A eleição de 2022 consolidou a aproximação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lideranças progressistas que fizeram oposição ao petista quando ele era o titular do Palácio do Planalto. Partidos como PSOL, Rede, PCO e PSTU, que adotaram no passado o mote da "oposição à esquerda", hoje se mobilizam para que o ex-presidente supere Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições presidenciais.
PSOL e Rede, que formam uma federação, são integrantes formais da coligação de Lula. Os dois partidos também apoiam ou apoiaram candidatos do PT aos governos de estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará. Outros partidos e lideranças de esquerda lançaram candidaturas próprias no primeiro turno, mas no segundo estão com Lula. Um exemplo é o PDT de Ciro Gomes, cujo presidente, Carlos Lupi, tem participado de eventos de campanha do PT.
O apoio a Lula é justificado principalmente pela abordagem de que Bolsonaro representaria um "mal maior". "Voto no candidato PT [sic] em 30/10/2022 para vetar um outro candidato muito mais danoso para a democracia no Brasil", publicou em seu perfil no Twitter o ex-deputado Eduardo Jorge (SP), que foi candidato a presidente em 2014 e, em 2018, concorreu como vice na chapa de Marina Silva (Rede). No segundo turno da última eleição presidencial, disputado entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), Jorge declarou o voto nulo. Marina, que foi eleita deputada federal por São Paulo, está engajada na campanha de Lula.
Na mesma linha, a presidenciável do PSTU em 2018 e 2022, Vera Lúcia, afirmou que o partido deseja a derrota de Bolsonaro porque "ele reivindica a ditadura militar, defende um projeto autoritário e ameaça as liberdades democráticas. Seguir no controle do aparelho de Estado facilita seu projeto autoritário". Ela alega que o posicionamento do PSTU é de "voto crítico" em Lula. "Derrotando Bolsonaro e elegendo Lula, não devemos depositar confiança no governo, e sim fazer avançar a luta e a organização independente da classe trabalhadora para, por meio da mobilização, exigir emprego, salário, terra, moradia e direitos", acrescentou. O PSTU foi fundado na década de 1990 por dissidentes do PT, que deixaram o partido por divergirem de alianças e práticas que consideravam conservadoras.
A ex-senadora Heloísa Helena é outra figura que passou de adversária a eleitora de Lula neste segundo turno. Atualmente presidente nacional da Rede, a ex-parlamentar é uma das signatárias da nota oficial do partido que pede o voto em Lula: "é fundamental fortalecer e expandir a ampla Frente Democrática, Política e Social que está se formando e que é representada pela candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja vitória eleitoral significará também a vitória da democracia e a derrota do fascismo".
Heloísa foi uma das fundadoras do PSOL, que criou em conjunto com outros parlamentares que pertenciam ao PT e contestavam medidas tomadas no início do primeiro mandato do ex-presidente Lula. A ex-senadora foi candidata a presidente em 2006 e teve o ex-presidente, reeleito na ocasião, como seu principal adversário. No segundo turno daquela eleição e na de 2010, quando lançou Plínio de Arruda Sampaio, o PSOL optou pela neutralidade.
Hoje, para além da coligação formal, o PSOL tem lideranças que estão na linha de frente pela campanha de Lula. O deputado federal eleito Guilherme Boulos (SP) tem percorrido o Brasil em atos pró-Lula, e também é uma espécie de porta-voz da candidatura petista na imprensa. E o presidente do partido, Juliano Medeiros, foi candidato a primeiro suplente na chapa de Márcio França (PSB), derrotado na tentativa de se eleger senador. Medeiros também tem participado de atos públicos da campanha petista.
Lava Jato e impeachment de Dilma marcaram guinada
As divergências entre Lula e o PT e as demais agremiações de esquerda começaram a arrefecer no início da década passada, ao longo dos mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Como resposta ao crescimento de uma bancada declaradamente conservadora no Congresso, que tinha o então deputado Bolsonaro como seu maior expoente, os partidos de esquerda passaram a deixar de lado as suas divergências e atuaram de forma conjunta em muitas ocasiões.
Dois episódios foram decisivos para a reaproximação entre os grupos: a operação Lava Jato e o impeachment de Dilma. Em relação à investigação anti-corrupção, os partidos de esquerda endossaram a narrativa do PT de que houve uma perseguição por parte do então juiz Sergio Moro e da força-tarefa de Curitiba. A abordagem se deu desde antes da divulgação dos supostos áudios entre Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol, que motivaram a derrubada das condenações do ex-presidente Lula.
O PSOL teve também engajamento incisivo durante o processo de impeachment de Dilma. Todos os deputados do partido votaram contra o afastamento e alguns de seus membros fizeram manifestações que marcaram a sessão de votação contra Dilma na Câmara.
Durante a gestão Bolsonaro, os partidos de esquerda marcharam juntos no Congresso em causas como o combate à reforma da previdência e críticas ao modo como o presidente conduziu o enfrentamento à pandemia de coronavírus.
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