se unir, a própria estrutura conjunta de todos eles poderá dar tração ao candidato. Os palanques estaduais, os recursos de campanha e o tempo de TV poderão ser superiores ou equivalentes ao que terá Lula. Bolsonaro, por outro lado, apesar de contar com grandes partidos do Centrão – PP, PL e Republicanos, principalmente – poderá sofrer com defecções locais, uma vez que candidatos desses partidos costumam apoiar qualquer presidenciável que tenha mais chance em suas regiões.

Simone Tebet aposta no tamanho do MDB

A ala do MDB que apoia a senadora Simone Tebet (MS) aposta na “capilaridade” que o partido já tem em favor de seu nome. “É o partido mais capilar, que tem o maior número de prefeitos, de vereadores, de filiados”, destacou ela na Brazil Conference.

Ela também sublinhou a tradição agregadora do partido. “Aconteceu lá atrás, quando o MDB abraçou todos os que vieram de outros partidos que foram fechados”, afirmou, numa referência à ditadura militar, que permitiu apenas o funcionamento do MDB, de oposição, e da Arena, de apoio ao regime.

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Outros “ativos” que contariam a favor de Tebet seria o fato de ser a única mulher entre os pré-candidatos (além do simbolismo, isso traz mais dinheiro para a chapa, por causa da obrigação que o MDB teria de aplicar ao menos 30% do fundo eleitoral em sua campanha); ter a menor rejeição (só 15%, segundo a Quaest, não a conhecem e não votariam nela); e também sua atuação incisiva na CPI da Covid.

Contra ela pesa o fato de o MDB ainda estar dividido em três partes: uma ala histórica e minoritária, que defende Tebet; outra, forte no Nordeste, que apoia Lula; e uma terceira, concentrada no Sul e ligada ao agronegócio, que prefere a reeleição de Bolsonaro.

Mas mesmo isso pode favorecer Tebet, porque se o partido resolvesse apoiar oficialmente Lula ou Bolsonaro, o racha interno ficaria escancarado e poderia abrir uma guerra entre essas alas. O lançamento dela, nesse sentido, deixaria o partido fora da polarização e, caso Lula ou Bolsonaro vença, o MDB teria mais tranquilidade para se aliar a um ou outro no novo governo, a depender do perfil da nova bancada que formará no Congresso.

“O MDB é um partido democrático. Toma as decisões por maioria, e respeita as minorias. Há meses, mesmo com diferenças regionais, há uma ampla maioria formada a favor da candidatura própria”, postou no Twitter, nesta segunda (11), o presidente do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP), que trabalha em favor de Tebet.

Antipatia por Doria atrapalha o PSDB

O PSDB, por fim, é um caso à parte. Nos demais partidos do “centro democrático”, muitos políticos acreditam que Doria pode acabar lançando-se sozinho para a Presidência. Está claro para todos que a divisão no partido é mais intensa e deixou feridas – importantes lideranças, como o deputado Aécio Neves (MG), o senador Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal, suplente de José Serra (SP), nunca engoliram a ambição de Doria de ser presidente a qualquer custo e trabalharam a favor de Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul.

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A antipatia por Doria é grande internamente e externamente, principalmente depois que ele sinalizou que abriria mão da disputa e depois voltou atrás, reafirmando que será candidato. Contra Doria, também pesa o fato de ser o pré-candidato com maior rejeição – na última pesquisa da Quaest, ele ultrapassou Bolsonaro nesse quesito: 63% disseram que o conhecem e não votariam nele.

Como Leite perdeu as prévias, a esperança estaria em lançá-lo como candidato da aliança entre União, MDB e PSDB. Mas esse plano esbarra em dificuldades, a começar pela difícil operação de convencer os tucanos ligados a Doria a abandoná-lo.

O que ainda conta a favor do PSDB é sua antiga marca de ter polarizado com o PT no passado e, claro, a força que ainda tem em São Paulo, maior colégio eleitoral do país e estado tradicionalmente governado pelos tucanos.

Mas esses dois fatores também perderam força. Em 2018, Bolsonaro, assumindo-se conservador e de direita, conseguiu encarnar com muito mais robustez o posto de opositor do PT e das esquerdas. Já o herdeiro do governo Doria em São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que assumiu a gestão em seu lugar, é o quarto colocado na última pesquisa do Ipespe, com 5% (metodologia ao final da reportagem).

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Metodologia das pesquisas citadas

A pesquisa da Quaest para a disputa presidencial citada nesta reportagem foi contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores entre os dias 1º e 3 de abril de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo BR-00372/2022.

A pesquisa do Ipespe para a disputa pelo governo de São Paulo foi encomendada pela XP Investimentos. O levantamento foi realizado entre os dias 6 e 9 de abril. A empresa fez 1.000 entrevistas por telefone. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais, para mais ou para menos. Já o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o protocolo SP-06962/2022.